Bônus Sete - Murilo & Sandro

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Sandro Bernardi

Ver Matias com um sorriso no rosto é muito satisfatório para mim e me traz uma sensação de dever cumprido. Acompanhar o quanto ele está sensível depois de tudo o que houve não é nada fácil, tenho vontade de abraça-lo a cada momento e dizer que vai ficar tudo bem, mas as vezes tenho medo de estar invadindo seu espaço. Esse é o problema de se apegar a alguém. Matias não pediu, mas já tem um espaço enorme em meu coração. E minha maior vontade é vê-lo bem junto com Murilo.

E por em seu pai, eu nem sei como fui forte o suficiente para aguentar toda essa situação. Em um momento ele estava me pedindo perdão, estávamos nos beijando e ele disse que gostaria muito de conversar comigo e esclarecer as coisas. E no outro momento eu recebo a notícia de que ele estava entre a vida e a morte a caminho de um hospital. Eu realmente não sei como me mantive firme e ainda pude dar apoio a Matias. A sensação que me tomava era de desespero, pois eu não queria o perder mais uma vez. Só que dessa vez seria para sempre e isso eu não co seguiria suportar.

Eu posso ter tido outros relacionamentos ao longo dos anos, mas sendo sincero comigo mesmo... devo admitir que Murilo sempre esteve em meu coração e nunca perdeu o posto de amor da minha vida, mesmo depois de toda a mágoa que me causou. Fazer o que se não mandamos em nosso coração? Somos reféns do sentimento que ao mesmo tempo nos faz sentir vivos e também destruídos.

Solto um suspiro e deixo meu livro de lado ao ouvir o apito da chaleira. O cheiro de chá invade a cozinha e me apresso em pegar uma xícara e me servir com o líquido fumegante. Volto a me sentar em uma das banquetas ao redor do balcão e abro meu livro de onde parei.

Escuto passos de alguém entrando no cômodo e levanto meu rosto, vendo Camilo. Bebo um gole de chá e o observo se aproximar, um pouco sem jeito.

- Precisa de algo? - pergunto com um sorriso pequeno.

- Matias disse que talvez eu encontrasse alguns potes de sorvete na geladeira. - Ele diz e seus olhos se desviam até o eletrodoméstico.

- Ah, fique à vontade - falo e volto a me concentrar no livro.

Camilo não diz mais nada e ouço ele seguir até a geladeira. Confesso que a situação é um pouco engraçada e até constrangedora, levando em conta o passado que já tivemos.

- Achei! Quer um pouco? Depois que eu subir não garanto que sobre nada. - Ele diz ao parar do meu lado e o olho, balançando a cabeça.

- Eu passo, prefiro chá durante a noite... costume de velho - brinco e ele abre um breve sorriso.

Camilo nada diz por um tempo e mantém seus olhos em mim, como se quisesse dizer algo. Ouço ele soltar um suspiro pesado e em seguida coloca os dois potes de sorvete no balcão. Suas mãos passam por seu cachos e percebo seu nervosismo.

- Eu queria te falar uma coisa. - Ele diz e abaixa o olhar, respirando fundo.

- Estou ouvindo - falo a ele, deixando meu livro de lado e prestando total atenção nele.

Observo Camilo apertando suas mãos e isso me traz uma pequena agonia. Detesto ver pessoas se maririzando por algo.

- Está tudo bem, Camilo - falo com calma e toco levemente suas mãos com a minha, sentindo um pouco de sua pele fria.

- Aí, Deus! Por que você é tão bom? - Ele diz frustrado e eu não entendo. - Você deveria me odiar.

Ok! Agora eu entendi.

- Por que eu deveria? Você não me fez nada - respondo ele, que me olha surpreso.

- Como não? Eu fui um idiota com você e Marcos. Ainda me odeio por aquela cena - Camilo diz e eu solto uma risada breve.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora