Capítulo Trinta e Dois

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Matias Fonseca

É como estar em um pesadelo e não conseguir acordar. Se essa cena fosse há meses atrás eu poderia me iludir e me envolver em seus braços rasos. Mas eu sei que ela não me ama. Sei que a mulher na minha frente nunca deu a mínima para mim. E nos momentos em que mais precisei de alguém ela fingia que eu não existia. Então por que ela está aqui agora? Por que ela está fingindo ser uma mãe que nunca foi? Por que está fingindo se importar comigo?

- O que é isso, Matias? Vai ignorar sua mãe? - Ela questiona e eu tenho que rir, pois é realmente engraçado.

Sinto meus olhos arderem e uma lágrima teimosa escapa, escorrendo por minha face.

- É engraçado você falar sobre ser ignorada quando fez isso durante toda a minha vida. Por que está aqui? - pergunto, mantendo o máximo de distância entre nós dois.

Meus olhos percorrem a sala e vejo meu pai e Sandro observando a cena. Sandro está apreensivo com toda a situação, já meu pai demonstra toda a raiva que sente pela mulher em sua frente.

- O que estou fazendo aqui? Não é óbvio? Vim te levar comigo, não era isso que queria? - Ela diz, agora não mais com o sorriso falso em seu rosto.

- E por que eu iria com você? - pergunto e me aproximo do meu pai.

- Porque era isso que sempre quis, em todas as mensagens que me enviou sempre me pedia para vir te buscar. Pronto, estou aqui. Não precisa mais conviver com isso. - Ela diz e faz um gesto de desdém para Sandro e meu pai que estão de mãos dadas.

Não consigo controlar e agora solto uma verdadeira risada e com ela vem acompanhada todas as lágrimas. É uma mistura de raiva, mágoa e abandono.

- Engraçado você falar dessas mensagens as quais nunca houve uma resposta. Lembro também das inúmeras ligações recusadas. E agora você aparece querendo me levar para não conviver com "isso"? - faço aspas com as mãos, que tremem levemente. - Eu sabia que havia algo de errado... você não veio porque me ama, veio porque descobriu que meu pai está feliz depois de tanto tempo.

- Feliz? Não sabia que viver em pecado era definição de felicidade - Lívia diz e reviro meus olhos.

- Já que você é tão temente a Deus, deveria saber que abandonar seu filho também é um pecado cruel. Como você acha que me senti em todos esses anos sendo deixado de lado por você? Eu era apenas uma obrigação, seu cachorrinho que você dava um petisco de vez em quando e ele se sentia feliz por migalhas. Você não fez o seu papel e agora quer vir infernizar a minha vida? Por favor, volte para sei lá onde e viva com sua família feliz, eu tenho a minha aqui - falo e aponto a ela a porta.

Sinto Sandro e meu pai colocando suas mãos em meus ombros, me dando apoio e me sinto melhor. Hoje eu sei que tenho com quem contar, não estou mais sozinho e não preciso mendigar amor de uma pessoa que nunca se importou comigo.

- Ele realmente fez sua cabeça - Lívia diz, olhando furiosamente para o meu pai.

- Você sabe que Matias só está falando a verdade. Você nunca se importou com ele e agora quer vir bagunça nossa vida?

- Eu não vou deixar meu filho ser criado por um pai gay! - Ela diz, descontrolada.

- Melhor que uma mãe que finge não saber da existência do filho. Acha mesmo que pode me tirar do meu pai? - pergunto e seus olhos furiosos se voltam para mim.

- Claro que posso, você ainda não tem dezoito anos. Qualquer juiz saberá que essa casa não te trará boas influências.

- Ah, esse é o seu medo? Que eu seja gay também? - questiono e ela abre a boca para responder, mas a calo. - Não se preocupe, mamãe, eu já nasci gay... você fez um ótimo trabalho.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora