As palavras ditas para mim

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Quinta-feira chegou e estamos de volta com mais um capítulo de "O Leão e a Ovelha". Não critiquem a personagem pela decisão tomada gente, não se esqueçam de que Francisca é uma pessoa abnegada...

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Você já fez uma coisa que sabia que ia lhe dar problemas no futuro?

Luiz Otávio, advogado do conglomerado Manfredi, era consciente de que todos os passos que ele dava a partir daquele instante seriam muito problemáticos e difíceis de serem explicados caso Benício descobrisse. Ele não iria dizer que estava investigando o rapaz a mando de Leon, ou que tivera um ataque de consciência; porém, Luiz Otávio sabia sobre os erros que tinha cometido com o filho de Arturo.

Pior: ele entendia que Benício não era a pessoa que todos achavam que era.

Benício de fato era egoísta, ganancioso, elitista, odiava estar errado e fazia de tudo para que as coisas ficassem do seu jeito. "Leon definitivamente tem o rosto do pai, mas o jeito de Arturo ficou com Benício."

Luiz Otávio entendeu que, apesar de Leon ser fisicamente parecido com o pai, a personalidade de Arturo era tóxica e destrutiva. Ele era tão elitista e preconceituoso quanto o próprio Benício, cuja criação não foi nem positiva nem sadia. Arturo vira a mãe de Leon apenas como uma diversão, uma mulher que estava lá para ele se aproveitar por uma noite e nada mais. Por isso, ele jamais pensou em Leon como um herdeiro, até o dia que Arturo foi informado sobre suas dificuldades em gerar filhos e imaginou que talvez o menino que abandonou quinze anos antes fosse dele.

Ao mesmo tempo, o advogado ouvira as palavras diretamente de Arturo – se Leon tivesse nascido negro como Celeste, ele jamais lutaria pela guarda do filho, e "talvez tenha que me conformar com Benício sendo meu único herdeiro, infelizmente." Ainda se recordava do alívio patente no rosto do empresário quando viu a foto 3x4 da identidade do garoto: o menino de cabelos negros cortados rente, a pele branca bronzeada curtida de sol, o olhar sério mesmo adolescente. Para Arturo, nada dele se parecia com a mãe, uma mulher negra, de pele escura: era um menino branco e assim, seria mais fácil para o empresário apresentar Leon aos seus amigos e outros familiares que viviam na Itália.

Porém, quando os anos se passaram e o que ele pensava ser felicidade virou um estado permanente de tensão e ódio, Arturo finalmente entendera a extensão de seus erros e preconceitos. Luiz Otávio ainda se lembrava das palavras do homem, no leito de morte na cama do apartamento luxuoso do hospital onde ele estava internado:

- Eu cometi... Erros muito graves... Deve ser por isso que essa doença está corroendo meu corpo.

- Você sabe que poderíamos ter feito esse tratamento no exterior...

- Tá, tá... Você falou em tratamentos experimentais... Mas eu cansei. Porque eu sei que eu fiz coisa errada. Quando Celeste engravidou, eu tinha que ter feito algo. Casar com ela não, nunca a amei... Mas tinha meu filho... Eu teria ajudado ela... De alguma forma, poderia ser mais presente... Um pai melhor para Leon... Eu poderia ter sido um pai de verdade. Agora eu tenho um sobrinho... Que eu devo ter dado todo o amor que eu deveria ter dado ao meu filho... E o filho que me detesta... Eu não sei como me aproximar... Nunca soube... Tenho tanto amor a dar para ele... E Leon me odeia... Nem sei se no meu leito de morte... Isso será possível...

A forma que Luiz Otávio encontrou para que seus erros fossem compensados era naquela busca. Por isso, após a saída de todos os funcionários da sede do conglomerado, o advogado foi até a sala de Benício, cuja chave ele possuía por estar sempre em contato com o executivo, e buscou documentos, contratos, qualquer coisa que não fizesse sentido por ali – porém, sem que Benício notasse que estava tudo sendo mexido.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora