Capítulo Vinte e Oito

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Matias Fonseca

Voltar ao colégio depois de toda a bagunça da minha vida me trouxe alívio, pois é um sinal da normalidade voltando. Durante esses dias eu pude me recuperar mentalmente e aos poucos me sinto melhor. Confesso que ter meu pai, Ícaro e Sandro ao meu lado foi de uma imensa ajuda. Pela primeira vez na vida eu estou experimentando a sensação de paz, de estar feliz, de saber que as coisas estão em seu devido lugar. Eu tenho apoio da pessoa mais importante, um namorado maravilhoso, amigos leais e um padrasto nota dez. Sendo realmente sincero, o vazio de antes se tornou quase nulo agora.

- Matias! - O chamado me faz olhar na direção da pessoa e mal tenho tempo de processar quando Camilo pula em mim, me apertando em um abraço. - Você está bem mesmo? - Ele questiona e um sorriso se abre em meu rosto.

Nós nos falamos por mensagem e chamada de vídeo depois de tudo o que houve, mas ainda não havíamos nos vistos, e como Camilo é a "mãe" do grupo sua reação não me surpreende.

- Sim, estou ótimo - respondo, sendo totalmente sincero.

- Nunca mais faça isso comigo, quase pari uma criança! - Ele diz, bravo, deixando alguns tapas em meu braço.

- Ei, não foi minha intenção... só relaxa - peço e pego em suas mãos.

- Só se você me prometer não se meter em mais confusão - Camilo diz e levanta seu mindinho, me fazendo rir da cena.

- Prometo, mamãe - brinco e selo nossa promessa. - Ei, tô muito atrasado? - pergunto, me referindo a matéria.

Já estamos no último semestre e em breve será as provas finais e se tudo der certo formatura. Confesso que nunca fui o melhor da turma, mas sempre me esforcei para tirar notas boas ou aceitáveis.

- Não muito, o colégio sabe sua situação, então não ficará prejudicado. E podemos te ajudar em qualquer coisa. Vamos nos formar juntos - Camilo afirma enquanto seguimos até nossa mesa no pátio.

Avisto Uriel e Dylan abraçados e por um momento queria ter meu namorado aqui comigo. Automaticamente pego meu celular no bolso da calça e abro nossa conversa.

Você: Vou te visitar após sair do orfanato, levarei uma surpresa (06:58)

Não espero por uma resposta, pois está muito cedo e sei que por causa dos remédios ele dorme até mais tarde. Então me concentro em aproveitar o tempo com meus amigos, consequentemente meus últimos momentos no ensino médio também.

[...]

Nunca achei que diria isso, mas eu amo crianças... bom, pelo menos as do orfanato. Receber o abraço das minhas crianças depois de todos esses dias é tão confortável, me traz um quentinho bom ao peito. Há meses atrás eu não daria nada por esse trabalho voluntário, mas hoje vejo que isso me trouxe coisas valorosas.

- Sentiram minha falta? - questiono ao me soltar deles, tendo um enorme sorriso em meu rosto.

- SIMMM! - Um coro de vozes infantis me responde.

- Eu também estava morrendo de saudades. Então o que acham de uma partida de futebol após o almoço? - proponho e a animação é unânime.

- Oba! Prometo não te acertar hoje, tio - Andressa diz e não seguro o riso.

- Que bom, princesa... ainda me lembro bem da dor - respondo e suas bochechas ficam vermelhas.

- Por isso meninas não devem jogar... futebol é coisa de homem. - Um dos garotos mais velhos diz e arqueio uma sobrancelha.

- E quem disse isso, Mateus? Futebol não tem gênero, nenhuma brincadeira ou esporte possuem... o lugar das meninas é onde elas quiserem estar e você deve respeitar isso. Entendeu? - falo, sendo sério em minhas palavras.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora