Capítulo Seis

1.1K 196 102
                                    

Matias Fonseca

Encontro com Uriel na hora do intervalo e nos afastamos dos outros para poder ligar para Dylan na clínica. Faz alguns dias desde que o visitei pela última vez e sinto que devo ir vê-lo novamente, sinto falta de estar junto dele. Eu sinto falta de tudo como era antes, na verdade, mas sei que não posso mais voltar atrás. Não há conserto para o passado, mas posso pelo menos tentar mudar o futuro, mesmo que isso seja difícil na minha visão. Às vezes eu só queria fechar meus olhos, os abrir novamente e perceber que tudo foi um pesadelo muito ruim. Queria ter uma mãe de verdade, um pai que apenas me amasse como antes, meus amigos unidos e Dylan bem. Queria não me sentir ansioso para cada passo que dou. Queria não me sentir tão angustiado a todo momento e perceber que joguei minha vida no fundo do poço ao fazer escolhas tão erradas.

- Aqui está bom? - O questionamento de Uriel me chama a atenção e volto meus olhos para ele, o vendo apontar a grama perto da sombra de uma árvore.

- Está ótimo - respondo e me sento, vendo ele imitar meu gesto.

Uriel sorri e pega o celular do bolso, ligando para à clinica logo em seguida. Ouço ele conversando com algum dos responsáveis e minutos depois a chamada é colocada em viva-voz.

- Ei, já estava me sentindo abandonado. - A voz de Dylan se faz presente e eu solto uma risada com a fala do meu amigo.

- Está carente, não? - Sou rápido em dizer, com humor na voz.

- Um garoto pode exigir a presença do namorado, não é? - Ele retruca.

- Você está muito dramático, bebê. Não sei com quem está aprendendo ser assim - Uriel diz e olho para ele com uma sobrancelha arqueada.

Sério que ele não sabe? Uriel é a pessoa mais dramática que eu conheço e não estou exagerando. Dylan deve estar pegando isso do namorado com a convivência e não sei se isso é bom. Um dramático já é mais do que suficiente em minha vida.

- Nem te conto quem me ensinou a ser assim, almofadinha - Dylan responde e reviro meus olhos. Começou a melosidade de casal feliz.

- Ei, não vou ficar segurando vela - aviso e Uriel me mostra língua.

- Está segurando porque quer, se aceitasse meu irmão, não estaria sozinho e com recalque - Uriel diz e abro a boca, chocado com sua ousadia.

- E quem disse que quero seu irmão? Estou bem sozinho, obrigado! - respondo, ultrajado.

- Me poupe, Matias... até eu já percebi que você também gosta do Ícaro. Ainda não sei porque se faz de difícil. O cara tá tão na sua. - E é a vez de Dylan se meter na conversa, me fazendo o odiar por breves segundos.

- De onde tirou isso? Vocês nem sabem se sou gay - falo na defensiva e ouço Uriel gargalhar.

- Amigo, eu reconheço alguém do vale... não precisa se esconder. - Ele diz e eu bufo, me levantando em seguida.

- Se vão ficar me zoando, estou indo embora - aviso, me sentindo um pouco irritado com a conversa.

Eu odeio quando citam Ícaro na conversa. Odeio qualquer coisa relacionada a ele, porque sim... eu gosto dele. Mas não é como se eu pudesse levar isso adiante, não é como se eu pudesse abrir um lindo sorriso e dizer, sim eu sou gay. Não é como se eu pudesse assumir um namoro com um outro garoto, porque eu sei que a partir do momento em que eu fizer isso, eu estarei assinando uma sentença ainda maior em minha vida. Porque esse é o motivo pelo qual meu pai me odeia, mesmo que não tenha dito com todas as palavras.

E isso me irrita tanto, porque não é como se eu tivesse controle da minha própria vida. Não é um conto de fadas e eu não sou livre para amar quem eu quero. Eu não sou livre para absolutamente nada e isso me deixa tão angustiado. Eu me sinto preso em uma gaiola, como um pássaro que só almeja que a porta seja aberta e ele possa voar para longe... muito longe.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora