O rei vingativo

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Este capítulo é uma montanha-russa de emoções.

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A madrugada foi cruel para quem não tinha proteção de um teto. Para quem não tinha onde ficar, onde se esconder, para aqueles que não conseguiram fugir, apenas a proteção do imponderável, do divino, seria a salvação.

Os homens de preto, anônimos por meio de capacetes, gorros, óculos escuros, caminhavam ou circulavam em seus veículos, como se soubessem os pontos onde a polícia e outras pessoas, outros anjos da madrugada como Imaculada, passavam - e seguiram as ordens de seu chefe: eles barbarizaram.

Atiraram nas pessoas que estavam na rua, entre os mendigos que se escondiam do frio da noite debaixo das marquises das lojas fechadas, e as prostitutas que antes de ouvirem os tiros, se mantinham próximas às esquinas aguardando os clientes em busca do pão de todo dia.

- Que porra é essa que tá acontecendo? - Questionou Chico Bala, ele e alguns fregueses tentando fechar o bar sem sofrer com os tiros.

O comerciante percebeu uma das prostitutas, Sheila, tentando correr, usando uma pequena bolsa no rosto como uma forma inócua de proteção. Ele gritou:

- Vem logo, mulher! Corre senão eles vão te pegar!

Sheila mal se importou se o sapato tinha ficado no meio do caminho: ela assentiu à ordem de Chico Bala e entrou no bar, benzendo-se assim que o comerciante trancou o bar e se escondeu com os outros fregueses atrás do galpão.

- O que é isso? Tiroteio com traficante? – Chico Bala estava com os olhos arregalados, assustado com o barulho dos gritos no meio da noite.

- Não, véi! São os homens de preto!

- Tá, me ajudou muito. O que é isso?

- Eles estão aparecendo aqui há meses, tentando tirar o pessoal da ocupação e muito sacizeiro tá falando que eles matam o pessoal lá no largo! Agora tão vindo tudo pra cá. Eu tentei puxar umas meninas, mas... Meu deus, a irmã!

Os olhos esbugalhados do comerciante foram a expressão cristalizada de Chico Bala, tentando conter as palavras que viriam a seguir:

- Minh... A irmã? O que ela está fazendo na rua?

Imaculada ouviu os tiros, e tentava se esconder. Ela também olhou para todos os lados em busca de alguma pessoa conhecida que estivesse em segurança. A jovem encontrava-se longe do convento; se estivesse do outro lado, na Avenida Sete sentido Praça Castro Alves, podia levar algumas pessoas para o lado de dentro e mantê-las protegidas da troca de tiros. Porém, ela passou muito tempo na rua durante as madrugadas para saber que não se tratava de uma troca de tiros: era uma chacina.

Procurou por todos os lados a polícia e arriscou: ao ouvir os barulhos se distanciando, aproximou-se rapidamente de um orelhão que sabia ainda funcionar e ligou para a polícia informando sobre a troca de tiros. A resposta da central era que eles já sabiam disso.

A voz de Imaculada, tentando ser firme, não disfarçava o medo vindo do volume alto, o ligeiro tremor no lábio inferior.

- Por favor venham, eles vão matar a todos!

Ela escutou novamente os tiros a uma certa distância e pior: vozes de pessoas gritando e dizendo que era uma injustiça, que "não mereciam morrer", além de ouvir um ganido. Era um som esganiçado que em qualquer dia, seria um alívio, mas naquele momento eram os últimos atos de um cachorro.

A jovem correu na direção do som, o rosto já molhado, mas não de suor de tanto correr; ela sequer conseguir enxergar o que via à sua frente, por causa das lágrimas que corriam por seus olhos e desciam feito cascata pelo rosto. Ela não podia acreditar no que veria, jamais esqueceu a imagem que cravou em sua retina.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora