Deliciosa presa

949 159 62
                                    

Este capítulo é...

---

Você já ficou alguma vez nervoso ou nervosa sobre lidar com uma coisa que sabia que não ia dar certo, ou que daria algum grande problema, mas não tinha como impedir o acontecimento?

Este talvez seja o sentimento do delegado Alisson Lobo, que coçava ligeiramente a barba recém-aparada em seu barbeiro favorito do bairro, ao perceber Jéssica e irmã Imaculada em frente a ele no escritório da delegacia. A freira, especialmente, vestia-se com uma roupa bem diferente do habitual.

Os cabelos, que ele não conseguia perceber se eram curtos ou em um coque, mantinham-se escondidos em uma boina preta. Ela usava um vestido longo, também na mesma cor, que descia até o tornozelo, escondido por uma bota simples sem salto. O vestido tinha alças largas, e por dentro Imaculada escolheu uma camisa de botões cobrindo do pescoço até o punho. Não havia mais nenhum acessório ou ornamento na jovem, apenas a bolsa de couro separada.

Alisson estralou os dedos, fingindo uma tranquilidade que não possuía.

- Vocês têm certeza de que é uma boa ideia? – voltou-se para a religiosa. - Irmã Imaculada, a senhorita ir dessa forma até a construtora Manfredi conversar com algum representante... Nós não estamos falando de um papo com o sargento Taboada ou com alguma das pessoas que moram na rua; estamos falando de uma empresa grande, de pessoas completamente gananciosas e que vão pisar em qualquer um para conseguir o que querem.

- Eu sei que o senhor está tentando me demover da ideia de ir lá; mas eu acho que conversando com alguém daquela construtora, algum representante, não sei... Tentar convencer a não tirar pessoas inocentes de seus lares... – cruzou os dedos entre as mãos, fechando-as contra o peito. – Não sei se posso estar sendo iludida ou ingênua, mas eu-eu tento pensar que posso ser abençoada com um milagre.

Imaculada parecia irredutível; em especial quando Jéssica entregou a jovem uma boa soma para que ela fosse de táxi.

Adivinhando que algo de muito grave ia acontecer, Alisson mandou uma mensagem para Leon via celular, além de tentar várias ligações ao amigo. Ele precisava saber da chegada de Imaculada e desaparecer do conglomerado por alguns instantes. O delegado apostava que a jovem não sabia de sua verdadeira identidade.

Contudo, Leon parecia não atender as ligações e todas caíam na caixa.

- Puta que pariu, Leon! Agora que é a hora de estar com telefone ligado! Isso vai dar uma merda tão grande...

Enquanto Alisson tentava entrar em contato com o amigo, sem sucesso, Imaculada controlava as próprias emoções e rezava o terço durante o percurso de táxi até a sede da construtora. A jovem não sabia se seria recebida com rapidez por lá, mas esperava tratar com alguém, nem que fosse alguma pessoa ligada à responsabilidade social. De acordo com as pesquisas que Jéssica fez na internet, a empresa, que fazia parte de um conglomerado, possuía um setor ligado à responsabilidade social em ações de incentivo à cultura, às comunidades vulneráveis; e Imaculada inferiu que talvez falando com alguém daquela área, poderia convencer de que seria melhor construir um hotel em outro canto.


Ao chegar na sede da construtora - um sobrado envidraçado e muito bonito, que apesar da arquitetura moderna, não era um prédio imponente. Confundia-se com os outros sobrados no Caminho das Árvores, em especial as lojas de decoração e galerias de arte.

Imaculada ficou estática, boquiaberta, em frente à porta de vidro da construtora. Era incomum para a jovem fazer algo daquele tipo: uma visita, sem sequer ser chamada, sem agendar, e ainda não estar com seu hábito. Por outro lado, ela até achou bom não ir com suas vestes, porque talvez aquelas pessoas não entendessem a profundidade de sua vocação.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora