Capítulo Vinte e Quatro

1K 186 125
                                    

Matias Fonseca

Tudo aconteceu tão rápido, que não tive tempo para processar, mas assim que meus pés tocaram o hospital e vi meu pai sendo levado, meu mundo desabou. As lembranças de meses atrás envolvendo Dylan ressurgiram com força e foi inevitável não me culpar. Meus olhos piscam algumas vezes e sinto minha garganta fechar. Minha visão está embaçada pelas lágrimas e o ar não entra em meus pulmões da maneira correta. Sinto minhas pernas bombas e meu corpo fica trêmulo. O cansaço dos últimos dias parece se acumular e minhas pernas cedem, me levando a cair de joelhos no chão frio. Escuto vozes ao meu redor, mas não consigo distinguir o que estão falando. Eu me sinto sufocado e prestes a desmaiar a qualquer segundo.

- Matias! - ouço a voz conhecida e levanto meu rosto, me sentindo aliviado em ver um amigo em dias.

Minha vontade é sorrir, mas não consigo e acabo cedendo a escuridão e extremo cansaço.

[...]

A sensação que tenho é de estar soterrado. Meu corpo inteiro dói, minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento e não sinto que posso respirar corretamente. Meus pensamentos estão embaralhados, mas aos poucos as coisas vão se encaixando. Os acontecimentos passados vão voltando a minha mente, ficando mais claros. E apenas duas preocupações tomam conta de mim: Ícaro e meu pai.

Abro meus olhos e sinto dor quando a luz forte me atinge, me levando a fechar minhas pálpebras novamente. Minha cabeça volta a latejar e um suspiro escapa por meus lábios. Eu me forço a abrir os olhos e consigo os manter abertos após algumas tentativas. Passeio meus olhos ao meu redor e noto estar em um quarto hospitalar. Não há ninguém além de mim e por um momento me bate o desespero. Meu corpo se arrepia quando sinto o frio se fazer presente, me lembrando do inferno que passei nos últimos dias.

É inevitável que meus olhos se encham de lágrimas e eu me encolha na cama, buscando algum conforto e calor. Volto a fechar meus olhos, sentindo um medo sem tamanho tomar conta de mim. Eu só queria abrir meus olhos e perceber que tudo não passa de um terrível pesadelo, mas as coisas não são assim. Isso é real. É a minha vida. A droga da minha vida.

Os soluços se tornam mais altos e a dor em meu peito mais presente. É sufocante, é angustiante, é uma mistura de sentimentos que querem me afundar, me deixando a beira de um abismo a um passo de pular ao fundo. O frio fica mais forte e mordo meus lábios, tentando suportar.

Não tenho ideia de quanto tempo se passa, comigo nessa situação, mas de repente algo muda. O frio diminui, sinto algo ao meu redor... um abraço. Eu me sinto acolhido e os sentimentos ruins parecem me abandonar. Ainda tenho medo, mas forço a abrir meus olhos e meu peito se aperta ao constatar que não estou mais sozinho. Há alguém comigo, há alguém me protegendo.

- Sandro? - pergunto em um sussurro, reconhecendo a pessoa junto de mim.

- Sou eu, querido. Vai ficar tudo bem. - Ele diz e por mais que seja difícil, eu acredito em suas palavras.

Vai ficar tudo bem.

- Meu pai, ele...

Não consigo terminar minha pergunta, pois um nó se forma em minha garganta, me impedindo de prosseguir. A imagem dele todo ensanguentado volta a minha mente e sinto a bile subir por minha garganta. Lembrar dele me dizendo "eu te amo" e logo após fechando os olhos é desesperador.

- Ele está bem... Murilo é forte - Sandro responde e se afasta de mim, me lançando um sorriso.

- Está falando a verdade? - pergunto, olhando em seus olhos.

- Estou sim, Matias. Seu pai passou por algumas cirurgias, mas está fora de perigo. Ele só precisa de um tempo para se recuperar.

Procuro por algum sinal de mentira, mas não há e isso me deixa em alívio. Enxugo as lágrimas do meu rosto e me coloco sentado na cama, resmungando ao sentir meu corpo reclamar pelo esforço.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora