62 - Não faz falta

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Julian

Eu estava acompanhado da minha mãe e do meu avô, iniciar uma discussão com aquele merda seria tolice, além do mais, não poderia me defender preso naquela cadeira de rodas.

Engoli seco, a minha maior satisfação será desmascará-lo num futuro próximo, eu os observei saírem da minha visão, prometendo a mim mesmo que não descansaria enquanto não descobrisse tudo sobre aquele cara.

Sei que tudo será ainda mais difícil enquanto eu estiver sobre essa cadeira de rodas, então antes mesmo de chegar em casa, minha consulta com o melhor fisioterapeuta da cidade já estava marcada.

Ao chegar no prédio, os fãs faziam fila com cartazes e presentes, todos garotinhos cheios de sonhos, como um dia eu fui.

—Arantes, estamos com você!! Você vai se recuperar! —diziam.

E de repente eu era um marmanjo de 1,91m de altura chorando feito criança recebendo um abraço da minha mãe.

Notei as dificuldades que me cercariam agora em atividades consideradas simples, como subir uma escada, os funcionários do prédio tiveram que me ajudar a subir. Eu me senti tão pequeno e incapaz.

—Diga ao gerente para construir rampas nesse lugar. —Eu disse aos funcionários assim que passamos por aquele transtorno.

—Sim, senhor.

Os olhares de pena me cercariam a partir de agora, todos prontos para se lamentar pela minha carreira brutalmente arruinada. mas eu precisava ser forte.

—Me deixe no meu quarto, mãe. —Eu disse. Ainda estava aprendendo a controlar a minha cadeira.

Ela me deixou no quarto.

O ambiente parece diferente agora, como se uma sombra tivesse sido instalada sobre tudo. Meus olhos vagam pela estante, pousando em uma foto emoldurada que fica em destaque.

Na foto, estou no meio do time Águias de elite, com um troféu nas mãos e um sorriso largo no rosto. É uma cena de um tempo que agora parece distante, um tempo em que meus movimentos eram livres, sinto um aperto no peito ao olhar para a foto. Recordações inundam minha mente, lembranças de dias ensolarados na quadra com o Juanito, e a emoção de cada jogo. Eu era ágil, forte, invencível.

Mas agora, a realidade é diferente.

Um acidente mudou tudo.

As pernas, uma vez fortes e ágeis, agora estão silenciosas, imóveis. A cadeira de rodas é minha nova companheira, uma extensão de mim mesmo que nunca imaginei precisar.

Sinto um misto de tristeza ao olhar para a foto, será que um dia eu poderei voltar a ser Julian Arantes do Águias de Elite?

—Manito. —Ouço a voz do Juanito ecoar pelo meu quarto e não consigo segurar minha emoção,  mais uma vez eu choro que nem uma criança. —Te amo mi hermano, es una fase y pasará. —Juanito me abraça.

🏀🏀🏀

Kira

Ao chegar em casa, o Tácio me abraçou para atravessar a portaria até elevador na tentativa de me proteger das fotos, a frente do meu prédio estava lotada de curiosos e paparazzis, loucos por uma foto que poderia arruinar minha vida. Os flashes cegantes inundaram o ar, como raios de luz em uma tempestade.

Paro diante do espelho do elevador, o coração apertado de ansiedade enquanto encaro meu reflexo. Antes, este espelho era meu aliado, uma janela para um mundo de beleza e elegância. Agora, porém, ele é uma testemunha cruel da transformação que minha vida sofreu.

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