Bônus Três - Murilo & Sandro

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Murilo Fonseca

"Se não o quê? Vai me bater? Me bate! Eu já estou acostumado a ter sua violência. Se você soubesse o quanto eu te odeio agora... sabe a esperança que eu tinha de você mudar? Acabou, me dei conta de que você sempre será assim... um monstro sem coração, que só pensa em si mesmo. Você merece o título de muitas coisas, delegado Fonseca, mas nunca vai merecer o título de pai."

As palavras ecoam em minha cabeça como marteladas e sinto meu coração doer em meu peito, como não acontecia há muito tempo. Eu sei que mereço cada uma dessas palavras, mas isso não diminui a dor de ouvi-las vinda da pessoa que eu mais amo na vida. Fecho meus olhos por um segundo e mais uma vez me dou conta de que estou fazendo tudo ao contrário. Mas por que eu não consigo ser diferente? Por que eu não posso apenas dar o amor que meu filho merece? Por quê?

Ouço o barulho de algo batendo no chão e volto a abrir meus olhos, vendo Matias de joelhos no chão. E me quebra ver a forma como ele está. Olhos molhados, rosto banhado de lágrimas, as mãos trêmulas e respiração ofegante. Faço menção de me aproximar dele, mas meus pés travam no lugar quando ele vomita. Meus olhos estão arregalados e me sinto assustado com a cena em minha frente, que apenas piora quando ele leva as mãos até sua cabeça, puxando seus cabelos com força.

- Matias, para - falo, tentando manter minha voz calma.

- Parar? Por quê? Isso não chega nem perto do quanto você já me destruiu. Está feliz, papai? - Ele levanta seus olhos para mim e sorri, mas não há nada de divertido ou alegre em seu gesto.

- Não, eu não estou. Agora levanta, vou te ajudar a ir para seu quarto - respondo e dou alguns passos em sua direção.

- Não, não encosta em mim. - Ele aponta para mim e se levanta em seguida, não tendo muita firmeza.

O olho com preocupação, mas me mantenho parado no mesmo lugar, esperando por suas próximas ações.

- Por que ainda não me mandou para minha mãe? Pelo menos assim estaria livre e longe de um filho gay que tanto te dá desgosto - Matias diz com ironia enquanto seca as lágrimas em seu rosto com raiva.

E eu sei que não deveria deixar a raiva me dominar, mas é mais forte do que eu quando ouço ele falar sobre a mãe.

- Quer mesmo que eu te mande para alguém que nunca se importou com você? Ok, eu te mando, só não venha correndo depois que ela te abandonar mais uma vez - falo com raiva, não medindo minhas palavras.

- Ela não me abandonou! - Ele grita e respiro fundo, mas não consigo me controlar.

- Não? Então onde ela está? Por que ela não te levou quando teve a chance? Por que ela ignora todas as suas ligações? A resposta é simples, Matias... ela não quer você por perto, nunca quis.

Sei que minhas palavras machucam, mas simplesmente não posso e nqo comsigo me calar. Ainda guardo mágoas de Lívia e esse sentimento cresce a cada dia mais, principalmente quando vejo que Matias estaria muito melhor se tivesse pais melhores.

O silêncio toma conta do cômodo e só me dou conta da besteira que fiz quando os olhos do meu filho se arregalam e ele dá passos para trás como se tivesse levado um soco. Eu me sinto a pior pessoa do mundo nesse momento e esse sentimento se intensifica quando Matias aos poucos perde a consciência, caindo no chão em um baque surdo. Corro em sua direção quando minhas pernas voltam a funcionar e o desespero me toma quando vejo um machucado na lateral de sua cabeça, saindo sangue.

É como desaprender a andar e falar, eu não sei o que fazer. O medo vai me consumindo aos poucos junto com a culpa que bate com força total.

- Matias! - chamo seu nome com desespero, mas ele continua imóvel.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora