Frágil ovelhinha

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O que você faz quando tem dúvidas sobre algo em sua vida, precisa desabafar sobre uma coisa ruim que aconteceu no trabalho, ou precisa de uma escuta, alguém que está lá por você nem que seja para te ouvir falar alguma merda?

Você recorre aos amigos. Eu costumo fazer isso, apesar de ser uma narradora um pouco incoerente, já que as vezes eu fico falando da minha vida para vocês – algo que não interessa aos leitores, já que o que interessa a vocês é a história que eu estou contando. Mas costumo recorrer aos meus amigos quando necessário, nem que seja para desabafar sobre coisas bem comezinhas. O meu problema é que internalizo mais do que exponho, e eu não recomendo a ninguém.

Não façam isso.

Leon Santiago não fez como a narradora que vos fala: ele foi atrás dos seus amigos para confessar o seu sentimento e buscar resposta para as dúvidas que o afligiam.

Todavia, ele tinha um outro assunto mais urgente a conversar com Alisson Lobo.

- Na verdade, você não precisa me dizer nada. Eu já sei o que aconteceu e o corregedor da polícia civil passou aqui, me olhou com a maior cara de bunda no século, e comentou que tanto Chevalier quanto Raposo continuarão aqui na delegacia. Você nem imagina que naquela noite, quando fui questionar por telefone o motivo pelo qual tinham afastado meus policiais, o mesmo cara lançou uma quantidade de ameaças tão grande que eu pensei que ia sobrar até para minha mãe, minha tia e os meus primos que nem na polícia estão.

- Te entendo, man. Mas já ta tudo resolvido. Ninguém vai encher o saco de ninguém aqui na região. Já bastou o que aconteceu, e agora a imprensa deu as caras, tem a internet metendo hashtag a rodo... Meio tarde pra jornalista aparecer dando uma de herói, mas vá lá.

- Eu tô vendo no jornal da TV. Eles estão sendo bem incisivos, nada de sensacionalismo, Leon. Eu estou respondendo tudo com a maior clareza possível, não tô escondendo nada e ninguém, até porque eu faço meu trabalho, não tô sendo abusivo, não estou tratando ninguém com violência excessiva aqui no bairro. Quem tem que se preocupar não é a gente.

- Você é um cara legal, Alisson. Eu sou um maldito rancoroso. Eu ainda me lembro de alguns jornalistas passando lá na antiga Invasão das Malvinas, andando tudo com nojo e superioridade, se achando acima de tudo aquilo. Alguns dizendo que a polícia tinha que meter bala no bando de vagabundos que morava no meio de um terreno que não pertencia a eles. Eu ouvi isso, ninguém falou pra mim.

- Muitos desses repórteres não trabalham mais nos jornais. Essa nova turma é muito mais combativa, muito mais crítica... Não tome essas frutas podres como o todo. – cruzou os braços, mostrando os bíceps destacados pela camisa xadrez. – Eu sei que você odeia qualquer tipo de autoridade e qualquer tipo de pessoa que tente cobrar você por algum erro ou acerto, mas eles estão fazendo o trabalho certinho.

- É o que eu espero... Eu não tô a fim de ler no jornal de amanhã uma notícia falando que o senhor Otávio era um trombadinha viciado em drogas e que todos os viciados em drogas aqui da região são trombadinhas, quando muitos dos sacizeiros estão sofrendo com algum tipo de transtorno mental e deveriam ser tratados, não jogados em uma prisão. Nesse grupo tem pessoas de bem, cuja vida foi modificada pelo cachimbo. A droga é uma doença que limita o potencial total delas; mas não é o único traço de personalidade que elas possuem.

Alisson olhou o amigo de cima a baixo - ele sempre com a indefectível surrada jaqueta de couro, calças também de couro, coturno por cima da calça e uma camisa branca por dentro da jaqueta. O brinco ainda estava ali, assim como a barba os cabelos desgrenhados, a aparência inquieta. Porém as palavras de Leon possuíam uma tranquilidade que surpreendeu o delegado.

- Eu concordo plenamente com você, meu amigo. Mas... Quem é você e o que fez com o cara altamente cínico que só fazia, sei lá, passear de moto pela rua e fazer sabe-se lá o que você fazia de madrugada na rua?

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora