54 - Decisões

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Kira

—Não se preocupe em me dar uma resposta agora, pegue meu contato. —Chloe Mercer me entregou um cartão e se despediu.

O triplo do que eu recebia.

Isso é muita coisa.

Meu estômago parecia dar cambalhotas só de pensar o quanto esse dinheiro ajudaria a minha família.

Mas não se trata só de dinheiro, é meu sonho também.

O muay thai foi o que me manteve viva até hoje.

—O que ela falou no seu ouvido que te deixou assim? —O mestre perguntou.

Nada demais. —Menti e continuei cumprimentando o restante das pessoas.

—Ela te fez uma boa proposta, certo? —Ele segurou meu braço.

Apenas balancei a cabeça afirmando.

—E então? —perguntou. —Vai aceitar?

—Ainda não pensei sobre isso, mestre.

Eu preciso pensar muito bem antes de tomar essa decisão.

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Julian

A quadra onde acontecem os treinos do Águias de elite, poderia facilmente ser comparada a alguma das arenas da NBA.

O time estava em aquecimento quando eu cheguei, fui apresentado e logo em seguida já estava aquecendo com eles.

O treinador dividiu o time em dois, e apitou indicando o início da partida.

O time adversário começa dominando, mas logo a bola muda de mãos, e agora somos nós no ataque. Eu recebo um passe e começo a driblar.

A bola está em minhas mãos, e eu sinto a textura da superfície enquanto giro-a levemente para encontrar a melhor pegada.

Driblo a bola algumas vezes para me aquecer, sentindo uma vibração em minhas mãos a cada quique. Olho para os meus companheiros de equipe, trocando olhares rápidos para nos comunicarmos silenciosamente sobre nossa estratégia inicial.

A defesa adversária está forte desde o início, e é difícil encontrar um espaço para seguir em frente. Decido passar a bola para o nosso armador, que iniciou o ataque. Estou constantemente em movimento, procurando uma abertura na defesa.

O armador passa pra mim novamente e consigo fazer uma enterrada histórica, que até eu mesmo fico impressionado.

Depois da primeira cesta, parecia fácil pra mim, e foram mais e mais cestas.

O treinador apita o final do jogo e com um sorriso largo, aperta minha mão e anuncia.

—Bem - vindo ao time, Julian.

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Kira

Durante o restante da semana, depois da minha despedida oficial das passarelas, a proposta da Chloe ficou rondando em minha mente.

Aceitar significaria abrir mão do meu sonho de ser um dia uma grande lutadora de muay thai, mas traria a estabilidade financeira para minha família que eu também tanto sonho.

Todos esses pensamentos me cercavam enquanto eu me preparava pra subir no ring do ISC, seria a primeira vez em 6 meses sem lutar.

Consigo me lembrar claramente do dia em que subi nesse ring pela primeira vez e venci com classe, eu tinha plena confiança em mim mesma, mas agora é diferente. Me sinto fraca, e basta olhar para mim pra perceber que realmente estou fora de forma, 10 kg abaixo do meu peso, nenhuma das meninas tinha minha faixa de peso para lutar com justiça, mas eu decidi encarar mesmo assim.

—Rosa, faça as honras e dê boas vindas, você vai lutar com a Kira. —O mestre anunciou.

Rosa me cumprimentou com o abaixar de cabeças e toque de nossas luvas.

A Rosa parecia perfeitamente preparada, e eu tenho certeza que estava.

Eu entro no ringue, meu coração batendo forte no peito, uma mistura de empolgação e nervosismo tomando conta de mim. As luzes brilhantes ao meu redor parecem ampliar a minha sensação de exposição. Estou prestes a enfrentar a Rosa novamente, que um dia foi treinada por mim e hoje, está bem mais preparada que eu.

O gongo soa e a luta começa. Meus músculos estão tensos, e eu tento controlar meus exercícios enquanto ela parece confiante. A primeira troca de golpes é cautelosa; ambas estamos tentando nos acostumar com tanto tempo sem lutar juntas.

Com o tempo, ganhei um pouco de confiança e comecei a lançar alguns golpes. Meus chutes são precisos, e eu consigo acertar alguns socos. Mas a Rosa é ágil, desviando-se e bloqueando muitos dos meus ataques, a sensação de desespero começa a surgir.

À medida que os rounds avançam, percebo que estou ficando muito cansada. Meus movimentos começam a ficar mais lentos e minha defesa começa a enfraquecer. Rosa aproveita essa oportunidade e começa a lançar uma série de ataques rápidos. Eu tento revidar, mas meus reflexos estão diminuídos.

Nem todo meu conhecimento de técnicas é o suficiente para me ajudar, não sou forte o suficiente para revidar, eu estou perdendo a luta. Sinto o gosto de sangue na boca e dor latejando em meus músculos. Eu continuo lutando, tentando encontrar uma abertura, mas meu corpo está cansado e meus movimentos estão cada vez mais descoordenados.

No último round, estou determinada a dar o meu melhor esforço final. Lanço uma sequência de golpes, mas a Rosa se esquiva habilmente e contra-ataca com um chute potente que atinge meu corpo. Tropeço resistente, e ela aproveita a oportunidade para lançar mais ataques, me acertando com socos precisos e chutes devastadores. O som do gongo finalmente ecoa, e a luta chega ao fim, eu beijei a lona.

A Rosa me deu um abraço, deixando a informalidade de lado.

Eu me sentia envergonhada, não por ter perdido a luta, mas sim por ter esperança de ganhar. Eu já não sou a mesma pessoa de 6 meses atrás, tudo mudou.

A forma como os outros alunos me olhavam era com um olhar de pena, e isso era ainda pior do que a sensação que percorria dentro de mim.

A resposta que eu precisava veio a mim em uma rapidez cruel. Eu não sou mais lutadora.

Ao final da aula, todos os alunos foram embora e ficamos apenas o mestre e eu.

—Recomeçar será difícil, minha pequena. —ele me envolveu em uma abraço. — Treinos intensos, dieta regrada, mais treinos na academia. Vai demorar um tempo.

—E é por isso que eu já tomei a minha decisão, mestre.— eu o olhei, controlando minha vontade de chorar. —Vou voltar para as passarelas.

—Assim que se fala, minha garota. —Ele segurou meu rosto, me olhou no fundo dos olhos. —Você tomou a melhor decisão. —E me beijou no canto da boca.

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