45 - Irmãzinha

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Julian

A minha criança interior nunca se curou da culpa de não ter sido bom filho o suficiente para que meu pai gostasse de ficar por perto. Eu sempre me culpei pelos erros dele, e agora, vendo que a Maitê têm tudo que eu nunca tive fez eu me sentir com 7 anos novamente, quando eu chorava pedindo para que meu pai não fosse trabalhar, mas ele sempre ia.

A pior parte de estar hospedado no mesmo hotel que ele, é que por mais que eu tentasse fugir, eu constantemente o via passeando com a nova família dele. Eles são o retrato perfeito de uma família feliz. O meu peito estava apertado, a minha vontade era de ir até aquela mulher e dizer pra ela o canalha que está ao lado dela, dizer que ele é casado e que eu sou filho dele.

—Oi Julian! —Maitê me cumprimentou. Ela se lembrou do meu nome.

O meu pai me olhou profundamente. A mulher dele, Stella, também me olhou, curiosa para ver quem a filha estava cumprimentando.

Kira gostou de andar a cavalo, e lá estávamos nós mais uma vez na fila perto deles. Era inegável que a genética do nosso pai nos trouxe muitas semelhanças, acho que no instante em que me olhou, Stella notou isso.

—Oi Maitê. Você gosta mesmo dos cavalos. —Eu disse ignorando os olhares dos dois.

—Eu adoro! estou pensando em um nome legal pra dar pra ele, mas eu não sei qual nome colocar. —Ela apontou para um dos cavalos.

—Hmmm... —pus a mão no queixo. —Que tal Alfafa?

—Eu adorei! —Ela deu pulinhos de alegria. —Papai, podemos levar o Alfafa?

—Podemos tentar, filha. —O meu pai sorriu pra ela.

—Amor, não inventa. —Stella disse entre os dentes. —Onde vamos colocar um cavalo?

—Relaxa, amor. Ela têm 5 anos, amanhã já esqueceu.

Meu estômago embrulhou. Quando eu tinha a idade dela, eu também pedi um cavalo pra ele em uma fila como essa, e a minha mãe disse a mesma frase. a sensação era estávamos sendo substituídos.

Tentei ignorar meus pensamentos, enquanto observava a Kira se divertir andando a cavalo, ela estava ficando boa nisso. Tirei diversas fotos espontâneas dela. Tirando o fato de ter descoberto que meu pai trai minha mãe há anos, eu estava feliz, só por vê-la sorrir.

Eu só notei que meu pai não estava mais na fila, quando ouvi a Maitê chorar porque ela não podia subir no cavalo sem acompanhante, e a mãe dela estava com medo de subir com ela.

—Vamos, meu amor. Quando o papai voltar, ele sobe com você. —Stella dizia na tentativa de acalmá-la, mas não estava dando certo.

—Eu posso subir com ela, se você concordar. —Eu disse.

—Por favor, mamãe. —Maitê dizia entre lágrimas.

—Obrigada. —Stella disse com o olhar sincero.

Maitê segurou minha mão. E nós conseguimos subir justamente no Alfafa, o cavalo recém batizado que ela gostava.

Kira me olhou surpresa, mas com um sorriso estampado enquanto dava voltas com seu cavalo. Eu também estava surpreso, não sei o que deu em mim, quando a vi chorar, sabia que tinha que fazer algo. Afinal, é minha irmã, por mais que eu negue o meu sangue até o fim, ela continuará sendo minha irmã, e pensar nisso não parecia ruim ao ouvir aquela risadinha fofa e sentir o cheirinho de bebê que ela têm.

Ela estava tão feliz e isso aqueceu o meu coração.

Nem mesmo o olhar do meu pai ao voltar e ver a cena me intimidou. Ele parecia confuso.

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