Bônus Oito - Murilo & Sandro

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Murilo Fonseca

Entrar em casa após semanas no hospital é uma sensação boa e reconfortante. Porém, acho que isso se deve ao fato de ter Sandro ao meu lado, me segurando pela cintura enquanto me ajuda a subir às escadas até meu quarto. Desde que acordei no hospital, há dias atrás, Sandro não saiu do meu lado um minuto sequer e confesso que meu coração passou a amar ele ainda mais, se isso é possível. Ele tinha todos os motivos do mundo para não estar comigo nesse momento, mas ele está. Ele faz questão de mostrar que posso contar com ele em qualquer coisa e isso não tem preço.

- Onde está Cidinha? - pergunto quando ele me ajuda a sentar na cama espaçosa do meu quarto. Como eu senti falta da maciez do meu colchão.

- Dispensei ela essa semana, a casa estava praticamente vazia - Sandro responde, ajeitando alguns travesseiros para colocar minha perna engessada.

- Você levou a sério o "minha casa, sua casa" - brinco e ele revira os olhos para mim, mas ouço sua risada.

- Espero que não tenha se importado. - Ele dá de ombros e para ao lado da cama, me olhando nos olhos.

- Nem um pouco - respondo e respiro fundo, fechando meus olhos.

Estou cansado, mas não é fisicamente, apesar do meu corpo ainda estar se recuperando de tudo o que houve. Porém, mesmo tendo me resolvido com Matias, eu ainda preciso me resolver com mais uma pessoa muito importante para mim. Eu já fiz tantas escolhas erradas, está na hora de parar de ser um covarde e assumir as rédeas da minha vida. Está na hora de viver... está na hora de deixar minha gaiola para trás e voar livremente. Como um pássaro.

- Vou te deixar descansar um pouco, Matias só volta mais tarde, vai passar o dia com o namorado - Sandro avisa e começa a se afastar, mas estendo minha mão e agarro seu pulso, o fazendo parar.

Seus olhos se voltam novamente para mim e solto um suspiro, mordendo meus lábios antes de pedir:

- Podemos conversar? - pergunto, sentindo meu coração acelerar em meu peito.

- Tem certeza? - Ele pergunta, sabendo onde eu quero chegar.

- Sim, já perdi tempo demais - respondo e o puxo levemente.

Sandro assente e se aproxima, se sentando na cama, ao meu lado. Ainda continuo segurando seu pulso, então aproveito e desço minha mão, entrelaçando nossos dedos. Sinto um frio na barriga ao ver o encaixe perfeito de nossas mãos juntas. Elas possuem praticamente o mesmo tamanho, sendo que os dedos dele são mais finos e gelados. É confortável estar assim novamente e espero que jamais separe nossas mãos como já aconteceu no passado.

- Eu sempre deixei claro que tinha medo de me assumir para os meus pais, principalmente para o meu pai. Ele sempre foi muito rígido, não tinha empatia por ninguém e isso me deixava em pânico. Mas eu te amava, queria ficar com você e por isso decidi arriscar - conto e sinto sua mão apertar a minha.

Respiro fundo e continuo com meus olhos fixos em nossas mãos unidas, assim é mais fácil relembrar todas as coisas horríveis do passado.

- Então eu fiz, contei aos meus pais que gostava de um garoto maravilhoso e queria muito que eles conhecessem você, mas nada deu certo. Eu não tinha muitas expectativas, mas ele conseguiu destruir todas. Meu pai me deu uma surra horrível, enquanto me batia dizia que me ensinaria a ser homem. Minha mãe era indiferente e não fez nada para impedir. Fiquei dias de cama, sentindo cada parte do meu corpo queimar. Devo ter quebrado algumas costelas, sei lá. Depois desse dia ele não me deixou mais sair de casa e dias depois avisou que me levaria em um lugar. Eu estava extasiado, não questionei, apenas fui e me arrependo amargamente.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora