Capítulo Quatro

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Matias Fonseca

A sensação que sinto estando com meus amigos agora é bem diferente de alguns meses atrás. Não havia aquele medo de estar pisando em ovos e fazer algo que julguem errado. Era apenas risadas e piadas idiotas, não havia dificuldade e eu sinto falta disso. Me sinto ainda mais culpado por ter estragado tudo com as pessoas que sempre me fizeram sentir um pouco mais vivo, as pessoas que me deram motivos para não sucumbir a tudo que sinto há tanto tempo. É uma sensação tão sufocante e sinto que nos últimos meses isso está cada vez pior. Pois agora não há em quem se agarrar, não há ninguém que vai me ajudar a sentir o fardo menos pesado. Pelo contrário, sinto que o peso em meus ombros e em meu peito fica ainda mais insuportável.

- O que vamos fazer, então? - É Camilo quem faz a pergunta.

Ele está sentado em um dos sofás com Beatriz e Breno. Uriel está na poltrona e estou sentado ao lado de Ícaro. E confesso que estar sentado ao lado dele me deixa com um frio a mais na barriga. Me confortou ver ele assim que a porta foi aberta, pois, de todos, ele é o único que sabe de tudo e ainda está completamente ao meu lado, estando ainda mãos disposto a entrar no redemoinho que é minha vida. E sendo sincero, eu o acho um louco por querer isso. Pois eu sou a pior opção oferecida no mercado, por assim dizer.

- Vamos ver round6... espero que ninguém tenha visto, senão cabeças vão rolar - Uriel avisa enquanto pega o controle da TV.

- Combinamos de assistir todos juntos, fica tranquilo ursinho - Camilo diz com um sorriso e então seus olhos se desviam para mim. - Está tudo bem, Matias? Você sumiu.

- Ah... - busco uma resposta para ele, mas não encontro nenhuma. Não é como se eu tivesse me afastado por querer, mas achei ser o melhor para todos. Principalmente para aqueles que parecem não me querer por perto.

- Acho que a história é ao contrário, não? - Ícaro diz com uma expressão de desgosto e fico ainda mais sem fala. - Pode me ajudar a fazer pipoca, Matias?

Ele questiona, mas não espera minha resposta. Ícaro apenas se levanta e pega em minha mão, me levando junto dele para à cozinha da casa. E sentir seu toque em mim causa arrepios em minha pele, assim como faz o local formigar pelo contato. O frio em meu estômago aumenta e aquelas famosas borboletas aparecem.

Meu Deus, por que eu?

Assim que chegamos na cozinha, sou rápido em soltar nossas mãos e abraçar meu próprio corpo, tentando focar em qualquer coisa que não seja Ícaro. Por que tem que ser tão difícil com ele? Nós mal nos conhecemos, mas ele me causa tantas coisas boas, mesmo que isso me tire a sanidade. Ver que ele se preocupa comigo também mexe comigo de uma forma diferente, pois esse cuidado é diferente do que já recebi até hoje. Não é como era com Camilo e Dylan, é totalmente diferente.

Só que eu sei que isso não vai nos levar a nada, pois eu sou uma bagunça, eu sou uma pessoa condenada ao fracasso e isso já está fadado a dar muito errado. Eu sinto isso... infelizmente.

- Não vou te morder, Matias... relaxa! - Ícaro diz quando me afasto e percebo seus olhos me analisando profundamente. - Sabe, eu queria saber o porquê tem tanto medo.

- Onde está o milho para pipoca? - pergunto, mudando totalmente o assunto.

Sigo até à pia e lavo minhas mãos, esperando que ele me diga onde está as coisas que vamos usar. Ícaro apenas suspira e então pega uma panela no armário e um pacote de milho para pipoca. Demoramos cerca de quinze minutos na cozinha e todo o tempo passamos em silêncio, não havia nada a ser dito. Não por mim pelo menos.

Voltamos para à sala com duas vasilhas de pipoca, uma garrafa de suco e outra de refrigerante. Uriel ainda não tinha dado play na série e agradeci por isso. Nos ajeitamos novamente no sofá e deixamos as coisas na mesinha de centro. O episódio começa e ninguém diz mais nada, se ocupando em comer e prestar atenção no dorama. E eu agradeço imensamente por isso, pois é bom estar aqui e não sozinho, mas a última coisa que quero no momento é conversar. Pois eu sei que no instante em que abrir minha boca, não vou mais conseguir me calar e minhas lágrimas também não vão ficar presas por muito tempo. Por isso eu fico sempre em silêncio quando me perguntam se estou bem.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora