6 - Até que você é legal

2.1K 168 19
                                    

Kira

O mestre Tácio pode até ter me subestimado no começo por me julgar pela aparência... Mas receber a validação dele pra mim naquele momento, foi mágico.
Parece que toda força dentro de mim se reacendeu em um instante.

Sinto que esse cara vai me ajudar a atingir o meu objetivo, que é viver do Muay Thai e trazer minha família pra perto de mim.

No final do treino alguns alunos vieram falar comigo, e até mesmo a Dandara veio me dar os parabéns pela luta, o que me deixou bem feliz.

Na saída do ISC, encontrei Julian novamente.

Ele pode até ser um pouco intrometido, mas sinto que ele tem o coração bom.
Sou um pouco fechada para pessoas que não conheço, não tive tanta oportunidade de conhecê-lo de verdade, algumas pessoas me rotulam como séria, antipática, essas coisas... Talvez eu seja mesmo, mas eu não consigo ser de outro jeito.

Cheguei no meu novo prédio e nem descansei, imprimi várias cópias do meu currículo pra entregar pela cidade.
Eu preciso de um emprego pra me manter no colégio e nessa cidade, tenho minhas economias, mas ela não vão durar pra sempre.

Como o prédio fica perto do centro, iniciei minha jornada em todas as lojas, bares, restaurantes, academias que encontrei.
No final do dia eu estava esgotada, mas ainda tinha um restaurante no fim da rua: Raices colombianas.

A música animada em espanhol, mais todas aquelas cores e desenhos nas paredes, trazia ao ambiente muita alegria.

Entrei procurando a gerência, mas não obtive nenhum sucesso.

Todos os funcionários pareciam ocupados e...

Espera aí... Eu conheço aquele garçom sorridente.

—Juliano? —perguntei.

Julian, que estava com uma camisa social branca, um bloquinho na mão, e uma caneta atrás da orelha andando rápido, paralisou ao me ver.

—E aí, doçura! Bem vinda ao Raices! Já tem uma mesa? Quer que eu arrume uma pra você?!

Ele estava elétrico, provavelmente ocupadíssimo, o restaurante estava lotado e eu só via ele e o amigo dele atendendo.

—Na real, vim deixar meu currículo, e não jantar.

—Uau! Eu adoraria ter uma colega de trabalho tão doce.—ele piscou pra mim, pegando uma cópia.

—Julian! Hijo de madre, onde estão los pedidos? —O amigo dele perguntou irritado.

—Queria ter tempo pra ficar conversando com você, mas o dever me chama!

E saiu apressado.

As vezes gosto do jeito dele.

Na mesma noite, Uma mensagem no meu celular com a foto do Julian no perfil.

Julian: Peguei seu número no seu currículo, espero que não se importe e... Meus chefes pediram pra você ir até o Raices amanhã, querem te conhecer!

Kira: Ok, Juliano.

Julian: Você é séria até por mensagem

Kira: Essa é a minha versão simpática.

Julian:

Kira: 😬

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Kira: 😬

Julian: Tá em casa? Quero te mostrar algo.

Kira: O que?

Julian: Se quiser saber o que é, saia pra fora.

Nossas portas ficam literalmente uma de frente pra outra. Assim que abri a porta, Juliano estava lá com o celular na mão.

—Curiosa, pão de mel? —perguntou.

—Espero não me arrepender.

—Vem comigo. —disse e eu o segui.

Caminhamos até o elevador.
Ele apertou pro último andar.

Já eram quase 23:00 da noite, e lá estávamos nós no último andar, e subindo a escada que dava pro teto do prédio.

—Só eu subo aqui em cima, até porque... aqui nesse prédio só tem idosos, eles não aguentam subir essa escada. —ele disse enquanto subíamos.

Quando finalmente chegamos, parecia que eu estava em outra realidade.

Daqui de cima tudo parece tão tranquilo, as luzes das cidades resplandecendo, a pouca movimentação nas ruas, o vento gelado batendo no rosto.
Uma sensação de paz envolvente.

Julian se aproximou da ponta, e olhou para as luzes mais distantes. Caminhei pra perto dele.

—Esse é o meu lugar preferido do prédio, venho aqui quando quero pensar, ou então... parar de pensar nos problemas. —disse, sem tirar os olhos das luzes.

—É incrível. —eu disse também olhando pra longe.

—Assistir o nascer do sol aqui é de tirar o fôlego.

—Eu imagino. —disse admirada.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.
O frio de lá de cima fazia eu tremer. Mas eu não tinha vontade de ir embora.

Não tinha percebido que Julian tirou seu casaco até ele o estender pra mim.

—Não, pode ficar com seu casaco, estou bem. —eu disse, claramente congelando.

—Ele fica melhor em você do que em mim, e além disso você não está no ring, não precisa tentar ser durona. —ele disse me cobrindo com o casaco.

—Não tô tentando ser durona.

Ele sorriu.

—Está sim.

—Você nem me conhece, Juliano. Como pode supor algo sobre mim?

—Tem razão. Sendo assim, Kira wainberg, eu gostaria de te conhecer melhor. —ele disse olhando pra mim.

—Não gosto de falar sobre mim. —disse.

—Então como eu vou te conhecer de verdade? Vamos lá, eu farei perguntas e você só responde se não for informação demais pra alguém que você conhece há uns.. 3 dias?

—Ok, Juliano. O que quer saber sobre mim?

—De onde você surgiu?! E por que veio morar justo aqui nesse prédio onde só tem velhinhos, e nessa cidade onde o único evento grande é a feira no domingo?

Eu ri.

—Estou aqui por causa do ISC, sempre foi meu sonho ser treinada pelo mestre Tácio, e estou realizando. Eu tenho certeza que ele vai me tornar uma estrela.
O prédio é o mais perto do Instituto, e é bem localizado no centro da cidade,  preciso de um emprego pra me sustentar aqui. O meu sonho é trazer minha família pra perto de mim.

—Temos sonhos parecidos. —ele disse se sentando no chão, fiz o mesmo. —O meu sonho é ser um grande astro no basquete, ser famoso e reconhecido, mas além disso, quero trazer minha mãe pra perto de mim novamente, fazer com que ela não dependa mais do meu pai.
Eu moro aqui há 2 anos, eu vim pra cuidar de meu avô que não estava muito bem, você ainda não o conheceu, mas garanto que será a pessoa com o coração mais bondoso que você vai presenciar na vida, eu alinho os meus treinos no ISC ao meu trabalho no Raices Colombianas, que serve pra manter a gente.

—Que gesto bonito, Juliano. Eu espero que você consiga realizar o seu sonho.

—E eu, tenho certeza que nós dois vamos conseguir realizar nossos sonhos. —sorriu.

—Até que você é legal, Juliano. —confessei olhando pra longe.

—Ah eu sou? E você achou que eu fosse chato?

—Achei que você fosse só mais um garoto qualquer, sem personalidade, vazio de pensamentos futuros, cuja única preocupação é: "quantas eu vou conseguir pegar em uma noite?"

—Isso foi muito específico, Kira. Traumas com namorados do passado?

—Informação demais!

.

.

.

ImprováveisOnde histórias criam vida. Descubra agora