Prólogo

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* Meses atrás... *

Matias Fonseca

Olho para os dois lados da rua, observando o movimento e me sinto quase entrando em colapso por dentro. A poucos metros de mim há um beco e ele é o meu destino, mesmo que eu não queira. Respiro fundo algumas vezes e ajeito o capuz do moletom em minha cabeça, mesmo que a rua esteja praticamente deserta, não é minha vontade ser reconhecido por alguém. Atravesso a rua sentindo minhas pernas um pouco bambas, mas não vacilo. Eu já deveria saber que não seria fácil, mas eu sou tão idiota que só pensei nas consequências tarde demais e não é como se eu pudesse buscar por ajuda.

Entro no beco um pouco escuro e com cheiro de mofo e lixo, o que me faz prender a respiração por um momento, quase vomitando. Esse é um cheiro que não faço questão de me acostumar. Meus olhos focam nas duas pessoas a poucos centímetros de mim e paro de andar, sentindo a ansiedade e nervosismo tomar conta de mim. Aperto minhas mãos dentro do bolso do moletom, as sentindo suadas e trêmulas e engulo em seco quando a atenção se volta para mim.

— Pontual como sempre — Pietro diz com deboche e minha vontade é socar sua cara, mas sei que não permaneço vivo se o fizer.

— Eu disse que não quero mais fazer parte disso, por que me chamaram? — pergunto de uma vez, controlando minha voz para que não saia trêmula.

E assim que minha fala deixa minha boca, ouço a risada dos dois em minha frente. É como se eu acabasse de ter dito uma piada e para eles foi mesmo.

— Aí, cara... você é engraçado. Acha mesmo que está livre de nós? Acha que é apenas usar e depois jogar fora? Ares nunca vai te deixar em paz, coloca isso na sua cabeça. Você pode até achar que está tudo bem, que conseguiu sair, mas não... uma vez no tráfico, sempre no tráfico. Guarda isso, Eduardo - Pietro diz e sua fala é um soco no estômago.

Minha boca seca no mesmo instante e minha cabeça não para de criar imagens de eu sendo preso por meu próprio pai, ou morto por bandidos. Se bem que meu pai me mataria se soubesse e acho que nem um nome falso me esconde mais se eu continuar com isso.

— Por favor, eu só quero viver em paz. Eu faço o que quiser, só me deixem... por favor — peço minutos depois e não me importo mais se minha voz está embargada e pareço um frouxo. Eu sou.

E isso apenas serve para eles rirem ainda mais, me deixando como o palhaço desse espetáculo. E a sensação que me toma é horrível, sinto que posso desmaiar a qualquer momento ao ter a certeza de que acabei com a minha vida por nada. Apenas para ter um motivo de ser a pessoa horrível que meu pai sempre me disse ser.

— Ok, vamos ver o que podemos fazer por você. Por agora você só precisa fazer uma tarefa bem simples. — O outro cara diz, parecendo estar mais inclinado ao meu favor.

Não falo absolutamente nada, mas estendo minha mão quando ele me mostra o pacote em suas mãos. E infelizmente eu já sei o que fazer.

— O comprador é do seu colégio, somente faça a entrega e pegue o dinheiro. Deposite na conta de sempre e sua recompensa estará disponível em vinte e quatro horas... você já sabe o esquema.

— Não quero dinheiro, apenas quero não mais fazer parte disso. Sabem que não vou abrir minha boca e eles não vão chegar em mim. Eu sou o laranja perfeito pra vocês. — Tento mais uma vez.

— É exatamente por isso que queremos você, mas vai... vou conversar com Ares e ver o que podemos fazer por você — Pietro fala por fim e faz sinal para que eu vá.

E eu vou. Escondo o pacote em minha roupa e saio do beco como se nada tivesse acontecido, mas por dentro, meu coração quase sai por minha boca. Ok, Matias! É a última vez. Só mais esse.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora