Improváveis

21 - Amuleto

Kira

Parei de andar imediatamente pra atender o celular.
Minha mãe não costuma me ligar, normalmente sou eu quem ligo, então uma ponta de preocupação se acendeu em mim.

—Alô? Mãe? Aconteceu alguma coisa?

—Oi Kira, sou eu o Tomás. Eu pedi pra mamãe ligar porque parece que você esqueceu que tem irmão.

Meu coração apertou de saudade.

—Eu jamais me esqueceria de você tom, eu me lembro de você todos os dias.

—Quando que você vai cumprir a sua promessa de me levar pra sua nova casa? Eu quero te abraçar e depois brincar de lutinha com você.

—Está perto tom, eu não posso te trazer agora, mas em breve você vai estar aqui comigo e eu vou poder te apertar muito e te ensinar vários golpes.

Eu me sentei na calçada, Julian me observava atento, e sentou ao meu lado.

—Você promete?

—Eu prometo.

—Sinto sua falta. A mamãe não fala muito, mas ela também sente.

Minha mãe tem depressão, e as vezes ela fica no mundo dela por várias horas, mas mesmo assim cuida do Tomás o máximo que pode. Ela trabalha fazendo faxina em uma casa de madame enquanto o Tomás estuda em um colégio integral, ele passa a maior parte do tempo na escola e eu fico menos preocupada, porque tem dias que minha mãe não consegue nem sair da cama, fica difícil cuidar de uma criança de 8 anos totalmente dependente dela.
Eu precisei deixá-los porque quero mudar isso, quero ganhar dinheiro o suficiente pra mudar nossas vidas, e vivendo naquela bolha, na cidade pequena em que nascemos, eu jamais seria vista.
O Muay Thai não é tão valorizado de onde eu venho.

—Como ela está?

—Ela está deitada aqui do meu lado. Está assistindo TV, parece bem.

—Me deixa falar com ela?

Ouvi o Tomás passar o telefone pra ela.

—Oi filha, como vão as coisas no emprego novo?

—Vão bem mãe, estou conseguindo me manter e pagar o colégio. E em casa? Falta algo pro Tom? Pra senhora?

—Não falta nada, querida.

—Tenha um pouquinho de paciência, eu já já estou voltando pra buscar vocês.

—Sei disso, meu bem.

—A senhora se alimentou hoje?

—Sim, filha. Não se preocupe.

—Cuida bem de você e do tom, tá?

—Vocês dois são o motivo da minha luz não se apagar.

Fiquei com uma vontade absurda de chorar, mas me segurei pra parecer forte.

—Te amo, fica bem.

—Também te amo, filha.

Desliguei o celular, respirei fundo tentando não chorar.

—Era sua família? —Julian perguntou de mansinho.

Assenti com a cabeça, enquanto limpava algumas lágrimas insistentes.

—Meu irmãzinho me ligou pra saber sobre a promessa que fiz.

—Irmãozinho? Não me contou que tinha um irmão.