(Vol. I) Memórias III │Conto de fadas.

3.1K 353 81
                                    

As ruas ao anoitecer se tornavam coloridas com todas aquelas luzes de neon das placas nas lojas, mas nenhuma luz era mais bonita do que apenas uma lâmpada laranja em um velho poste qualquer, rodeada por suas mariposas apaixonadas e besouros insist...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

As ruas ao anoitecer se tornavam coloridas com todas aquelas luzes de neon das placas nas lojas, mas nenhuma luz era mais bonita do que apenas uma lâmpada laranja em um velho poste qualquer, rodeada por suas mariposas apaixonadas e besouros insistentes.

Eu me lembro de entrelaçar meus braços em volta do seu pescoço como se soubesse que ele poderia sumir a qualquer momento, e eu sabia que ele o faria caso não o segurasse perto do meu peito. Daryl sorria quando eu fazia isso parecendo saber do medo constante em meu coração todas às vezes que estávamos juntos.

Estávamos lado a lado muito antes de o meu coração ser entregue. Literalmente, se contarmos o fato de sermos vizinhos. Atravessando muitos anos até a nossa adolescência. E ainda assim havia aquele medo irracional de perdê-lo a qualquer momento em meu inconsciente. Talvez por culpa do abandono e negligência que recebi de todos os adultos desde criança, ou talvez por ele ser completamente inconstante e isso me assustar como o inferno.

Mas todo mínimo centímetro de mim sabia que valia à pena arriscar. Viver aqueles poucos dias valeriam por uma eternidade de felicidade. Eu sabia disso quando não conseguia parar de sorrir todas às vezes que o via, todas às vezes em que estava com ele, ou pensava nele. Toda aquela merda valia à pena mesmo que não durasse.

Meus lábios sempre encontravam os seus todas às vezes em que eu precisava confirmar que ele estava ali. E suas mãos desciam por minha cintura quando suas palavras simplesmente não conseguiam sair.

"Eu estou aqui agora. Não sei por quanto tempo, mas aproveite, eu estou aqui." Era o que as palavras queriam dizer, mas elas nunca eram ditas. Eu apenas lia em seus olhos azuis todas às vezes que afastávamos os rostos um do outro. Sabia que poderia confiar por hoje, mas por quanto tempo?

Daryl estava sentado sobre a moto preta em frente à um bar country decadente no final da rua sem saída. Eu não tinha idade suficiente para entrar, então nos contentarmos em ficar no estacionamento esperando as cervejas que os mais velhos traziam de vez em quando. Não queríamos correr o risco de termos problemas com a polícia de novo. E ficarmos juntos longe dos outros e apenas ouvindo o som abafado da música vindo de lá de dentro era muito melhor.

Suas mãos em minha cintura desceram lentamente por minha lombar até alcançarem a minha bunda e me apertarem para mais perto do seu corpo entre suas pernas. Abracei ainda mais o seu pescoço enquanto buscava os seus lábios com aquela vibração percorrendo toda a minha pele. Uma ansiedade que se tornava cada vez maior e mais intensa à medida em que ficávamos mais tempo juntos. Era incontrolável.

— Por que vocês não procuram uma moita qualquer?! — A pergunta alta nos fez parar e virar exatamente para Merle que se aproximava por trás de nossas costas. — Não dá pra transar de roupas, seus putos. — Ele passou por nós com um riso imoral enquanto outros caras o acompanhando riam logo em seguida antes de sumirem através das portas de entrada do bar logo acima.

— Está ficando vermelha. — Daryl comentou com um riso contido ao me encarar quando nos afastamos minimamente. Eu suspirei fundo mostrando-me um pouco constrangida.

— O seu irmão é um babaca, você sabe disso. — Comentei brincando com a lapela da sua jaqueta, apesar dele não me deixar afastar muito, segurando-me ainda pela cintura. Encarei as horas em meu relógio de pulso dourado e logo outro suspiro escapou por meus lábios. — Eu preciso ir. — Avisei desanimada.

— Não pode ficar mais um pouco? — Perguntou pedinte com a voz baixa, revelando o seu leve sotaque sulista no meio de uma exigência mimada. Eu sorri em consideração, mas não poderia atendê-lo.

— Realmente preciso ir. A essa altura a minha mãe já adormeceu com o whisky na mão e se eu não estiver em casa quando ela acordar provavelmente vai ter um ataque histérico de novo. — Expliquei em um tom cansado ao apertar meus lábios logo em seguida.

— Por que não vamos embora daqui? — Perguntou como se fosse uma proposta séria. Mas eu sabia que decisões impulsivas só fariam as coisas piorarem cada vez mais para nós. — Estaríamos longe dessa cidade de merda antes do amanhecer. — Comentou encarando os lados do estacionamento como se planejasse.

— Uma vida com você é um sonho da mesma forma que uma vida sem você não existe. — Comentei com um sorriso de piedade enquanto tentava consolá-lo. — Mas você sabe que a minha mãe te odeia e eu ainda não sou emancipada. A polícia nos acharia. Eu voltaria para o inferno e você para a cadeia. — Avisei com tristeza enquanto tentava arrumar sua franja passando meus dedos por seu cabelo.

— Hhum, eu não tenho medo daquela vadia! — Ele avisou impaciente sem qualquer problema em xingar a minha própria mãe. E não havia problemas nisso, a minha mãe nem merecia ser chamada como tal. Todos naquele maldito bairro conheciam a nossa história graças as várias visitas da polícia em nosso trailer.

— E nem deveria! — Eu avisei tentando reforçar a sua coragem sem me importar. Se existisse alguma saída para aquela vida eu não conseguia imaginar uma que não houvesse aquele garoto na linha de frente. — Eu também não tenho. — Dei de ombros concordando com suas palavras. — Aonde já se viu? O príncipe encantado com medo dos dragões que o esperam? — Brinquei tentando fazê-lo esquecer aquelas frustrações.

— Príncipe? — Questionou surpreso soltando um riso mais aberto assim que ouviu aquela palavra. — Quer dizer que agora eu sou a porra de um príncipe? — Ainda debochava fortemente e me fez rir junto com ele.

— Não! Eu estava falando de mim! — Respondi rápido ao pegá-lo de surpresa. — Não se preocupe, princesa, eu tenho tudo sobre o controle! Vamos, suba no meu cavalo. — Debochei o fazendo rir mais enquanto me abraçava um pouco mais forte. E por enquanto viveríamos de improviso. Apenas alcançando cada dia com o melhor que poderíamos.

Eu gostaria de saber o exato momento em que Daryl assassinou e enterrou aquele garoto que eu costumava conhecer. Mas confesso que, mesmo naquela época, eu conseguia ouvi-lo quebrar aos poucos.

Fui tola demais por ignorar isso.

Fui tola demais por ignorar isso

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
STING [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈] daryl dixon⼁The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora