1 - Olá, velhota

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Julian

Alto, gato, sarado, jogador de basquete, rico e empresário. Esse que acabei de descrever é o Michael Jordan, eu sou só o Julian mesmo.

Brincadeiras a parte, eu também sou um amante do basquete, costumo dizer que o Basquete me salvou.
Há 2 anos, eu tinha acabado de terminar meu ensino médio na cidade em que nasci, e eu não tinha ideia do que faria dali pra frente, até que, por ironia do destino, eu tive que mudar de cidade, sair da casa dos meus pais pra cuidar do meu avô, e aqui, eu conheci o Instituto Sport club, mais conhecido como ISC, que é como um colégio normal, porém não há matérias da escola, somente de esportes. E há todo tipo de esporte por aqui, Basquete, Basebol, natação, Voleibol, Futebol, Skate, Judô,
Karatê, Boxe e uma lista gigantesca de vários outros esportes, eu realmente encontrei no basquete o que eu quero fazer pra minha vida, o meu sonho é me tornar um astro do basquete, e eu não costumo desistir facilmente.

Foi aqui também que eu conheci o meu melhor amigo, Juán Miguel. Ele é colombiano. Eu costumo chamar ele de Juanito desde que descobri que a mãe dele o chama assim, e pela "baixa estatura" também, bom.. pra muitos 1,80m de altura pode parecer muito, mas ele é o mais baixo do time de basquete, eu estou na média com meus 1,91m.Mas de maneira alguma isso afeta o bom desempenho do Juanito, o cara manda muito bem no basquete.
Juanito mora há duas ruas do meu prédio, e eu vivo indo na casa dele porque a comida é sensacional, e ele também vive aqui em casa porque gosta do meu avô, e quem não gosta do senhor Manoel? Ele até aprendeu um pouco de espanhol pra conversar melhor com o Juanito.
Eu sou praticamente sou fluente também, são 2 anos ouvindo o Juanito misturar Espanhol com português, eu aprendi a decifrá-lo.

—Juanito, preciso de contatos. Não aguento mais ser sozinho, quero uma namorada pra me assistir nos jogos, pra dormir agarradinha comigo a noite, entende? —perguntei.

—No, cómo posso darte contactos, papi?  Soy colombiano e elas não me entendem falando duas línguas al mismo tiempo. Pero puedo verte en los juegos, mas não durmo junto contigo nunca.—riu.

—Juanito, isso é papo furado dele! —meu avô interviu. —Eu já vi o celular dele, lotado de moças bonitas! Ele que não quer nenhuma!

—Vô, aquelas mulheres que o senhor viu eram do Instagram, não significa que eu falo com elas, a maioria não sabe da minha existência.

—E que diabos é Istragam, neto?

Eu ri.
Meu velho até tinha razão, eu realmente não queria nenhuma das meninas a qual já conheci até agora, sei lá, não é mais a mesma coisa. Eu tenho 21 anos e já cansei da vida de pegação apenas por uma noite, eu quero alguém interessante pra dividir sonhos e atingir metas, quero alguém que eu admire, alguém que cresça comigo. Quero sentir o amor de verdade pela primeira vez.

Quando voltei dos meus pensamentos, Juanito já tinha explicado pro meu avô o que era Instagram e estava criando um pro velhinho.

—Aqui neto, como eu faço pra te seguir no Istragam?

O meu avô é o pai do meu pai. E há 2 anos ele tem uma limitação na perna que o faz andar de bengala, e ele tem muitas dificuldades de locomoção, além disso, o meu avô é um senhor que ficou mais inocente com o tempo, ele não enxerga muito a maldade nas pessoas, e isso faz com que ele caia em golpes e seja ingênuo. Ele não pode ficar sozinho, se não acaba negociando nossa casa em troca de 2 cachaças e um maço de cigarro.
E o meu pai é um homem "muito ocupado" pra cuidar do próprio pai, ele trabalha muito. Então, eu mesmo, por vontade própria resolvi cuidar do velhinho, retribuir a infância incrível que passei ao lado dele. E mostrar pra ele que nunca estará sozinho enquanto eu existir. O meu avô foi mais meu pai do que meu próprio pai em muitos momentos. Eu devo tudo a ele.

