Murilo Fonseca
É como estar vivendo um sonho muito bom enquanto vejo Sandro sentado no tapete da sala brincando com Baby. Ele se diverte com o pequeno cão, que faz seus dedos de mordedores para seus dentinhos. Eu realmente nunca cheguei a essa fase de imaginar ele novamente em minha vida. Só é irreal ver o homem que eu amo comigo. Parece mentira que ele me aceitou de volta e dessa vez somos uma família. Me lembro do que Matias disse na noite passada e é realmente verdade. Sandro está praticamente morando conosco e eu nunca pensei que poderia me acostumar tão fácil a essa rotina.
Ele praticamente largou seu trabalho para cuidar de mim, enquanto ainda estou em recuperação da lesão em minha perna. Ele em nenhum momento reclamou, apenas me tratou com todo o amor e carinho do mundo, algo que eu nunca senti. Sim, eu sou amado pelo meu filho, mas são amores diferentes. Eu até tentei me apaixonar pela mãe de Matias, mas nunca consegui. E hoje eu sei o porquê. Ok, o primeiro fato é que sou gay, mas o mais importante é porquê sempre foi o Sandro. Nunca houve espaço para mais ninguém que não fosse ele em meu coração.
- Ei, o que acha de sair para almoçar? - pergunto com um sorriso.
Sandro para de brincar com o filhote e me olha com certa expectativa no olhar.
- Sério?
- Sim, ainda não saímos juntos desde que começamos a namorar. Acho que devo exibir meu namorado por aí - brinco e vejo ele revirar os olhos.
- Ok, mas e o nosso bebê? - Ele questiona, segurando o filhote, e sinceramente... onde foi que eu errei com ele e Matias.
- Ele vai ficar bem por algumas horas, amor. É só deixar alguns brinquedos e o tapetinho dele na sala - respondo e Sandro parece ponderar.
Após pensar por alguns segundos ele aceita e se despede de Baby com um beijo no focinho, dizendo que precisa se arrumar. Acabo rindo de seu jeito e vou atrás dele, para fazer o mesmo. Enquanto Sandro toma banho eu aproveito para procurar uma muda de roupa. Confesso que minha vontade era estar junto com ele no banho, mas ainda não chegamos a esse nível.
Estamos namorado há semanas, mas ainda não houve nenhum avanço de sinal, mesmo com muitas mãos bobas e eu entendo. São anos separados e para mim são ainda mais anos sem sexo. Não é que eu tenha medo de transar com ele, mas acho que devemos deixar fluir e rolar na hora certa. Eu transei com apenas um homem e esse homem foi Sandro, na nossa adolescência. Depois disso fiquei com a mãe de Matias e mais algumas mulheres depois dela, com a falha expectativa de que isso poderia mudar quem eu sou. Não mudou, por isso abandonei o sexo nos últimos cinco anos, pois para mim não era prazeroso e sim uma tortura.
- Amor?
Sou acordado pelos dedos de Sandro em frente aos meus olhos e pisco algumas vezes, saindo do meu transe. Sorrio e deixo um selinho em seus lábios antes de ir até o banheiro.
[...]
Sandro decidiu que queria ir ao shopping, pois há um filme em cartaz que ele quer muito ver e segundo ele esse seria nosso encontro perfeito. Confesso que foi um pouco intimidante sentir alguns olhares sobre nós dois, por estar de mãos dadas, mas fiz o meu máximo para não deixar isso estragar o nosso momento. E está sendo ótimo poder andar de mãos dadas com meu namorado, algo que eu nunca imaginei que poderia fazer.
- Tudo bem? - Sandro pergunta quando já estamos sentados em um restaurante de massas.
- Sim, é boa a sensação de liberdade - respondo e vejo seu sorriso se abrir.
- Ela vai ficar ainda melhor, amor... você vai ver. - Ele diz com confiança, enquanto acaricia minha mão entrelaçada com a sua por cima da mesa, e eu acredito em suas palavras.
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Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos
RomanceQual é o preço de ser livre? Tecnicamente deveríamos ser livres de graça, não? Mas, infelizmente, muitos vivem em prisões impostas pelos outros ou por si mesmos. E Matias é uma dessas pessoas, ele se encontra preso pela pessoa que mais ama e odeia...