Ícaro Miranda
Eu realmente queria saber onde estava com a cabeça quando aceitei a proposta de Ricardo. Deus, isso é uma tortura psicológica! Ok, todo trabalho é, mas estar atolado de papéis todos os dias está me fazendo pirar. E acho que Ricardo está se divertindo muito enquanto me vê igual a uma barata tonta, tentando me acostumar ao ritmo do escritório. Só faz alguns dias que estou trabalhando e já estou pensando na minha aposentadoria.
Se aproveitando do meu amor por leitura, Ricardo achou uma boa ideia me mandar fazer relatórios dos seus casos. Uma coisa é você ler livros que tem uma história interessante, outra é quase dormir enquanto decide o que é relevante ou não nas informações de processos judiciais. Se bem que algumas histórias são bem mirabolantes. Mas voltando ao meu tormento... eu realmente preciso de umas férias. Será que já posso solicitar? Meu pai é um dos chefes, afinal.
Solto uma risada e balanço a cabeça em negação, pois isso soa ridículo. Na verdade, eu estou grato por estar trabalhando e sendo útil em algo. Isso é muito melhor do que ficar em casa lamentando o fato de que ninguém te dá uma oportunidade por ser doente. É, a realidade pode ser dura. Então eu estou dando o meu máximo nesse novo emprego, porque eu não quero ser visto como o filho do chefe que conseguiu uma vaga sem experiência qualquer. Quero ser visto e reconhecido pelo meu esforço. Nunca precisei me escorar em ninguém e não será agora que isso vai acontecer.
Então, mesmo com uma dor de cabeça gritante e uma vontade enorme de dormir, eu volto a me focar em meus relatórios, digitando com agilidade no computador em minha frente. Minha mesa fica dentro do escritório de Ricardo, em uma pequena sala adjacente, já que em alguns momentos ele precisa de privacidade para atender aos clientes. Porém, como eu ainda sou um iniciante, devo estar por perto para que ele me ensine.
No início achei que seria chato trabalhar aqui, mas aos poucos estou me acostumando. A secretária me traz lanches três vezes ao dia, posso escutar música em meus fones de ouvido sem preocupação e às vezes tiro alguns minutos para trocar mensagens com meu futuro namorado.
E falando nele, Matias ainda não me mandou mensagem hoje e já se aproxima da hora do almoço, o que é estranho. Bem, antes eu não acharia estranho, pois ele me deixava no vácuo sempre, mas desde que ele resolveu me dar uma chance nossas trocas de mensagens se tornou constante. E isso me lembra que na noite anterior ele não estava muito bem, o que me traz preocupação.
Meus dedos param de digitar no teclado e tiro minha atenção da tela do computador, pegando meu celular em cima da mesa. Desbloqueio o aparelho e inicio uma chamada para ele, já que não tenho paciência para enviar uma mensagem e esperar a resposta. A ligação chama algumas vezes até cair na caixa-postal.
Mordo meu lábio inferior, pensando se isso é por ele estar no colégio ou outra coisa ter acontecido. Mas se ele estivesse no colégio, com certeza teria respondido minha mensagem de "bom dia" mais cedo. Solto um suspiro e tento ligar mais uma vez, dessa vez tendo sucesso.
- Oi! - Sua voz rouca de sono chega até meus ouvidos e sendo idiota, meu coração dispara em meu peito.
- Ei, oi! Estava dormindo?
- Sim, não estava me sentindo muito bem hoje de manhã. - Ele responde e minha preocupação volta com força.
- O que houve? Aquele homem te fez alguma coisa? - pergunto e minha mão aperta o celular com força.
- Depois que discutimos ontem ele não disse mais nada. É só que...
- É só que? - incentivo ele a continuar.
A linha fica em silêncio por incontáveis segundos, até que eu ouça soluços do outro lado, fazendo meu peito se apertar. O choro de Matias se torna mais evidente e isso é tão frustrante para mim, já que não estou ao seu lado e não posso o abraçar nesse momento.
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Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos
RomanceQual é o preço de ser livre? Tecnicamente deveríamos ser livres de graça, não? Mas, infelizmente, muitos vivem em prisões impostas pelos outros ou por si mesmos. E Matias é uma dessas pessoas, ele se encontra preso pela pessoa que mais ama e odeia...