Durante o resto do meu fim de semana, eu pensei sobre a possibilidade de me apaixonar por alguém de novo, bom... Analisando as circunstâncias, não seria por ninguém nesse prédio.
Nós moramos em um prédio pequeno e simples. O que eu mais acho engraçado aqui é que todos os inquilinos são velhos, parece até que o pré requisito pra morar aqui é ter mais 70 anos.
E até que eu faço sucesso entre as senhorinhas, elas me acham gato e sobem minha auto estima sempre.

—Bom dia, dona Lurdes! —cumprimentei minha vizinha.

—Bom dia, Julian! Você está formoso hoje!

—Que isso, dona Lurdes. Assim eu fico sem graça! —brinquei. —Quer ajuda com a sacola?

—Obrigada, querido.

Ajudei a dona Lurdes a chegar no elevador com as sacolas, e assim que o elevador abriu no primeiro andar, avistei Rogerinho, o nosso porteiro anotando algo num papel de frente para 2 malas.

—Morador novo, Rogerinho?—perguntei me aproximando.

—Moradora. —ele disse sem tirar os olhos concentrados do papel.

Eu consigo fazer uma aposta.
Provavelmente é uma senhora com mais de 70 anos, viúva, faltando alguns dentes na boca, e que tem um neto encapetado que mora com ela e vai quebrar o prédio todo.

—Quer ajuda aí pra levar as malas da velhota? —perguntei.

—Velhota? —uma voz feminina surgiu atrás da gente. —Alguém com 19 anos é velhota pra você?

Quando olhei pra trás me surpreendi muito ao ver uma garota que REALMENTE não tinha 70 anos se aproximando.
E gata...muito gata.

—Desculpa, é que... É a primeira vez  que eu vejo uma mulher com menos de 70 anos por aqui. —brinquei mas ela nem riu. Apenas me olhou, parecendo me analisar.

Fiquei até arrepiado com aqueles olhos azuis fixos em mim. Linda demais.

—Está tudo certo pra eu subir com minha mala, senhor? —perguntou ao Rogerinho.

—Quase, a senhorita poderia soletrar o seu sobrenome? —rogerinho perguntou.

—W-a-i-n-b-e-r-g.

Eu não tinha dito mais nada, estava muito surpreendido por ter uma inquilina da minha faixa etária morando aqui. Eu estava feliz em ter errado minha aposta.

—Eu me chamo Julian. —eu disse a ela.

—Julian? E por que não Juliano?! Era só uma letra pra ser comum. —disse.

—Os meus pais  não quiseram ser comuns, e que bom. Odeio ser comum.

Ela me olhou de cima a baixo.

—Hum... Alto, usa Jordan nos pés, cabelo liso e bagunçado , cara de quem não dorme há uma semana. Você parece comum pra mim. —disse.

Ousada.

Normalmente eu ando sempre estiloso, mas eu estava a caminho da quadra de basquete do prédio, pronto pra suar.
Não vou suar em grande estilo.

—Você não me disse seu nome, senhorita comum.

—Kira. —ela disse olhando pro celular.

— É um belo nome, e nada comum também. —elogiei, mas ela não deu muita bola.

O silêncio entre nós se instaurou.

Na verdade, ela não parecia ser a portadora da mais pura simpatia, apesar do rosto ser angelical, ela tinha cara de brava, mas eu gosto de desafios.

—Posso te ajudar com as malas, Kira?—perguntei.

—Não, Juliano.—disse arrastando as duas malas na direção do elevador, e mais uma mochila nas costas.

Fiquei parado no mesmo lugar vendo ela sumir da minha vista.

—Acho que tô apaixonado, Rogerinho.

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