Improváveis

31 - Reconciliação

Kira

—Mestre, eu... —tentei iniciar a frase, mas ele me interrompeu antes que eu completasse.

—Eu sei a sua preocupação, Kira. Você não quer ser modelo, quer ser lutadora, tudo bem, mas é só um trabalho, não um contrato efetivo. Você vai ganhar o suficiente pra ajudar sua família e depois você pode voltar a lutar pelo seu sonho. Vamos lá, o que me diz?

—Mas eu nunca fiz nada parecido, não faço ideia de como me portar, ainda mais pra um comercial...

—Isso é o de menos, você vai treinar e vai tirar de letra. Eu só preciso do seu sim.

Respirei fundo.
A imagem da minha família veio a minha mente como um flash.
Eles precisam de mim.

—Sim. —respondi por fim.

—Assim que se fala. —o mestre sorriu. —Vou ligar pra ele imediatamente.

O mestre se levantou da mesa e foi falar ao telefone.

Eu precisava voltar ao trabalho.

Juanito e Julian me olhavam fixamente do balcão, mas meus olhos focaram nos de Julian.

Um olhar ferido. Era tudo o que eu menos queria, mas eu sabia que eu era o motivo.
Mas ainda não estava preparada pra conversar com ele... Ainda mais porque o assunto tão temido certamente vai entrar nessa conversa: o mestre.

Rosa me disse que suspeita que Julian saiba sobre meus sentimentos pelo mestre.
Nem eu sei bem o que eu sinto... Mas não queria que acabasse assim.

—Kira, ele quer conhecer você amanhã. —o mestre disse com um sorriso enorme me tirando dos meus pensamentos. —Eu te levo lá depois do treino.

—Obrigada, mestre. Você está me ajudando muito. —eu disse.

—Eu faria outras mil vezes se necessário. —ele disse e me deu um abraço no meio do restaurante antes de ir.

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Julian

Que raiva. Esse cara só aparece pra atormentar minha mente.
Desde o início eu não gostava desse mestre, e eu tinha razão... Parece que ele realmente conseguiu conquistá-la.

—Manito, está limpiando la mesa con odio. —disse Juanito ao me ver quase quebrar a mesa com a força que estava fazendo.

—Será que estão namorando? —perguntei.

—Creo que no.

Depois que o mestre saiu, Kira parecia até mais feliz.
Durante todo dia ela ignorou completamente minha presença, não trocamos uma só palavra sobre o que aconteceu no bar, só falávamos o necessário para atender todas as mesas do Raices.

Aquilo me matava por dentro, porque em todo instante eu lembrava de como era há dias atrás...
Muitas risadas, brincadeiras e flertes enquanto trabalhávamos, o tempo passava tão rápido.

No fim do dia, eu já esperava que ela não iria voltar pra casa junto comigo... Mas vê-la ir embora sozinha não deixou de doer em mim, parecíamos estranhos de novo.

Fui pra casa, tentando imaginar em que momento eu a perdi, e eu não via brecha alguma... Querendo ou não, eu precisava ouvir dela quando foi que nos perdemos, eu só não sabia quando essa nossa conversa iria acontecer.

Chegando no prédio, esgotado, caminhei até o elevador que já estava fechando, tive que correr pra conseguir entrar.

Parecia que o destino queria me forçar a fazer algo...

Lá estava ela, a dona dos meus pensamentos dentro do elevador me olhando fixamente.

O elevador fechou e o silêncio estava instaurado, a não ser pela minha respiração ofegante.

Encarei a porta do elevador. A minha vontade era de deixar todas as minhas teorias pra trás e dar um beijo de reconciliação nela... Eu gostaria de sentir seu cheiro, seu abraço, ouvir a risada que eu tanto amo novamente.
Mas estávamos como desconhecidos em um elevador, em absoluto silêncio.

—Quando o silêncio entre a gente se tornou algo estranho?  —perguntei.

Naquele instante, antes que ela pudesse responder qualquer coisa, a luz do elevador baixou e ele parou de subir aos poucos, até que parou por completo.

—O que está acontecendo? —Kira perguntou assustada.

—O elevador quebrou, estamos presos. —eu disse ao apertar o botão de emergência e nada acontecer.

—Ótimo. —Kira disse com ironia e suspirou.

Liguei pro porteiro pra avisar do elevador, ele disse que demoraria pros técnicos chegarem.
Parece que o destino também quer essa reconciliação nos obrigando a ficar juntos no mesmo ambiente por tanto tempo.

—Parece que até o destino quer que tenhamos essa conversa. —eu disse.

—Não temos o que conversar. —ela rebateu sem me olhar.

—Sabe que temos. —eu disse e ela continuou virada na direção contrária do meu olhar.—O que tivemos não significou nada pra você? —eu me aproximei. —Olha nos meus olhos se tiver coragem e diz que não sente nada por mim.

Ela exitou, eu estava bem perto dela de forma que ela não conseguia se mexer, ela me olhava fixamente mas não dizia uma só palavra.

—Não posso mentir. —ela finalmente disse algo olhando pra mim.

—Eu sempre deixei muito claro que sou louco por você, que eu moveria montanhas pra te ver sorrir,  que eu quero que seja minha pra sempre...mas você nunca me disse o que sente de verdade, eu não entendo o porquê.

—Eu não quero te magoar, Julian. —ela disse encostando a mão no meu peito pra me afastar. —Eu também gosto de você, gosto muito mesmo, mas... —ela deu uma pausa.

—Mas também gosta do mestre Tácio, né? —completei sentindo o peso da frase que acabara de dizer e tamanha raiva que isso me causava.

Ela me olhou assustada, como se eu tivesse acabado de arrancar um segredo de dentro dela, mas não negou.

—É impossível ele te amar como eu amo, Kira. —eu disse me aproximando novamente.

—Não é como se eu pudesse escolher, eu não quero te machucar por conta da minha indecisão, Julian. —ela disse me afastando novamente. —Acho melhor nos afastarmos de vez e acabar com tudo isso que tivemos.

Senti aquela frase como se fosse um soco no estômago, a sensação de desespero me consumiu. Eu não queria perdê-la assim, eu não podia. E estava disposto a fazer qualquer coisa pra não deixá-la.

—Me deixa te mostrar que sou melhor pra você, que podemos ser feliz juntos, me deixa fazer você esquecê-lo de uma vez por todas.—eu disse com tristeza na voz—Eu te amo muito pra te perder assim, miss simpatia... —meus olhos estavam lacrimejando tamanha dor que eu sentia.

Kira fechou os olhos quando toquei seu rosto, e assentiu com a cabeça, também em lágrimas.

Ela me deu o seu sim, mesmo que sem palavras, eu sabia que ela estava dando uma nova chance pra nós dois.

E em um ato familiar pra nós, nossos lábios se encontraram delicadamente.

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