- Sargento Taboada! Sargento Taboada!
A apreensão nas vozes de Jéssica e irmã Imaculada não passou despercebida ao policial, que saiu do posto para encontrar as duas, dotadas de emoções distintas em seu rosto. A comerciante, mais impaciente, cruzou os braços como se Taboada tivesse demorado séculos até chegar; enquanto a freira manteve as duas mãos à frente, tentando controlar a tensão.
Foi a própria Imaculada quem deu o primeiro passo e comentou:
- Sargento, nós... Vimos um grupo de homens estranhos próximos à ocupação dos sem-teto medindo, observando... Eles me lembraram os homens que invadiram o prédio naquele dia... Quando o pessoal foi salvo por aquele senhor...
- Ah, Leon? Sim, Raposo e delegado Lobo me contaram. Às vezes ele dá as caras aqui, bebe uns tragos em um pé-duro aqui na vizinhança.
Imaculada não escondeu a surpresa.
- O senhor conhece... Ele?
- Sim, mas só de cumprimento. Bora logo ver o que essa gente tá fazendo e ver se dá pra prender uns desocupados!
Tanto Taboada quanto outro policial, de prenome Vinicius, seguiram a pé, subindo a Avenida Sete e fazendo o percurso ao contrário dos carros. Assim que viram o grupo se aproximando do prédio, os homens misteriosos se entreolharam e caminharam com alguma pressa na direção do relógio de São Pedro, enquanto Taboada e Vinicius começaram a falar alto "parem, voltem aqui!" e as duas jovens optaram por entrar no prédio da ocupação.
A polícia resolveria aquela questão, não elas.
- Eu confesso que não vi nada, nenhum barulho.
- Cê tem certeza, Manuela? - Jéssica não podia acreditar nas palavras da líder da ocupação. O movimento lhe parecia óbvio do lado de fora.
- Mas o prédio é muito grande, Jéssica, e eles estavam trabalhando de forma discreta. -explicou Imaculada.- Eu não estou chocada, Manuela ou qualquer outra pessoa não teria notado a movimentação deles especialmente porque esses homens estavam todos de preto. Se camuflando, usando a noite como uma forma de disfarce. Mas a polícia ficará de olho em tudo e não vamos pensar nisso por um tempo. - virou-se para a comerciante e sorriu. - Jéssica trouxe comida! Eu quero saber como estão as crianças.
As três pessoas que conversavam no escritório do delegado Lobo sempre me chamaram atenção nessa narrativa por terem objetivos muito distintos em suas existências. O mais engraçado era que dois desses objetivos se casavam e talvez as duas pessoas que possuíam essas coincidências ainda não tivessem notado que deveriam estar unidas há mais tempo do que pensavam.
Até mesmo irmã Imaculada, que teoricamente não deveria ser a pessoa mais versada nas coisas dos sentimentos, notava que a temperatura na delegacia - especificamente no escritório do delegado Lobo - se modificava para algo ligeiramente mais quente quando ele e Jéssica estavam no mesmo recinto.
- Foi um grande perigo a senhora estar nessa Scooter e passar por esses homens, porque se eles descobrissem que vocês estavam observando eles, podiam sofrer algo muito grave!
- Não se preocupe, doutor Lobo! A gente passou direto e seguiu até o posto policial! Sargento Taboada e policial Vinícius foram atrás dos caras! Eu só não sei o que deu depois!
- Taboada falou comigo por telefone, e disse que eles fugiram em alta velocidade em carros. Mas ele também não gostou nada de ter esse bando dando voltinha, rodeando o prédio. Não é a primeira vez que eles fazem isso, e provavelmente não será a última. Aquele prédio está sendo alvo de uma forte especulação imobiliária por parte de uma construtora: eles vão construir um hotel e a prefeitura já liberou a construção; eles querem tirar as pessoas de lá e construir logo o hotel.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...