Capítulo Vinte e Sete

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Ícaro Miranda

Eu sempre quis viver, mas nunca coloquei altas expectativas em minha vida ou destino. Para mim, estaria bom o que viesse, mas então tudo mudou. Eu me apaixonei e encontrei uma família, e desde então eu quis tanto sobreviver. Eu quis tanto me livrar dessa doença e tendo uma nova perspectiva. E eu consegui. Por incrível que pareça, contrariando todas as possibilidades, eu estou vivo e com muitos anos de vida pela frente.

Ok... por um momento eu achei que não fosse conseguir, principalmente quando Matias foi sequestrado. Naquele momento eu perdi minhas esperanças, mas a vida surpreende e ganhei forças de quem eu menos esperava. Murilo ainda não subiu em meu conceito e preciso de tempo para perdoá-lo, mas serei eternamente grato por ele ter ido ao meu encontro quando eu precisava.

- Precisa de ajuda? - A voz do meu pai se sobressai no carro, que observo ter estacionado na garagem de casa.

Pude ganhar alta do hospital hoje e confesso que nunca fiquei tão feliz por poder vir para casa. Há meses atrás eu não considerava esse lugar o meu lar, mas agora eu me sinto acolhido, pois sei que há pessoas que me amam me esperando atrás da porta.

- Não, tudo bem - respondo e ajeito a máscara hospitalar em meu rosto.

Sinto minha mão esquerda ser apertada e desvio meu olhar para Matias, que está sentado ao meu lado. Ele fez questão de estar comigo nesse momento e eu não poderia estar mais agradecido por ter o garoto que amo ao meu lado.

Sorrio para ele por de trás da máscara hospitalar e retribuo seu aperto, abrindo a porta do carro em seguida. Piso meus pés no chão e alongo um pouco meu corpo, firmando minhas pernas. Ainda não estou cem por cento, mas sei que isso é com o tempo. Eu me sinto um pouco fraco e sinto algumas dores no peito, mas sei que é normal e com todos os cuidados certos em breve estarei melhor do que antes.

- Queríamos fazer algo especial, mas sua dieta ainda é rígida - meu pai diz enquanto seguimos para dentro de casa e isso me faz rir.

- Pai, tudo bem... especial é ter vocês comigo depois de tudo - falo, sincero, e vejo seus olhos emocionados.

- Quem diria que você seria tão delicado, Icosto?

A voz inconfundível de Uriel se faz presente e reviro meus olhos, mas sorrio atrás da máscara.

- Sempre fui - respondo, me sentando no sofá em seguida.

- Claro, como um coice de cavalo. - Ele retruca com um sorriso e se aproxima de mim em seguida, me abraçando com cuidado. - Que bom que voltou para nós. - Ele sussurra e sinto meu coração acelerar levemente.

É gratificante e bom ter essa relação com Uriel. No início eu tinha muito ciúmes dele e um pouco de inveja por tudo o que ele teve e eu não. Mas com o tempo pude amadurecer e perceber que ele não possuía culpa de nada. Ele me acolheu como seu irmão mais velho e eu resolvi fazer o mesmo, o amando como meu caçula. E me atrevo a dizer que ele foi o primeiro com quem criei um vínculo familiar.

- É bom voltar, Ariel - respondo e bagunço seus cabelos, ouvindo ele bufar ao seu afastar.

Me ajeito melhor no sofá e puxo Matias para mais perto. Ele me olha com um pouco de vergonha por meu pai e Uriel estar perto de nós, mas não me importo. Então aproveito e me deito com a cabeça em seu colo, sorrindo ao ver seu rosto vermelho.

- E então, vai ser meu enfermeiro particular? - pergunto com graça e o vejo revirar os olhos.

- Acho que você já tem cuidados o suficiente para uma única pessoa. - Ele responde e eu solto um suspiro.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora