Um segredinho que só Leon sabe será revelado hoje.
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Ela tinha 15 anos, e nessa idade todas queriam uma grande festa de debutante, valsar com o príncipe bonito das revistas; ou aquelas que tinham ainda maior poder aquisitivo ansiavam por uma viagem à Disney.
A jovenzinha não queria nada daquilo. Seu presente de 15 anos era algo mais singelo que nem o dinheiro poderia comprar, mas extremamente poderoso.
Ela queria uma família.
Porém, aos poucos, ela percebeu que os adotantes não tinham interesse nela. Ela já tinha 15 anos, já não era mais uma criança engraçada e fofinha. Não havia nada que interessasse aos adotantes, e às vezes, nas noites solitárias em seu quarto simples no abrigo, ela se recordava que em algum lugar da cidade, ela tinha um pai, uma mãe, e sua irmãzinha Ângela. Mas os pais não a quiseram. Eles a impediram de conviver com sua irmã. E ela só queria uma família de presente. Para a menininha, agora uma adolescente tímida, calada e estudiosa, o único lugar onde ela se sentia bem, se sentiria como parte de uma família, era ao lado das irmãs que cuidavam do abrigo. Elas eram um conforto, o último portal - elas nunca a abandonariam.
Foi então que pediu seu presente de aniversário.
Imaculada se viu pensando no dia que definiu seu futuro. Quando ela decidiu se tornar freira, no dia do aniversário de 15 anos. Dez anos depois, ela jamais se esqueceu da decisão que tomara. Foi uma decisão que veio como um agradecimento pelo tempo que as freiras cuidaram dela, pelo amor e carinho, a abnegação devotada à pequena desde que ela chegara ao abrigo. No entanto, os últimos tempos provaram à Imaculada que o seu coração não estava no lugar certo quando ela tomou a decisão que tomou.
As conversas com o padre, o período cada vez mais constante de atividades e missões fora dos limites do convento, mas principalmente o seu coração traiçoeiro apaixonado por um homem proibido para ela do outro lado dos muros do claustro, era doloroso demais para Imaculada.
A memória de Leon invadia as suas noites solitárias como o segredo que ela não poderia falar ao padre. Ele não era apenas um homem que a provocava e fazia piadas. Ele era o homem que fazia sacrifícios, que ajudava, que a compreendia mais do que Imaculada poderia imaginar. Ela, que nunca pensou ser entendida, encontrou um igual. Como não se apaixonar por ele?
Eram aquelas reflexões que passavam pela mente da religiosa enquanto ela retornava de mais uma missão. Ela não foi de madrugada: a jovem estava deixando um viciado em drogas em uma clínica de recuperação, após pedir ajuda à Imaculada para deixar o vício em crack.
Imaculada conversou com algumas pessoas de uma clínica, e deixou o rapaz por lá.
- Eu nem tenho como agradecer... mas eu vou fazer tudo certinho porque eu quero voltar pro meu trabalho, para minha família.
- A única coisa que desejo a você, Rodrigo, é que se recupere e volte a sorrir. Porque temos tantos motivos para sorrir e ser felizes... Fico feliz que entenda isso, meu bom amigo. - ela segurou a mão de Rodrigo e deu um beijo no dorso.
O rapaz, envergonhado, tentou retirar a mão sem sucesso.
- Ô, irmã, minha mão tá cheia de pereba...
- Somos pó no vento, Rodrigo. – sorriu. – Na próxima vez que nos encontrarmos, quero vê-lo limpo, arrumado, e se não tiver empregado, fale comigo que darei um jeito.
Imaculada sabia que o último emprego de Rodrigo foi como office boy, então começou a pensar em oportunidades de vagas em alguma empresa. De repente, passou pela cabeça de Imaculada solicitar ajuda a Leon... Talvez a Manfredi precisasse de um contínuo para entregar documentos, fazer alguns serviços rápidos.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...