Sandro Bernardi
No segundo em que vi um enfermeiro levando Matias para realizar alguns exames, eu não imaginava as terríveis consequências que esse ato traria. O quarto hospitalar que antes era silencioso, agora está lotado de policiais, médicos e enfermeiros que dão seus depoimentos, todos um pouco perdidos ainda tentando entender o que aconteceu. Em um momento eu estava quase pegando no sono e no outro recebo uma ligação de Murilo. Eu mal terminei de responder o que ele queria e a ligação foi encerrada. E meu choque maior foi o quarto de Matias ser invadido por um verdadeiro batalhão da polícia. Minha cabeça está uma loucura e ainda não faz nenhum sentido para mim que Matias tenha sido sequestrado de dentro do hospital.
Sinto algumas pontadas de dor e abaixo minha cabeça, levando minhas mãos até meus cabelos, apertando os fios. A culpa começa a se fazer presente em meu peito e meus olhos se enchem de lágrimas. Ele estava sob a minha responsabilidade, Murilo havia confiado em mim. E o que eu fiz? Deixei que o levassem na primeira oportunidade.
As vozes misturadas pelo quarto me deixa ainda mais nervoso com a situação e nesse momento eu queria muito um pouco de silêncio. Ainda não sei o que aconteceu direito, apenas que Matias sumiu de dentro do hospital, que Leandro foi encontrado baleado no estacionamento subterrâneo e Murilo está transtornado em busca do filho.
- Senhor Bernardi? - ouço uma voz perto, me chamando, e minha vontade é me esconder. Mas ao invés disso eu limpo meus olhos e levanto meu rosto, vendo um policial em minha frente, tendo um bloco de notas em mãos.
Meus olhos piscam algumas vezes e os desvio brevemente para Murilo, que está ao lado do agente. Nós ainda não conversamos de verdade e tenho a impressão de que ele deve estar me odiando a partir de agora. Se já não gostava de mim antes, agora eu devo ser a pior pessoa do mundo.
- Sim? - Volto meus olhos para o policial e me ajeito melhor na poltrona.
- O senhor pode me descrever tudo o que houve após a saída do senhor Fonseca? - Ele questiona e sinto um leve frio em minha barriga, mas assinto com a cabeça.
- Assim que ele saiu, passou poucos minutos até Matias acordar. A primeira coisa que fiz foi chamar alguém, não imaginava que algo assim poderia acontecer.
- Ninguém imaginava - Murilo diz de repente e noto o quanto sua voz está raivosa.
- Consegue se lembrar da aparência do enfermeiro?
- Somente os olhos, são castanhos escuros, as sobrancelhas são grossas e tem uma cicatriz na esquerda. Ele estava uniformizado, usando máscara e touca, então não consigo me lembrar de nada mais marcante. Ele também não me olhou muito, apenas disse que precisava levar Matias, garantiu que Murilo sabia e se foi - relato, e me sinto um idiota por não ter pressentido nada errado.
- Ok! Sabe me dizer mais ou menos a sua altura?
- Ahn... talvez 1,80... ele era alto.
- Certeza de que não há mais nenhum detalhe que possa nos dizer? Mesmo antes ou depois que o enfermeiro levou Matias. - O policial questiona e minha cabeça dói ainda mais.
Eu nunca estive em um interrogatório e estar em um que é ligado ao desaparecimento de uma pessoa que eu gosto tanto me deixa sem foco. Eu realmente gostaria de ajudar mais, porém...
- Minutos antes de Matias acordar o celular dele não parava de tocar com ligações de alguém chamado Pietro. Eu não quis ser invasivo, por isso não atendi. Também não faço ideia de quem seja, pois ele nunca comentou comigo sobre essa pessoa - respondo ao me lembrar desse detalhe quase esquecido.
Talvez esse nome possa realmente ajudar em algo e eu espero muito que sim.
- Tudo bem, agradeço a colaboração. Se o senhor de mais alguma coisa, não hesite em nos procurar. - Ele diz e após um aceno sai de perto de mim.
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Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos
RomansaQual é o preço de ser livre? Tecnicamente deveríamos ser livres de graça, não? Mas, infelizmente, muitos vivem em prisões impostas pelos outros ou por si mesmos. E Matias é uma dessas pessoas, ele se encontra preso pela pessoa que mais ama e odeia...