Segunda-feira e segundo capítulo seguido de "O Leão e a Ovelha" - e aqui, eu confesso nunca ter rido TANTO com um diálogo - que eu escrevi.
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O silêncio no convento das freiras mercedárias, que era sempre interrompido com os barulhos longínquos das crianças na escola, adolescentes gritando, e um pouco mais distante os pequenos que ainda viviam no abrigo pertinho do convento, também foi interrompido por outro som - mas não o que eu falei anteriormente.
Os barulhos vinham das freiras.
- A Madre Superiora comentou a respeito da chegada do padre que faz nossa confissão!
- Mas padre Walter já não faz essa confissão regularmente, irmã Rita?
- Sim, mas a Madre Superiora gosta muito de trazer padres de outros lugares para as confissões. Ela sempre diz que é bom conversamos e ampliarmos nossas visões, opiniões, especialmente quando nossos pensamentos estão sempre próximos ao Paraíso!
- Ouviu, Imaculada? Temos a visita de um padre ao convento e fazermos a nossa confissão!
Imaculada que regava as plantas do pequeno jardim vizinho à horta onde as freiras buscavam os temperos que deixavam as comidas mais gostosas, parou o que fazia e observou a outra religiosa com o cenho franzido.
- Mas... No mês passado, tivemos uma semana de confissão com padre Walter...
- A Madre Superiora disse que é sempre importante trazer outros padres para fazer as confissões, sempre com os nossos corações e mentes voltados ao Pai.
Aquelas palavras calaram fundo no coração de Imaculada, que há uma semana mal colocava os pés para fora do convento. Questionada pela Madre Superiora e outras figuras sobre seu período de claustro se exceder mais do que habitual - já que ela costumava fazer suas missões às madrugadas, Imaculada contou uma mentira; talvez a última que precisasse falar antes daquela confissão que lhe parecia bem-vinda.
- Eu precisava de um pouco de descanso e de um tempo para mim... A fim de que possa voltar para as minhas missões na rua com mais força... As coisas estão tão difíceis lá fora...
As irmãs pareciam entender a explicação da jovem e não perguntaram mais. Entendiam que a rotina da jovem era cansativa, no corpo e na mente. Contudo, elas mal sabiam que Imaculada se via em meio a um conflito interno. Ela queria retornar para as suas missões, mas sabia que encontraria na rua sua maior tentação.
Era por isso que ela precisava daquela confissão.
- Já informaram então quem será o padre? Será que é padre Vissotto?
- Tomara que não, eu não entendia nada! O sotaque italiano dele era tão carregado...
- Pelo que irmã Helena me disse, o nome do padre é... Padre Leão.
A carta recebida pela Madre Superiora, vinda da congregação, indicava que padre Leão era mais novo, e tinha saído há pouco tempo do seminário. A religiosa ficou bastante satisfeita com a informação: geralmente os religiosos que não tinham tantos anos de vivência como padres sempre costumavam ser mais rígidos, porque possuíam a memória dos ensinamentos mais fresca na mente.
Todas as freiras do convento aprenderiam bastante com o padre Leão.
Ela não imaginava que o religioso fosse um homem tão jovem... E, "que Deus me perdoe... Que homem bonito". Com uma pequena mala de couro na mão e a batina negra no corpo, padre Leão se colocou em pé no corredor silencioso do convento, aguardando para os cumprimentos da madre. Mesmo com a batina maior do que seu corpo, ele se destacava pelo tamanho: era bem mais alto que todas as mulheres que se encontravam, e em toda a sua presença, era bastante forte e vigoroso, bem longe da imagem piedosa e frágil de um padre.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...