O ciclo da vida

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Que saudades de escrever cenas das tretas no conglomerado...

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Você gosta de reuniões de trabalho?

Eu costumo participar de reuniões comendo algo ou tomando café, porque fico sempre sonolenta. Não me pergunte a razão, eu fico.

Se as reuniões tivessem o nível de tensão, angústia e intriga que sempre ocorriam no núcleo-duro da Manfredi, de uma coisa era certa: eu sempre levaria um balde de pipoca e refrigerante.

Talvez este fosse o espírito de um dos participantes da reunião ocorrida naquela manhã, onde Benício, sentado na ponta da mesa, parecia bem à vontade em sua posição de dono – como ele se considerava. À sua esquerda, Luiz Otávio observava o executivo com uma expressão neutra; internamente, ele se preocupava com o que iria acontecer dali a alguns instantes – ele não sabia como a situação posterior seria explicada, porque a reação de Benício era óbvia para o advogado.

À sua direita, a secretária e assistente de Benício, Sandra, com o notebook ligado e o processador de texto já com as informações da Ata e a data do encontro. Os diretores estavam todos presentes, fechando todo o espaço da sala de reuniões. A maioria aguardava a chegada do último componente.

- Leon é sempre atrasado... - Benício tomou um gole d'água, aguardando o efeito de suas palavras diante dos outros diretores. – Um absurdo. Inaceitável que uma pessoa dessas tenha tanto poder dentro de um conglomerado sério e honesto.

- Sei que está triste por minha ausência, mas cheguei para colocar um sorriso em seu rosto. - Leon surgiu com o seu jeito informal, usando uma jaqueta de couro, camisa preta por baixo e calça de couro apertada; além de um par de botas de coturno que não indicavam "homem de negócios" e sim "motoqueiro rebelde".

Todos observaram a chegada de Leon, engolindo em seco, porque ninguém sabia o que ele falaria ou as revelações que traria. Nenhuma reunião na Manfredi terminava do jeito que começou.

Ele levou a mão aos cabelos, penteando-os ligeiramente, e sorriu. Tirou de dentro da jaqueta algo que parecia um documento dentro de um envelope.

Sorriu na direção de Sandra, a secretária, para a irritação de Benício.

- Você não está aqui pra paquerar funcionários, e sim participar de uma reunião.

- Sou eu mesmo quem faz isso, Benício? – manteve o silêncio, encarando o primo, que desviou o olhar, irritado.

Leon deslizou o documento na direção do executivo, que observou o envelope, um pouco incerto se abriria ou não.

- Sugiro que abra, porque depois dessa informação, o seu mundinho perfeito vai desabar.

Benício franziu o cenho, sem entender do que se tratava aquela informação. Porém, assim que tirou os papéis dentro do envelope, sua face ficou sanguínea. Uma das mãos se fechou em formato de punho, batendo repetidamente na mesa.

Todos os diretores não compreenderam a reação de Benício, mas Leon parecia bem satisfeito em elucidar:

- O office boy vai entregar pra vocês as cópias agora... - ele fez estalos com os dedos e logo apareceu um rapaz, com uniforme azul, usado pelos jovens aprendizes da Manfredi, com vários envelopes, entregando com rapidez aos diretores.

- Obrigado, Manoel. Agora pode ir. – disse ao jovem, que respondeu com um aceno de cabeça e saiu correndo dali.

Todos leram ao mesmo tempo, tendo reações distintas. O único que não parecia afetado pela notícia era Luiz Otávio, e logo Benício percebeu o comportamento do advogado.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora