Em primeiro lugar, MIL DESCULPAS pelo atraso neste e em outros capítulos... Porque tudo vai atrasar, infelizmente :( Estou produzindo um conto para uma coletânea e a edição durou mais do que eu imaginava. Em breve, a antologia sai na Amazon, então vocês vão saber o que eu estava produzindo.
Enfim, aqui está o capítulo que sairia na segunda-feira. Espero que gostem.
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A música que tocava na boate era mais lenta do que as agitadas que mesclavam dance, pop e funk carioca, e quem estava acompanhado dançava junto, enquanto outros levavam uma das mãos ao peito e a outra erguida, de punho fechado, como se dançassem com uma pessoa invisível.
O casal que estava no centro oscilava entre ouvir o ritmo de "Talismã", de Iza, e tentar conversar, mesmo que o som da música atrapalhasse o diálogo. Então, o homem, que segurava a mão da jovem com firmeza, o polegar brincando com a suavidade do dorso, a conduziu até as escadas da boate, os dois subindo até um andar onde ficava o bar, uma varanda envidraçada com vista para a rua no Rio Vermelho.
Ele pediu ao barman uma água e dois copos de plástico, e caminhou até a jovem que o acompanhava na festa. Ela agradeceu baixinho, e pegou o copo.
- Não bebo quando dirijo.
- Mas você anda por aí sem capacete na moto.
- Reconsiderei por uma noite por sua causa, Francisca.
A jovem bebeu um gole de água, enquanto os lábios se convertiam em um sorriso.
- Não deveria seguir as leis de trânsito apenas por minha causa, Leon.
- Por que não, meu amor? – um selinho fez Francisca assentir, bebendo novamente mais um gole de água.
O local onde estavam era mais tranquilo para conversar – a música era ouvida ao longe e o barulho das conversas simultâneas não afetava a escuta do casal.
- Como foi a primeira semana de aulas?
- Um desafio a cada dia. Tem turmas que são mais tranquilas, outras ficam desafiando a gente, em especial porque eu sou professora nova e – apontou para o próprio rosto, sem maquiagem carregada, apenas um gloss nos lábios e sombra leve, em tons de rosa, nas pálpebras. – enfim, eles me acham quase uma colega de sala. Mas eu tenho uma estratégia pra acalmar a turma. Eu começo a falar bem baixinho, quase sussurrando.
- Resolve?
- Sim, em especial quando coloco no quadro que aquele é um assunto de prova e deixo até a questão escrita. Se não entenderem na aula, a primeira avaliação do bimestre será o suficiente para eles acordarem.
- Nossa, não sabia que você era malvada assim, Francisca...
- Às vezes as metodologias de ensino não correspondem à realidade, amor...
Leon e Francisca aproveitaram aquela oportunidade para se conhecerem de outras formas – a rotina dela na escola, as pequenas conquistas dele dentro do conglomerado Manfredi, além dos sonhos de Leon, que lhe pareciam utópicos às vezes.
- Por que você acha que não consegue voltar pra sala de aula?
- Não sei... Eu estagiei, era um bom professor, tinha jeito pra coisa, mas... Devo estar enferrujado pra caralho, e desatualizado... Perdi muito tempo com o conglomerado, a construtora, as loucuras de Benício, do desgraçado sênior...
- Vamos dizer que essa não é bem uma desculpa, Leon... Eu também não estou atualizada, estou reaprendendo tudo durante o processo, mas no fim, eu sei que sou professora. Consigo enxergar que de alguma forma, o que eu explico faz sentido para eles, mesmo que os alunos gostem de bagunçar minhas aulas... – riu alto, mesmo que outras pessoas por ali não conseguissem ouvir. – Pense nisso. Não sei quando você vai sair do conglomerado, ou como vai se dividir entre a empresa e a escola, mas não deixe seu sonho de lado.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...