O título desse capítulo é um spoiler?
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Francisca havia acordado de um longo sono, mas não se lembrava em que momento ela chegara na casa que dividia com Jéssica, tomou banho e colocou sua roupa de dormir.
A última coisa que ela se recordava foi justamente o momento em que ela sentiu algo esquentando suas costas. O impacto de um tiro, uma dor que ela nunca pensou sentir em toda a sua existência. A carne queimando por dentro dela era algo que Francisca jamais esqueceria.
Depois, a jovem sentiu um impacto que a fez não se lembrar mais do que ocorrera depois.
Era por essa razão que Francisca estava tentando se lembrar como ela retornou para casa após ter levado um tiro, caído no chão e não se lembrar de absolutamente nada.
Talvez porque aquela não era a sua casa.
Ela só sabia disso porque aos poucos, enquanto abria os olhos sentindo uma dor nas costas que parecia não terminar nunca, uma dor de cabeça a queimando tanto quanto a bala que entrara em seu corpo, ela olhou para cima, os olhos um pouco enevoados e turvos tentando enxergar o que estava à sua frente.
Francisca viu um teto meio cinzento que não se parecia nem um pouco com o teto do quarto que ocupava na casa de Jéssica.
Pelo contrário, havia algo... Um alto relevo, como se ela estivesse em um lugar muito diferente. Seu corpo tentou se mexer; porém, a dor era tamanha que a jovem preferiu se manter deitada, percebendo finalmente que estava coberta por um edredom bem quente enquanto sentia um vento passando pelo rosto. Um vento frio que indicou a Francisca da presença de ar-condicionado no aposento.
Tentou se aninhar naquele edredom, que percebeu aos poucos ser de cor cinzenta, à medida em que os seus olhos começavam a se acostumar com o espaço ao mesmo tempo que ela tentava superar as dores no corpo. Virou ligeiramente a cabeça de um lado a outro e continuou a não reconhecer onde estava. Sim, era um quarto, mas não de hospital. Ela não sabia onde estava, não fazia ideia e... "que roupa é essa?", sentiu Francisca enquanto suas mãos lentamente tocavam o tecido do longo vestido que ela usava.
Definitivamente, aquela não era sua roupa de dormir, tampouco a roupa que ela usara durante a madrugada.
Por falar em madrugada... Era dia ou noite? Tentou se encostar na cama e tentar descobrir onde estava a janela, mas a dor era tamanha que para Francisca foi impossível.
De repente, a porta do quarto se abriu e ela percebeu uma pessoa chegando até onde ela estava. As palavras da jovem saíram com muita dificuldade, mas com toda a certeza que vinha em seu coração:
- Le... Le-Leon...? Co-como... O... Ai, minha... Cabeça... Que dor...
- Não faça esforço, Francisca... – ele deixou uma bandeja com algo cujo cheiro aproximou-se rapidamente das narinas da jovem na mesa ao lado da cama e se colocou na ponta, levando uma das mãos à testa dela. – Você ainda está se recuperando do tiro e da pancada na cabeça.
- Eu... Ima... Imagino... Mas... Por... Por que... Aqui... Onde eu... Estou?
Um meio sorriso escondido pela barba.
- Bem... Você está onde o leão descansa.
Não era daquela forma que Leon Santiago queria mostrar o seu apartamento e parte da sua vida a Francisca. Contudo, por conta da situação na Avenida Sete, aquela foi a única opção que ele encontrou: trazê-la até um lugar mais protegido que o centro da cidade.
Em tese, não era para Francisca acordar naquele instante – Leon precisava se preparar e explicar o que aconteceu e o que ela estava fazendo em sua casa.
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O Leão e a Ovelha
RomanceNas ruas do centro de Salvador, onde marginalizados, perseguidos e miseráveis não têm chance, é a voz doce e o carinho suave da irmã Imaculada o último fio de esperança no qual eles vão se agarrar. Até mesmo a polícia, representada pelo delegado Lob...