Cercas abertas

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Quando se tem a certeza dos próprios sentimentos, você sabe exatamente quais são os próximos passos. Quais são as palavras a dizer, qual é o momento em que você fará a grande confissão. O grande dia.

As pessoas cujas histórias conto aqui sabem quais são os seus sentimentos, o que deve ser verbalizado. Suas reações posteriores são diferentes: Leon tinha a certeza de seu amor por Francisca, de que ele queria fazer valer aquele sentimento. Queria contar para o mundo, ansiava em dizer a todos que aquela mulher seria um dia sua esposa.

Francisca também era consciente dos sentimentos que tinha. Ela era apaixonada por Leon, mas a sua mente e seu coração se batiam com algo muito simples: o amor estava dentro dela, sim, ao mesmo tempo em que ela queria viver algumas emoções jamais vivenciadas:

- Não entendi amiga. Que emoções exatamente?

A pergunta foi feita para a ex-freira por Jéssica Monteiro ao voltarem do apartamento onde a jovem estava repousando nos últimos dias, e finalmente terem chegado à casa que ambas dividiam no centro da cidade. A carona foi dada por um motorista contratado por Leon que, se Francisca quisesse, estaria à disposição da jovem para qualquer coisa.

Francisca dispensou a sugestão: as pequenas coisas da vida secular eram apreciadas por ela, mesmo que para muitos, pegar ônibus lotado fosse algo terrível e plenamente evitável, caso fosse possível uma alternativa.

- Na verdade, eu queria viver coisas que eu não vivi na adolescência. Sabe, sair por aí com os amigos, encontrar alguém, e dançar! Eu nem sei dançar, mas... Eu nem tenho gostos musicais definidos! Eu queria ter isso, eu queria saber o que as pessoas... Do que as pessoas gostam, o que as pessoas ouvem! O que pessoas da minha idade gostam de consumir.

- Faz sentido... - replicou a comerciante enquanto abria a janela do quarto para levar vento fresco ao aposento. - Até porque você ficou nos primeiros tempos tão preocupada em procurar emprego, e se ajustar, e acabou deixando de lado a parte da diversão. E nós sabemos que a parte dos sentimentos tá meio travada porque você gosta de Leon.

- Sim... – levou a mão aos lábios, e Jéssica notou as bochechas da jovem se erguendo, além do contorno mais aberto perto da boca. - Eu gosto dele... Mas eu não quero iniciar um relacionamento sem pelo menos eu ter... Visto coisas.

Jéssica franziu o cenho.

- Espera aí: você tá querendo dizer que quer ficar com algum cara?

- Não exatamente isso, porque eu sou tímida demais... Mas pelo menos entender como funciona o mecanismo da paquera. Você acha que eu tô fazendo alguma coisa errada em pensar assim?

- Não amiga! Pelo contrário! Eu acho que você tem que saber também como é que funciona as coisas. Você acha realmente que Leon Santiago, com aquela cara, não deve ter pegado um bocado de mulher? Você também precisa desse momento. Essa necessidade, que pode ser que não venha do coração e sim do corpo.

Francisca respirou profundamente: estava aliviada. Suas dúvidas faziam sentido e Jéssica concordava com elas. A única coisa que faltava era saber como dar vazão a essa curiosidade.

Aparentemente, Pietro, o garçom do bar e restaurante comandado por Jéssica, tinha uma ideia.

- Eu sempre frequentei uma boate no Rio Vermelho que é ótima! Toca tudo, todos os estilos, e todo mundo frequenta, geração Z, Millennials, gen-X...

- O que é isso, Pietro?

- Termos geracionais, dona Jéssica. Depois eu explico. Enfim, a boate é bem movimentada. Mas não é nada enorme, igual a boate desses filmes e romances, é um lugar mais simples: de manhã se não me engano é uma oficina, e de noite é farra.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora