Caçada

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Digamos que começa uma nova fase em "O Leão e a Ovelha..."

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Recomeçar é sempre algo desafiador. Especialmente quando você já tinha um caminho preparado, o recomeço assusta. Você vai seguir por caminhos nunca buscados, nunca avaliados. A chance de se sentir uma falha é alta. O desejo de voltar para a zona de conforto também.

Eu narro a história, então apenas teço observações. Mas fico pensando... Em especial como Imaculada está vivendo neste momento-quer dizer, Francisca está vivendo neste momento. Ela não era mais a freira, não possuía a proteção do claustro.

Agora, ela era uma jovem começando a vida de uma forma bem distinta de outras na sua idade.

Ao menos, ela tinha um bom sistema de suporte. As freiras...

- Não precisa se preocupar com nada. - comentou a Madre Superiora que, para a surpresa de Francisca, foi bem compreensiva quando a jovem decidiu deixar o hábito. – Caso você tenha alguma dificuldade, não hesite em chamar a gente. Além disso, eu já mandei seu currículo para algumas escolas da congregação que estejam procurando professora de filosofia.

- Eu agradeço tanto, irmã. Que Deus e Nossa Senhora das Mercês abençoem o caminho de todas. Nem tenho mais palavras para agradecer pela bondade, pela abnegação, por sempre terem me tratado como parte da família.

- Você sempre será parte da sua família, Francisca. Sempre teve um lindo nome... – repousou a mão no rosto da jovem, que fechou os olhos, sentindo o calor daquele gesto. O conforto. – "Maria Francisca..." A bondade e a abnegação da nossa Mãe... Abençoada sois por São Francisco de Assis... Por isso sempre amou e cuidou dos mais desassistidos, dos mais pobres entre os mais pobres. Você é boa, doce. Forte. Sei que carregará a força deste nome onde quer que vá.

Enquanto ela fazia entrevistas, pensando de maneira realista que talvez ela não conseguisse muitas oportunidades, já que sua experiência como professora foi apenas como estágio, Francisca começava a se reestruturar. Não tinha dinneiro, então contou com mais um apoio: sua amiga Jéssica, que a recebeu em seu apartamento.

- Eu tenho um segundo quarto, que antes era de Pietro. Mas agora ele alugou uma quitinete aqui pertinho, aqui nessa escadinha do lado, que você pode chegar tanto na rua lá em cima quanto na escadinha. É uma graça, bem ajeitadinha, gradeada... Porque é melhor ele chegar em casa aqui por baixo do que na rua de cima. Amiga, de noite é barril dobrado.

- Você já comentou com delegado Lobo a respeito dessa insegurança lá em cima?

- Claro que sim né amiga? Mas não vou ficar pressionando aquele teimoso esquecido. Domingo eu vou lá no churrasco da família dele e tiro essa dúvida, apesar de que eu odeio falar de namoro lá... Eu gosto é de chamego, amiga.

- O namoro tá indo bem! Fico tão feliz por vocês...

Jéssica ostentou um largo sorriso. O amor chegou para ela em um momento surpreendente e Alisson era o homem da sua vida.

- Ele é maravilhoso, e não é apenas isso. Alisson é... Um doce. Essa conversa de ser delegado, durão, é só conversa. Ele é muito gentil e todos na família dele são perfeitos.

A jovem observou o quarto, que de acordo com a comerciante, era pequeno; todavia, Francisca entendia como uma questão de perspectiva: o aposento era maior do que o claustro em que vivia. A janela dava para os fundos do bar, com um matagal e uma árvore enorme e frondosa cobrindo a paisagem. Além do matagal, era possível ver, com alguma dificuldade, o muro onde ficava a sede de uma autarquia de transporte. Por conta dessa configuração, Francisca ouvia vários barulhos durante o dia: os bares próximos, carros indo e voltando, conversas em voz alta, buzinas, e nas madrugadas, um silêncio o qual já estava acostumada, por conta do silêncio do convento. Jéssica, por sua vez, não gostava muito da ausência de barulhos porque sempre se assustava com alguma gritaria no meio da madrugada.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora