Armadilhas

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O escritório onde Leon Santiago costumava se reunir com as autoridades soteropolitanas era em um lugar neutro, conhecido por poucas pessoas, e pertencia ao próprio executivo.

Aluguel poderia gerar discussões e conflitos, especialmente com Benício, que criaria alguma teoria sobre a existência do escritório e começaria mais uma tentativa de destituí-lo do comando da Manfredi. "Mas como ele faria isso, Leon?", o rapaz sempre avaliava. "Não faço ideia, mas é melhor prevenir do que remediar."

A pessoa que o acompanhava naquela reunião não era um secretário, ou um político de carreira – Luiz Otávio encontrava-se sentado à mesa, uma perna cruzada na outra, a cadeira giratória mexendo de um lado a outro. Ele não parecia nervoso, e sim tentava se distrair antes de começar a falar.

Luiz Otávio só falaria quando Leon terminasse a troca de mensagens no celular.

- Pronto, emoji de coração. – um meio sorriso que não era debochado ou irônico chamou a atenção de Luiz Otávio. "Ele está namorando?". – Fale logo.

O advogado foi surpreendido pela frase rápida de Leon, e pigarreou antes de retomar a postura e dizer:

- Benício surtou. – foi a única coisa que o advogado disse, e a reação de Leon foi apenas as sobrancelhas erguidas rapidamente.

- Me conte uma novidade.

- Jogando coisas para cima, copos... Os empregados estão nervosos. Ele recebeu uma pessoa na casa que creio ser alguém de seu grupo de mercenários.

Leon coçou a barba.

- Me mantenha informado quando ele cometer um belo deslize. Mas... Você não veio aqui falar apenas sobre isso, não é?

O advogado tinha outra informação, vinda de duas fontes: a primeira era uma gravação salva no smartphone, uma voz conhecida de Leon. A outra era um documento que ele apresentou ao executivo, que leu atentamente.

- Então quer dizer que nem que Benício ou a prefeitura queiram muito... Não há chance. O hotel jamais será construído na ocupação da Avenida Sete.

Leon não disfarçou o sorriso. Já imaginava a reação de Francisca, a festa que ela iria preparar para todos na ocupação, o alívio em saber que Manuela e todas as famílias estariam amparadas. Também estariam em outros aspectos, Francisca saberia logo.

De alguma forma, o conglomerado que tanto detestava serviria para ajudar quem realmente precisava. Ele era ou não o diretor de Responsabilidade Social?

- Bem... Acredito que depois de você tomar posse finalmente de tudo... Acredito que poderei me afastar da Manfredi e me aposentar. Creio que não vá me querer circulando pela empresa. Depois de tudo que aconteceu, esses anos todos... A única coisa que eu peço, e você não é obrigado a me dar... Só quero seu perdão. Arturo, ele... Ele contava com minha opinião para muitas coisas, incluindo como lidar com sua mãe, e... Eu fui bem incisivo sobre não assumir a gravidez e...

- Sei disso. Você e o desgraçado sênior já repetiram isso ad eternum. Não precisa se arrastar e beijar meus pés em busca de redenção. – Luiz Otávio engoliu em seco. – Sou um homem falho, mas... Estou tentando mudar. Você terá seu perdão, sim.

Luiz Otávio levou uma das mãos à boca e a outra ao coração, que batia forte, descompassado a tal ponto que ele imaginou estar sofrendo um ataque cardíaco. Nunca imaginou um dia ouvir Leon Santiago dizer que o perdoaria. Ele sempre o odiou, desde a primeira vez que o viu; seu desprezo não era apenas com palavras, mas também ações. Quantas vezes esteve entre seu punho e uma parede do escritório? Não que o considerasse culpado, ele se sentia verdadeiramente merecedor de toda a raiva que Leon despejava, usando-o como um saco de pancadas. Luiz Otávio foi um dos artífices da miséria de Celeste ainda grávida, e foi quem indicou a Arturo que talvez o bebê que ele abandonara realmente era seu filho.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora