Capítulo Treze

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Matias Fonseca

Bato a porta do quarto com força, me sentindo em uma mistura intensa de sentimentos. A adrenalina ainda corre por minhas veias, mas aos poucos o medo vai se fazendo presente e caio de joelhos no chão. Tudo o que eu menos queria que meu pai soubesse eu acabei de confessar com minha própria boca. Porra! O que eu fiz?

Sinto mais lágrimas nascerem em meus olhos e não demora para elas molharem minhas bochechas. Ao mesmo tempo em que foi bom colocar tudo para fora, eu também sinto medo do que venha pela frente e ainda dói ter apenas a distância de quem eu mais preciso nesse momento. Por que as pessoas que deveriam cuidar de mim não se importam comigo?

Isso dói tanto! Mesmo tendo outras pessoas ao meu redor, mesmo tendo amigos, alguém que gosta de mim, eu ainda me sinto sozinho, me sinto vazio de alguma forma. Eu posso até sorrir e estar feliz por um momento, mas não é algo pleno e que dure. Nunca dura.

Pego meu celular no bolso da calça jeans e procuro pelo contato da minha mãe. Penso por alguns segundos, até ter coragem de clicar em seu nome e iniciar uma ligação. A cada toque meu coração bate mais forte em meu peito e sinto como se ele fosse sair por minha boca. A ansiedade bate mais forte quando eu percebo que a ligação vai cair na caixa-postal e meu coração se afunda quando percebo que sou ignorado... mais uma vez.

Deixo o aparelho cair da minha mão e me deito no chão frio do quarto, me sentindo a pior pessoa do mundo. Em que mundo a própria mãe rejeita o filho dessa forma? É como se eu fosse descartável para ela. Na verdade, é como se eu fosse descartável para todo o mundo. É como não ter serventia de nada. E eu me pergunto... por que estou aqui? Não há um propósito.

E dói, dói muito perceber tudo isso.

Fecho meus olhos e respiro fundo, ainda sentindo as lágrimas fluindo. Quando eu vou ter o poder de viver minha vida por mim mesmo? Sem precisar depender dos sentimentos dos outros sobre mim? Eu realmente queria não depender tanto assim de quem não se importa comigo, mas eu não consigo.

Lá no fundo, nos meus desejos mais profundos, existe um garoto que sonha em ter sua família perfeita de volta. Aquela em que pelo menos o seu pai o amava de todo coração, que se importava com cada passo e lhe dizia palavras de amor e carinho. Eu queria ter aquele cara de volta. Aquele que sempre me encorajava a continuar, enxugava minhas lágrimas e me abraçava para que tudo de ruim passasse.

Porém, é só mais um desejo idiota que nunca se tornará realidade. O que eu vivo hoje é prova disso. Ainda posso sentir minha bochecha ardendo onde ele me bateu mais cedo.

Solto uma risada sem humor, pois isso não é nada fora do normal.

Ouço meu celular tocar e por um momento eu penso que seja minha mãe, retornando a ligação perdida, mas ao olhar para a tela eu vejo que mais uma vez criei expectativas em vão. Solto um suspiro e mesmo assim sorrio, pois há o nome de Ícaro escrito na tela e meu coração se alegra, mesmo que seja um pouco.

- Já com saudades? - atendo sua ligação, brincando para disfarçar minha voz de choro.

- Ei, o que houve? - Sua pergunta me faz ter certeza de que ele notou o que eu queria evitar.

- O mesmo de sempre - respondo em um suspiro e me levanto do chão, seguindo até minha cama, me deitando no colchão macio.

- O que ele te fez? - Ícaro questiona e posso notar a raiva em sua voz.

- Nada demais, relaxa... eu que provoquei - desconverso.

- Matias, você não deve aceitar tudo porque ele é seu pai. Tudo isso é um absurdo, eu queria apenas denunciar seu pai e te tirar desse inferno. - Ele diz e sorrio brevemente.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora