As Sete Pecadoras e o Deus do Mar

Capítulo 39 - Helena

Já havia se passado duas noites desde a discussão no mastro, consequentemente desde que salvamos os três semideuses. Tinha acabado de comer quando resolvi subir até a cabine de comando, onde logo na entrada, no alvo de atirar facas, estava uma faca diferente.

Helena: quando você jogou isso aqui?
Kaayra: agora a pouco, antes de você vir.

A faca tinha a lâmina completamente retorcida e era vermelha como se o fogo tivesse sido preso dentro dela e ela mesmo tinha o formato de uma chama, como se a faca toda fosse uma tocha. O cabo era um dragão, o pescoço dele no caso, levemente retorcido como se estivesse rugindo ou cospindo fogo e ali, na boca dele, havia aquela pedra de rubi incandescente. A junção do cabo e da lâmina era as asas do dragão, um pouco menor para não ficar tão feio, provavelmente.

Helena: é possível um rubi parecer fogo?
Kaayra: esse aí é um rubi de fogo então... Sim?
Helena: por que isso não parece animador? E quando foi que você limpou a lâmina dela?
Kaayra: limpei ontem de tarde, hora que você estava dormindo. E não sei porque não parece animador... Eu gosto dessa faca.

Helena: então por que jogou ela aqui?
Kaayra: ela é muito bonita para ficar escondida. Eu faria o mesmo com a que você me deu, mas o par dela está em algum lugar na Europa
Helena: você... Emprestou uma faca sua?
Kaayra: *sorrio* curiosamente as facas que me deu são encantadas... Então são ótimas para ajudar minhas irmãs
Helena: justo.

Notei que ela estava ansiosa demais, olhando de mim para o céu a sua frente. Segurei a risada que quase dei e Kay ficou meio emburrada.

Helena: pode ir voar, deixa  que eu assumo o leme por um tempo.
Kaayra: mesmo? *sorrio hesitante*
Helena: vai em frente

O sorriso de animação dela foi o maior que eu já vi ela dar. Kaayra nem mesmo esperou eu me aproximar dela, se afastou correndo do leme e saiu correndo dali, corri, gargalhando, para o leme antes que um desastre ocorresse. Quando olhei para frente, Kaayra já estava voando. A prova disso? Ouvi o grito de animação dela ao voar.

Kaayra ficou voando o tempo inteiro por sabe se lá quantas horas, mas eu sabia que ela não voltaria tão cedo. Na verdade ela provavelmente iria demorar muito mais tempo ainda, mas tava tudo bem, Kay devia estar voando para tentar relaxar. Após um tempo sozinha, Jafari apareceu, ficando assustado com a faca por um breve momento.

Jafari: cadê a Kay? Eu... Senti a ansiedade e o medo dela sendo substituídos por alegria... Fiquei preocupado por ter sentido a ansiedade dela...
Helena: ela tá voando sozinha, não sei onde

Jafari: você a perdeu de vista ou...?
Helena: ela gosta de privacidade para voar... Pelo menos nessas situações
Jafari: ela tá mal né?
Helena: bastante. E vai ser pior... quando Cas e Lau descobrirem
Jafari: gosto disso nela... Como se preocupa com a gente e com as irmãs adotivas... Acho fofo isso

Helena: eu também gosto, mas ela acaba se sobrecarregando e se ferindo. Mas acho que crê que está fazendo o certo. Somos a família dela então... é, nós protegemos a família
Jafari: você falando coisas bonitas assim?
Helena: *dou de ombros* aprendi no último ano que passou que isso as vezes é preciso.
Jafari: compreensível

Ficamos em silêncio um tempo, Jafari tirou a faca do alvo e ficou observando-a. Um tempo depois, ouvimos Kaayra passando em um rasante pela água e gritando de alegria, subindo em seguida fazendo com que o oceano se tornasse um gêiser ali. Confesso que aquilo foi bonito. Ouvi Jafari, um pouco mais perto de mim, soltando um suspiro apaixonado.