Ícaro Miranda
Enquanto tenho a boca de Matias junto a minha, eu não consigo raciocinar direito, me sinto anestesiado. Meu coração que quase nunca segue um ritmo certo, nesse momento bate de forma louca, me fazendo ter a ideia de que a qualquer momento ele pode sair andando. As mãos de Matias estão em meu rosto e seu toque me arrepia, pois é tão delicado e cheio de cuidado. Seus movimentos com a língua também são inexperientes e isso me dá a leve impressão de que seu conhecimento sobre beijo é escasso. Porém, isso não interefe em nada, pois é ele aqui comigo... o garoto pelo qual eu sou totalmente apaixonado.
E mesmo que seja maravilhoso o beijar dessa maneira, minha saúde de merda dá sinais quando o ar se torna muito necessário para mim. E mesmo contra minha vontade, acabo me afastando, totalmente ofegante. Abro meus olhos e vê-lo em minha frente, a poucos centímetros de mim, é como estar vendo uma miragem. Um sonho muito bom que não parece ser real.
Porra, será que eu tô realmente sonhando? Deus, que não seja isso... por favor!
- Tudo bem? Quer um copo de água? - Matias pergunta, preocupado, ao ver meu estado, me fazendo rir.
- Não, eu tô bem... maravilhoso na verdade. Só meu coração que é uma merda mesmo - respondo.
- Não fala assim. - Ele pede e seus olhos me analisam, buscando por algo que diga que eu realmente não estou bem.
- Por que fez isso? E por que está aqui? Seu pai não vai gostar - falo quando consigo recuperar meu fôlego, e me afasto dele por alguns centímetros.
O encanto parece se quebrar e então ele se afasta, piscando algumas vezes, voltando a se sentar no chão, em minha frente.
- Com certeza não, ele não sabe que sai e sei que vou me ferrar, mas tudo bem... já estou acostumado - diz com um suspiro e então volta a me olhar. - Uriel me ligou e perguntou se eu queria ir ao cinema com eles, acabei ouvindo mais do que deveria, inclusive que você não estava bem, por isso vim aqui checar. Ahn... eu fiquei preocupado. Não sei tudo sobre sua doença e não queria que nada de ruim acontecesse. Mesmo não sendo amigos, eu não desejo seu mal.
Ouço o que ele diz e rapidamente me lembro das palavras que disse a Dylan e Uriel. E se ele ouviu mais do que deveria, talvez tenha me ouvido falar que não queria mais saber dele. Ok, por que estou me sentindo culpado agora? Será que é por causa dos seus olhos tristes? Merda! Por que eu fui me apaixonar? Por quê???
- Obrigado, mas estou bem. Já sou doente há anos, me acostumei aos mal-estar... é comum - falo, não sabendo exatamente que palavras usar com ele.
Matias tem o poder de me tirar fora do eixo, eu me sinto perdido quando estou junto dele. Sua presença me deixa bem, mas também me deixa confuso sobre como agir, ainda mais depois de tudo. Ao mesmo tempo que quero cuidar dele, me aproximar até não ter mais espaço, eu também tenho medo de ser rejeitado mais uma vez.
- E sobre o beijo, bem... eu queria te contar algo antes. - Ele diz, me trazendo de volta à realidade, me fazendo prestar atenção nele. - Eu sei o motivo do meu pai me odiar.
- Sabe? - pergunto, confuso. Na verdade, não deveria haver um motivo para esse homem. Ele só deveria amar o filho maravilhoso que tem.
- Tudo começou quando eu me assumi gay para o meu pai, pensava que ele iria me apoiar, já que sempre me amou de forma incondicional. Mas eu estava errado. Após isso minha vida virou um inferno e nossa relação mudou completamente. As agressões nem sempre ocorreram, foram poucas vezes até hoje, mas em todas as vezes é como se eu perdesse um pouco de mim. É horrível saber que você não tem o apoio da pessoa que mais ama no mundo. Então eu decidi me fechar, sabe? E não ser eu mesmo. Eu amo futebol, mas confesso que me dedicava por causa do meu pai. Um esporte mais másculo, como dizem. Eu nunca nem tinha beijado antes de hoje, porque eu tinha medo. Esse sentimento sempre me fez refém. Eu achava que nunca ninguém gostaria de mim, não de mim realmente. Não o Matias que é um garoto totalmente destruído pelas inseguranças.
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Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos
RomanceQual é o preço de ser livre? Tecnicamente deveríamos ser livres de graça, não? Mas, infelizmente, muitos vivem em prisões impostas pelos outros ou por si mesmos. E Matias é uma dessas pessoas, ele se encontra preso pela pessoa que mais ama e odeia...