Capítulo Vinte

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Matias Fonseca

Meus olhos parecem pesar uma tonelada, o que torna o ato de abri-los quase impossível. Minha cabeça lateja e sinto a dor ir se intensificando aos poucos. Não sou capaz de sentir o resto do meu corpo e sinto o ar entrar mais pesado em meus pulmões. É uma sensação ruim e que me faz querer sair, mas não faço ideia que como me libertar. Aos poucos a consciência do meu corpo se faz mais presente e tento novamente abrir meus olhos. Consigo cumprir meu desejo após falhas tentativas e me sinto um pouco zonzo ao tentar focar minha visão. Minha cabeça ainda dói e um resmungo dolorido sai dos meus lábios.

Quando consigo ver algo realmente me assusto ao perceber a escuridão ao meu redor, a não ser por uma fresta de luz que passa por uma porta. Olho para os lados, tentando saber onde estou, mas não tenho a mínima noção. E só então eu percebo o porquê meu corpo estava tão "morto". Meus pulsos e meus tornozelos estão amarrados por cordas muito apertadas, que agora me faz ter uma breve noção do incômodo que meu corpo está suportando. Aos poucos as lembranças vão se fazendo presente e então sinto como se tivesse levado um soco em meu estômago. O pânico começa a se fazer presente e minha única vontade é sair correndo de onde quer que eu esteja.

E fazendo meu pesadelo se tornar mais real, a porta de onde estou é aberta e a luz se acende, fazendo eu fechar meus olhos mais que imediatamente por causa do incômodo. O frio em minha barriga se faz presente e o medo se intensifica, principalmente ao ouvir uma risada.

- Voltamos a nos encontrar, Eduardo... ou Matias Fonseca seja mais correto? - A pergunta faz todo meu corpo queimar e nesse momento eu tenho a mais absoluta certeza de que estou muito ferrado.

Volto a abrir meus olhos e consigo me acostumar com a claridade, vendo quatro homens em minha frente. E infelizmente eu conheço dois deles, da época em que eles me repassavam as drogas. Há sorrisos maldosos em seus rostos e ver armas em suas mãos me deixa quase sem respirar. Fico completamente mudo e mesmo se quisesse, não sou capaz de formular nenhuma palavra.

- O gato comeu sua língua? - Um deles pergunta com deboche e se aproxima de mim, o que me faz se mexer na cadeira onde estou amarrado.

- Ele tá apavorado. - Outro diz enquanto ri e percebo quando ergue um celular em minha direção. - Aquele delegado de merda vai adorar ver o filho dele assim.

- Por que estão fazendo isso? - Consigo perguntar em um impulso, sentindo meu coração bater acelerado em meu peito.

- Sério? Jura que não sabe? - O cara que eu já havia visto antes, acho que é Douglas seu nome, diz com escárnio e se abaixa em minha frente.

- Se soubesse não estaria perguntando - falo por impulso e me arrependo no segundo seguinte, quando um tapa estalado é dado em meu rosto. - Vamos ver por quanto tempo sua língua permanece afiada. - Ele diz e sinto toda a força do meu corpo sumir ao que o cano da arma passa por meu rosto.

É difícil respirar e fico como uma estátua, sabendo que a qualquer momento posso tomar um tiro na cabeça. Os segundos parecem uma eternidade e sinto que posso desmaiar a qualquer momento. E é isso que acontece, mas não porque meu corpo cede, mas porque sinto a mesma picada de antes em meu braço.

🐦🪐🐦

Ícaro Miranda

A cada toque da chamada não atendida sinto aquele frio na barriga e sei que algo não está certo. Matias havia combinado de me ligar assim que chegasse em casa, mas já faz horas que ele saiu daqui e nada dele dar algum sinal. Não atende minhas ligações e muito menos responde minhas mensagens. E algo me diz que sua visita a mim trouxe consequências, o que me deixa ainda mais aflito e preocupado.

Vogelfrei | Livro 02 - Trilogia Destinos Onde histórias criam vida. Descubra agora