Monterey — Califórnia — 00:45
Point Of View — Maia Carttini.
Passei em frente ao quarto de Ashley e ouço alguns soluços de choro. Eu não era tão próxima à ela, mas, acho que por ser tão jovem e não saber direito explicar o que sente, seria legal se ela pudesse ter uma amiga também dentro de casa. Não que o Justin não faça o seu papel de pai, mas, uma visão feminina faz toda a diferença.
— Olá? — Termino de abrir a porta que já estava escorada. — Posso entrar? — Pergunto.
Ela se levanta e se senta na cama rapidamente, secando as lágrimas e forçando um sorriso. Ela era durona como uma Bieber, não nega o sangue e de quem é filha.
Entro no quarto e fecho a porta para que fiquemos à vontade. Sento-me ao lado dela e a mesma me encara como se me dissesse apenas com um olhar de que estava tudo bem.
— Porque está chorando? O seu pai brigou com você? — Pergunto meio sem jeito, sem saber direito como se inicia uma conversa séria com uma pré adolescente.
— Não... — Ela fica cabisbaixa e engole seco, e logo em seguida olha para o teto, impedindo sua lágrima de cair de qualquer jeito. — Eu estou assim porque a minha mãe voltou, como você mesma ouviu.
— É... — Conserto minha postura. — Não era isso que você queria?
E então ela me olha sem vida, e se mantém por silêncio por longos segundos, me dando a entender que ela estava pensando. Nem ela mesma sabia a resposta.
— Eu não sei. — Ela nega com a cabeça. — Era pra eu falar sobre isso com uma melhor amiga e não com colegas de escola, mas... Eu não tenho uma melhor amiga, então... — Ela não diz mais nada e me encara, e então entendo que ela queria desabafar ali e agora.
— Quer conversar? Eu estou aqui para isso, se quiser que eu seja sua melhor amiga eu posso me inscrever nessa vaga. — Digo divertida e ela dá um fraco sorriso.
— Minha mãe nos abandonou quando eu era recém-nascida. — Ela respira fundo. — Ela deixou apenas uma carta, e sumiu no mundo, sem nem olhar pra trás e vê o que estava deixando, entende? Eu era bem pequena, então eu não entendia e nem sabia se eu tinha uma mãe porque eu não tinha noção da realidade. Mas conforme eu fui crescendo, fui notando que todas as crianças tinham pai e mãe e eu só tinha meu pai, e eu o questionava por isso. Ele sempre dizia "Eu sou seu pai e sua mãe" mas aí eu me perguntava: Como eu nasci de dentro de um homem? Como alguém é pai e mãe ao mesmo tempo? Ele sempre inventava histórias da carochinha pra eu entender e não ficar traumatizada, mas, não teve jeito. Essas histórias começou a parar de fazer sentido pra mim lá pelos meus oito anos, eu estava crescendo, tava ficando esperta. E eu sempre perguntava o meu pai sobre ela, quem era, se ela estava bem, e ele não se sentia confortável pra conversar sobre ela, e ainda não sente. Faz pouco tempo que eu vi uma foto dela, porque eu roubei fingindo que era pra um trabalho da escola, porque eu pensei "se eu falar que é um trabalho valendo ponto, ele não vai recusar" pois mesmo assim recusou e eu peguei escondido.
Nisso eu já estava segurando o choro, fingindo que estava forte o tempo todo para não interferir em suas emoções.
— Há um ano atrás o meu pai tomou coragem de me contar a realidade por trás desse anonimato dela. Minha mãe era uma mulher muito perigosa, não sei se ainda é. Mas... O meu pai por incrível que pareça era o bobão da relação. E depois que ela se foi, ele tomou a frente dos "negócios" — Faz aspas com a mão. — Que é o tráfico de pessoas, aquela coisa podre que eu tenho nojo que ele faça parte. Porém antes era minha mãe a dona de tudo. O meu pai revoltou um certo período da vida dele e acabou vendo isso como uma forma de descontar em alguém suas frustrações. Não que hoje ele ainda se importe ou goste dela, mas hoje em dia ele já faz isso por prazer, dinheiro, seja lá o que for essa força maior. Mas não sei, tanto tempo se passou, foram anos me questionando e querendo ela por perto, mesmo sabendo que ela quem me deixou aqui... Que agora eu não sei mais se é isso o que eu quero, sabe? Me encontrar com ela, eu acho que não seria uma experiência legal pra mim, porque... Ela não se importa. O meu pai falou com ela hoje no telefone, ele acabou de me contar, e ele disse que ela nem sequer perguntou sobre mim, e quando ele tocou no meu nome ela trocou de assunto.
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Ruin above causes
AcciónJustin Bieber é um dos homens mais respeitados da Califórnia, com seu "coração enorme" e suas causas nobres. Ele se esconde atrás de suas diversas máscaras, enganando não só todos à sua volta como à ele mesmo. Atrás do grande homem bondoso que a soc...