Capítulo Vinte e Três

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Ícaro Miranda

Meus olhos encaram a folha de papel em minhas mãos e sinto um breve aperto no peito. Em algumas horas eu entro em uma sala de cirurgia e não faço ideia se sairei vivo de lá. Eu não tenho medo de morrer, mas tenho muito medo de não poder ver o garoto que eu amo mais uma vez. Já fazem três dias desde que Matias foi sequestrado e não há nenhuma previsão de quando ele será resgatado. E a ausência de notícias me deixa em um estado de medo constante. Eu aceitei o fato de que preciso fazer essa bendita cirurgia o mais rápido possível, mas ainda não consigo ser positivo quanto ao fato de que tudo dará certo no final.

Várias possibilidades se passam por minha cabeça há dias, a maioria são ruins e nosso final feliz está em bem poucas oportunidades. Isso me deixa tão ansioso e triste. Gostaria tanto que as coisas tivessem sido diferentes. Gostaria de ter tido mais tempo com Matias, ter aproveitado mais com ele. Perdemos tanto tempo por ele ter medo de seu pai, que infelizmente nos sobrou pouco para estarmos juntos.

Também me sinto desolado em pensar que algo pode dar errado e eu não poder mais ver minha família. Passei todo esse tempo guardando mágoa do meu pai e não pude construir com ele memórias para serem lembradas no futuro. Não estive tanto com meu irmão, que apesar de me irritar é a pessoa que eu mais consegui amar em todo esse tempo. E tem Renata que me acolheu com tanto carinho, me tratando como seu próprio filho. Eu não estou pronto para perder tudo isso.

Eu não posso perder tudo isso.

Ouço a porta do meu quarto se abrir e dobro a folha em minhas mãos, a guardando em um envelope. Escrevo o nome de Matias no verso e respiro fundo, levantando minha cabeça. Vejo meu pai e Renata se aproximando, e percebo que meu pai possui uma expressão séria ao ver o que eu seguro.

- Ainda nessa ideia? - Ele questiona e noto a amargura em sua voz.

Eu sei que para ele está sendo difícil viver tudo isso mais uma vez, gostaria que pudesse ser diferente, mas não tenho controle da minha própria vida quem dirá do destino.

- Eu só preciso me prevenir caso algo aconteça. Matias merece receber algo - respondo, sentindo meu estômago se revirar.

- Nada vai acontecer, Ícaro! Vai dar tudo certo. - Ele diz, firme, e sinto que essa afirmação é mais para ele do que para mim.

- Por favor, não briguem novamente por causa disso. Precisamos apenas de paz e pensamento positivo - Renata diz e se senta na cama, aos meus pés. - Querido, tente não pensar demais, ok? E fique tranquilo, você mesmo vai conversar com Matias quando sair do centro cirúrgico.

- Gostaria de ter essa confiança, mas é impossível. Até hoje não encontraram nada e isso está me matando - falo, sincero, e coloco a carta em cima da mesinha ao lado da cama.

- Na verdade, o pai de Matias ligou - Renata diz e volto meus olhos para ela com pressa.

- Resgataram ele? - pergunto, ansioso.

Sinto meu coração se agitar e o aparelho ao lado da cama apita, mostrando a alta frequência dos meus batimentos cardíacos. Solto um suspiro pesado, odiando toda essa situação. E tento me acalmar ao respirar fundo algumas vezes.

- Estou bem, pai - aviso quando vejo que ele está prestes a chamar alguém da equipe médica.

- Ainda não começaram a missão de resgate, mas já sabem a localização exata dele. Murilo vai na operação e pediu para te tranquilizar...ele prometeu que Matias estará aqui assim que você abrir os olhos amanhã - minha madrasta diz e analiso seu rosto, buscando por algum traço de mentira.

- Está mesmo falando sério? - questiono para ter certeza e não criar falsas esperanças.

- Sabe que nunca mentiria para você, mesmo agora. - Ela diz com um sorriso e pega em uma das minhas mãos. - Vai dar tudo certo, confie.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora