Bônus Seis - Murilo & Sandro

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Murilo Fonseca

Meus pés andam no automático pela sala de estar e meus olhos não param de fitar a porta de entrada. Desde que encontrei o garoto a minha espera, dizendo ter informações que podem ajudar a libertar Matias, eu fui extremamente rápido em ligar para o delegado que está responsável pelo caso e estou a sua espera nesse momento. Confesso que minha vontade é ouvir de uma vez o que esse rapaz tem a dizer, mas sei que não posso fazer nada sozinho, então me basta esperar.

- Posso só pedir uma coisa? - ouço a voz do garoto sentado no sofá, e isso me faz parar de andar pela sala.

Viro meu corpo, fitando o garoto que parece prestes a ter um ataque de nervos.

- Depende...

- Assim como Matias eu estive envolvido com coisas erradas, por isso sei de tudo. Eu sei que não mereço, mas se meus pais descobrirem isso vai ser demais, principalmente porque minha mãe está doente. - Ele diz e sua expressão é sincera, o que me faz ponderar a situação.

- Quem são seus pais? Tenho a impressão de já ter te visto antes - falo, o analisando por alguns momentos.

- Jéssica e Carlos Borges, nós moramos a duas ruas de sua casa. - Ele responde e meu cérebro trabalha para se lembrar desses nomes.

E não demora muito para que eu me lembre. Seus pais são advogados e já os vi algumas vezes. E isso me leva a questionar o que faz esses garotos se envolver com tráfico quando tem tudo em casa? Tanto Matias, quanto Pietro não precisavam dessa vida, mas fizeram as escolhas erradas que vão deixar uma marca eterna.

Solto um suspiro e aperto meus dedos em minha tempora, sentindo a dor de cabeça se fazer presente. Quando eu vou ter um momento de paz?

- Por quê? - pergunto, cansado, e ele entende o que quero dizer pois vejo um peso invisível em seus ombros.

- Eu sei que Matias e eu parecemos dois idiotas, mas... Eu sempre tive tudo que o dinheiro pode comprar, mas me faltava o mais importante que era a atenção dos meus pais. O trabalho sempre foi mais importante que o único filho, então quando eu tive a chance, pensei: por que não? Talvez assim eles prestariam atenção em mim, mesmo que da forma errada. Era como uma pirraça, enquanto eles estavam do lado da lei, eu estava do outro lado. Mas agora eu sei que não vale a pena e faço qualquer coisa para que eles não descubram sobre isso. Seria decepção demais para minha mãe e ela não está bem.

Suas palavras são ditas com calma e em voz baixa, é perceptível que ele está a ponto de chorar, mas engole todas as lágrimas. E ouvir sua explicação me traz um aperto no peito que eu não gostaria de sentir. Porque eu sei que assim como ele, Matias quis fazer o mesmo. E eu me sinto um lixo por não ter evitado tudo isso antes. Eu daria exatamente tudo que eu tenho para que eu pudesse voltar ao passado e fazer tudo diferente com meu filho.

Eu não sei o que responder ao garoto sentado em minha frente e sou grato por ouvir o interfone alertando sobre a chegada dos meus companheiros de trabalho. Sou rápido em autorizar a entrada de todos e espero ansioso pela entrada deles em casa, o que não demora muito a acontecer. Passo um breve resumo de quem é Pietro e que ele disse ter informações que podem ajudar no caso.

- O que sabe que pode nos ajudar? - Delegado Bruno Barone questiona, estando atento a Pietro.

- Eu estava pegando uma encomenda quando ouvi alguns caras falando sobre Matias. Eles e Ares acreditam que ele estava sendo um informante da polícia, por isso queriam se vingar, principalmente depois que o chefe foi preso. Não pude ouvir tudo, eles me mandaram ir embora antes, mas ficou claro que dariam um susto nele para atingir o pai dele. Se conferir o celular de Matias, vai ver que liguei várias vezes para tentar o alertar, mas foi muito tarde - Pietro conta e tenho que fechar minhas mãos com força para conter minha raiva.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora