Capítulo Vinte e Dois

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Ícaro Miranda

Sinto os raios solares baterem diretamente em meu rosto e pisco algumas vezes, me acostumando com a claridade extrema. O vento sopra ao meu redor, balançando a copa das árvores, fazendo algumas folhas caírem no chão. Os pássaros cantam ao meu redor e esse é nosso único som. A mão de Matias está em meus cabelos, fazendo um carinho suave e muito apreciado por mim. Estou deitado em suas pernas, enquanto ele tem suas costas apoiadas no caule da árvore gigante.

- Nem acredito que finalmente estamos tendo esse tempo nosso. - Meu namorado diz e desvio meus olhos para o olhar.

A luz solar ilumina seu rosto, que tem um sorriso lindo desenhado. Sinto meu coração errar uma batida e me pergunto quantas vezes ainda nessa vida irei me apaixonar por esse garoto?

- Eu disse para você - falo, convencido e ele ri, focando seus olhos em mim.

- Sim, você disse - Matias concorda e se inclina, deixando um selinho em meus lábios.

O sorriso quase rasga meu rosto, por tanta felicidade. Finalmente estamos bem e sem o peso de ter que nos esconder do seu pai.

- É bom sentir felicidade - Matias diz e de repente seu sorriso se desfaz.

Não entendo sua atitude, principalmente quando seu rosto vai se tornando triste. E como se seguisse seu humor, o céu acima de nós fica escuro e pesado em segundos, deixando um clima sombrio ao nosso redor. Abro minha boca para dizer algo, mas minha voz não sai e aos poucos vou sendo puxado para longe. A última coisa que vejo é Matias me olhando em pânico e sua boca grita "socorro" em silêncio.

[...]

Abro meus olhos devagar e o teto branco do quarto hospitalar se faz presente. Por um momento eu não consigo fazer e nem pensar em nada que seja o teto, até que aos poucos minhas lembranças vão retornando e sinto a angústia tomar conta de mim novamente. Eu sinto meu coração se acelerar como antes e minha cabeça dói, assim como meu peito, mas o resto do meu corpo está lento e isso se deve aos sedativos que devem ter me dado quando surtei.

Ainda me lembro da sensação de não poder respirar e um arrepio perpassa minha pele, me fazendo fechar os olhos por um momento. O medo e preocupação voltam a se fazer presente e a imagem de Matias se fixa em minha mente. Eu só consigo me lembrar dele em meus braços, me abraçando como se eu fosse seu porto seguro. Sinto lágrimas brotarem dos meus olhos e não as impeço de cair por meu rosto. E os soluços logo as acompanham também.

Eu daria tudo para estar fora dessa cama, para ter uma saúde estável e poder ajudar meu namorado, mas eu não posso. Eu sou defeituoso e não posso cuidar dele.

- Filho! - ouço a voz do meu pai e no segundo seguinte sinto suas mãos em meu rosto, tentando enxugar minhas lágrimas. - Fica calmo, por favor.

Eu queria poder atender seu pedido, mas infelizmente eu não posso e nem consigo. É o garoto que eu amo, é o Matias que está nas mãos de bandidos e eu nem sei se vou sair daqui vivo para vê-lo.

- Eu quero ele, pai. Não deixa nada acontecer, por favor - falo em meio o choro, sentindo um pouco de falta de ar.

- Ei, tudo bem. Matias vai ficar bem e você também. - Ele diz e sinto seus braços ao meu redor.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora