Capítulo Dezessete

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Matias Fonseca

Sinto o suor escorrer por meu rosto, graças ao sol escaldante do Rio. Estou nesse momento jogando futebol com as crianças do orfanato e me sinto um senhor de setenta anos, já que não tenho mais fôlego. Acho que isso se deve ao fato de que faz semanas que estou afastado do time do colégio. E eu não pensei que isso me faria tanta falta como faz hoje. Eu gosto de poucas coisas e uma delas é futebol. Aprendi a amar esse esporte ainda criança, quando meu pai me ensinava a chutar bolas pelo quintal. Por um lado eu comecei a gostar de tudo isso por causa dele, para o dar orgulho. E era tão bom quando ele me apoiava nos jogos.

Era bom quando eu o tinha ao meu lado.

Solto um suspiro e volto a prestar atenção nas crianças jogando, mas faço isso um pouco tarde, pois uma bola certeira me atinge no estômago e perco o fôlego, caindo não chão de joelhos. Caralho! Fazia tempo que eu não sentia essa dor e não estava com saudades dela.

- Tio Má, tudo bem? - Diego pergunta, preocupado, correndo até mim.

- Tudo bem... só vou ficar sentado um tempo - respondo, recuperando a capacidade de respirar normalmente.

- Desculpa, tio, foi sem querer - Andressa responde, estando quase prestes a chorar.

- Tudo bem, princesa... pensa pelo lado bom, o seu chute foi forte e certeiro - falo, tentando fazer graça.

Ela sorri, ainda não muito convencida, e minutos depois eles me ajudam a levantar. Deixo eles jogando sozinhos e me sento em um dos bancos do pátio. O sol vai ficando mais fraco conforme o tempo passa e nesse meio tempo troco algumas mensagens com Ícaro, que combinou de vir me buscar. Mesmo tendo Leandro me esperando do lado de fora, eu não me sinto à vontade para estar em um carro junto com ele. Não tenho nada contra, até porque ele está garantindo minha segurança e é muito profissional, mas não é uma situação que me agrade.

- Tudo bem? As crianças me contaram que houve um pequeno acidente - ouço a voz conhecida e vejo Sandro se sentando ao meu lado no banco. Há um sorriso pequeno em seu rosto e ele me olha, procurando algo.

Eu só conheço Sandro de verdade há algumas poucas semanas e já me sinto muito à vontade com ele. Às vezes ele me passa aquilo que eu queria sentir com o meu pai... segurança. Já se tornou um hábito ele conversar, nem que seja um pouco, comigo todos os dias. Ele me pergunta como estou, se houve alguma coisa em casa. E isso me faz perceber que ele se preocupa comigo de verdade, não é apenas por causa do trabalho voluntário.

- Sim, já estou melhor. Eu estava distraído, me desacostumei a estar no campo - falo, com um riso.

- Você sente falta de jogar pelo time? - Ele pergunta e desvio meus olhos dos seus, pois não gosto de encarar as pessoas por muito tempo. É tão estranho e me faz travar.

- Muito, mas sei que mereço estar afastado - respondo, soltando um suspiro, não tendo mais um sorriso em meu rosto.

- Eu fico feliz em ver que você reconhece seus erros, Matias, mas também me frustra a forma como você aceita que tudo de ruim merece acontecer com você. E não falo apenas por isso, mas por tudo... venho reparado nisso desde que te conheci - Sandro diz com calma, e suas palavras me atingem um pouquinho, pois são verdadeiras.

- Mas é isso que eu mereço mesmo, sempre faço tudo errado - falo, após alguns segundos de silêncio.

- Não, não é! Você ainda é jovem e merece as melhores coisas para sua vida, como o seu namoro com Ícaro. Merece o apoio que seus amigos te dão, merece ser amado por cada uma dessas pessoas... merece que seu pai volte a ser o que você precisa. Errar é totalmente humano, Matias, e vamos fazer isso muitas vezes ao longo da vida. Eu mesmo já errei tantas vezes... acha que mereço ser punido por isso? Ou eu devo aprender com o meu erro e ser alguém melhor? - Ele questiona e isso me deixa sem fala, pois não sei o que responder.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora