Bônus Quatro - Murilo & Sandro

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Murilo Fonseca

O silêncio no quarto de hospital onde estamos é ensurdecedor, mas não faço a mínima menção de quebrá-lo. As palavras de Sandro se misturam as que foram ditas por Matias e se transformam em um eco em minha cabeça. E a culpa que eu já sentia antes se torna mais presente. Minha cabeça parece que vai explodir e as pontadas em minha tempora são um aviso. Fecho meus olhos, tentando deixar minha mente em branco ou pelo menos mais branda em meio ao turbilhão de pensamentos que me rondam, mas é uma missão impossível. As cenas de horas atrás se repetem sem parar e vejo meu filho desmaiado em meus braços. E como trilha sonora a voz do médico me lembra que ele tem um problema grave e eu sei que sou a causa de tudo isso.

Eu sei que sou um péssimo pai e gostaria muito de voltar no tempo e mudar isso. Gostaria de voltar há anos atrás... quando tudo começou. Seria tão mais fácil se as coisas tivessem acontecido de uma forma diferente. Eu não seria o monstro que sou hoje, destruindo a vida do próprio filho como ele fez comigo.

Fecho minhas mãos com força e abaixo minha cabeça. Sinto minhas unhas perfurar minha pele e um pequeno ardor se faz presente, mas não é incômodo, me faz voltar a respirar normalmente. Volto a abrir meus olhos no mesmo momento que meu celular vibra em meu bolso, indicando uma ligação. Passo minhas palmas abertas em minha calça e pego o aparelho celular, me levantando da poltrona e indo até perto da porta.

- Delegado Fonseca.

- Senhor, desculpa incomodar novamente, mas precisamos da sua presença com urgência aqui na delegacia. É sobre o Ares. - A voz do outro lado da linha é séria e isso me deixa em alerta. Na verdade, tudo ligado a esse traficante me deixa mais atento.

- O que houve? - pergunto, sabendo que tem algo errado.

- Ares mencionou o seu filho no interrogatório preliminar e está exigindo falar com o senhor.

- Filho da puta!

Sinto minha cabeça doer ainda mais e fecho meus olhos, soltando um suspiro pesado.

- Tudo bem, estou indo. Já está tudo certo para a transferência dele?

- Sim, ocorrerá amanhã de manhã.

- Ok! - falo apenas e encerro a ligação.

Guardo meu celular novamente no bolso da calça e me viro, vendo Sandro me olhar com atenção. Ele está sentado na beirada da cama de Matias e em nenhum momento soltou a mão do meu filho. Uma atitude que deveria ser minha e não de um estranho. Porém, essa cena me causa uma sensação diferente no peito. É diferente ver alguém que foi tão importante para mim cuidando da pessoa que nesse momento é tudo que eu tenho.

- Aconteceu algo? - Ele pergunta com cautela, me olhando de forma neutra.

- Preciso ir para a delegacia - falo e solto mais um suspiro pesado. - Sei que não tem obrigação alguma, mas poderia ficar com Matias até Cida chegar? Vou pedir para ela vir ficar com ele.

- Eu não me importo de ficar, Murilo. Matias é importante para mim, então tudo bem. Espero que resolva tudo e volte depressa, ele precisa de você. Precisam ter uma conversa de verdade, não acha? - Ele diz e seus olhos se fixam nos meus com intensidade, o que me faz desviar o olhar.

- Qualquer coisa me ligue, Cida chega em breve - falo por fim e saio do quarto após dar uma última olhada para Matias, que ainda dorme com a ajuda dos sedativos.

Fecho a porta atrás de mim e levo uma das minhas mãos ao meu peito, sentindo meu coração batendo de forma acelerada. Respiro fundo e faço questão de recuperar meu controle, pois preciso dele com força total agora. Caminho pelos corredores do hospital, pensando o que Ares está aprontando agora. Ele citar Matias não é à toa. Enquanto sigo até o estacionamento, vejo de longe dois amigos de Matias e me lembro que são os dois garotos do vídeo... Dylan e Uriel. Eles não me veem e dou graças por isso, não preciso de mais questionamentos agora.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora