- Oi, Leon... Você tá bem? Aconteceu alguma coisa?
A voz dele parecia dobrada quando tanto a jovem quanto as pessoas no bar ouviram:
- Francisca, sou eu!
Curiosamente, todos conheciam a voz que estava do outro lado da porta, tanto que Adalberto e os fregueses do bar correram até a porta dobrável, levantando-a para encontrar Leon Santiago em pé, armado, e um homem ao seu lado caído no chão, desacordado.
- Ele morreu?
- Não, na verdade ele vai ser preso.
Francisca correu até Leon, desligando a chamada, e o tocou em seu rosto, ombro e braços.
- Não se preocupe, amor, quem se fodeu foi ele, não eu.
- E por que você estava na rua a essa hora fazendo sabe-se lá o quê?
- Eu faço a mesma pergunta a você, Francisca. Sabia que os homens de preto voltaram pra rua e querem barbarizar de novo? Se não conseguiram levar alguém da última vez, lembra?... – franziu o cenho na direção da jovem. – Agora eles estão com o dedinho coçando!
- Leon, eu não vou deixar de lado minha vida e minha missão por conta dessa gente! Já que você quer que eu tenha um guarda-costas, contrate alguém. Seja meu guarda-costas! Se quiser atirar nas pessoas, atire, mas eu não posso deixar as pessoas que eu sempre estive junto de lado!
- Mas seu Leon tá certo, Dona Francisca - comentou um dos fregueses – As coisas estão perigosas e a senhora tomou tiro da outra vez.
- Oxe, homem, ela sempre teve aqui, desde sempre, e nunca teve medo de olhar na cara dessa gente e desafiar ozotro! – outro freguês discordou. - Ela tem que ficar e o senhor acompanha!
- Em nenhum momento eu questionei a sua presença ou ausência na rua. A única coisa que eu me preocupo é você estar saltitando e circulando sozinha, sem proteção.
- Então venha comigo!
- Obviamente!
Ao saírem do bar, juntamente com os fregueses do bar, encontraram o Sargento Taboada acompanhado de outros policiais, todos armados, e a primeira coisa que Taboada viu foi o homem desacordado no chão.
Não quis fazer muitas perguntas; resumiu-se a:
- De onde veio esse tem quantos?
- Uns quatro amarrados atrás do Mosteiro de São Bento. Desacordados, mas vivos. Recomendo um camburão pra levar essa gente toda.
- Preciso de depoimentos, Leon.
- Taboada, tem muita gente na rua disposta a dizer o que esses caras fizeram ou deixaram de fazer.
O policial voltou-se para Francisca, que ajeitava a boina na cabeça.
- Tudo bem, dona Francisca?
- Sim, sargento, obrigada por perguntar. – com a resposta da professora, ele apontou para Leon, disfarçando um sorriso:
- Dando muito trabalho?
- É mais fácil eu dar mais trabalho que ele, sargento.
A pedido de Taboada, Leon e Francisca pegaram carona em um carro da polícia até a praça da Piedade, onde estava uma moto que era muito familiar à jovem.
Francisca procurou dois capacetes; só encontrou um.
- Onde está o outro capacete?
- Eu gosto da liberdade e do rosto no vento.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...