Murilo Fonseca
"Se não o quê? Vai me bater? Me bate! Eu já estou acostumado a ter sua violência. Se você soubesse o quanto eu te odeio agora... sabe a esperança que eu tinha de você mudar? Acabou, me dei conta de que você sempre será assim... um monstro sem coração, que só pensa em si mesmo. Você merece o título de muitas coisas, delegado Fonseca, mas nunca vai merecer o título de pai."
As palavras ecoam em minha cabeça como marteladas e sinto meu coração doer em meu peito, como não acontecia há muito tempo. Eu sei que mereço cada uma dessas palavras, mas isso não diminui a dor de ouvi-las vinda da pessoa que eu mais amo na vida. Fecho meus olhos por um segundo e mais uma vez me dou conta de que estou fazendo tudo ao contrário. Mas por que eu não consigo ser diferente? Por que eu não posso apenas dar o amor que meu filho merece? Por quê?
Ouço o barulho de algo batendo no chão e volto a abrir meus olhos, vendo Matias de joelhos no chão. E me quebra ver a forma como ele está. Olhos molhados, rosto banhado de lágrimas, as mãos trêmulas e respiração ofegante. Faço menção de me aproximar dele, mas meus pés travam no lugar quando ele vomita. Meus olhos estão arregalados e me sinto assustado com a cena em minha frente, que apenas piora quando ele leva as mãos até sua cabeça, puxando seus cabelos com força.
- Matias, para - falo, tentando manter minha voz calma.
- Parar? Por quê? Isso não chega nem perto do quanto você já me destruiu. Está feliz, papai? - Ele levanta seus olhos para mim e sorri, mas não há nada de divertido ou alegre em seu gesto.
- Não, eu não estou. Agora levanta, vou te ajudar a ir para seu quarto - respondo e dou alguns passos em sua direção.
- Não, não encosta em mim. - Ele aponta para mim e se levanta em seguida, não tendo muita firmeza.
O olho com preocupação, mas me mantenho parado no mesmo lugar, esperando por suas próximas ações.
- Por que ainda não me mandou para minha mãe? Pelo menos assim estaria livre e longe de um filho gay que tanto te dá desgosto - Matias diz com ironia enquanto seca as lágrimas em seu rosto com raiva.
E eu sei que não deveria deixar a raiva me dominar, mas é mais forte do que eu quando ouço ele falar sobre a mãe.
- Quer mesmo que eu te mande para alguém que nunca se importou com você? Ok, eu te mando, só não venha correndo depois que ela te abandonar mais uma vez - falo com raiva, não medindo minhas palavras.
- Ela não me abandonou! - Ele grita e respiro fundo, mas não consigo me controlar.
- Não? Então onde ela está? Por que ela não te levou quando teve a chance? Por que ela ignora todas as suas ligações? A resposta é simples, Matias... ela não quer você por perto, nunca quis.
Sei que minhas palavras machucam, mas simplesmente não posso e nqo comsigo me calar. Ainda guardo mágoas de Lívia e esse sentimento cresce a cada dia mais, principalmente quando vejo que Matias estaria muito melhor se tivesse pais melhores.
O silêncio toma conta do cômodo e só me dou conta da besteira que fiz quando os olhos do meu filho se arregalam e ele dá passos para trás como se tivesse levado um soco. Eu me sinto a pior pessoa do mundo nesse momento e esse sentimento se intensifica quando Matias aos poucos perde a consciência, caindo no chão em um baque surdo. Corro em sua direção quando minhas pernas voltam a funcionar e o desespero me toma quando vejo um machucado na lateral de sua cabeça, saindo sangue.
É como desaprender a andar e falar, eu não sei o que fazer. O medo vai me consumindo aos poucos junto com a culpa que bate com força total.
- Matias! - chamo seu nome com desespero, mas ele continua imóvel.
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Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos
RomanceQual é o preço de ser livre? Tecnicamente deveríamos ser livres de graça, não? Mas, infelizmente, muitos vivem em prisões impostas pelos outros ou por si mesmos. E Matias é uma dessas pessoas, ele se encontra preso pela pessoa que mais ama e odeia...