Herança

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Oi, pessoas! Esse capítulo chegou hoje porque ontem eu estava tão cansada que dormi em frente ao computador. Mas hoje sai capítulo novo de "Ouro de Sangue" também, então será um sábado agitado haha

Agora, é hora de descobrir o teor da conversa entre Francisca e Ângela. Como este capítulo é mais focado em questões emocionais, decidi deixar uma coisa que estava no planejamento para o próximo capítulo.

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Era estranho para Francisca conversar com parte de seu passado, talvez com a mais inocente das lembranças: Ângela. Ela era sua bonequinha, cuidava dela, penteava seus cabelos, era a pessoinha mais importante para Francisca quando ela era pequena.

Agora, Ângela era adulta, crescida, parecia bem saudável, de aparência tranquila. A professora se viu imaginando se os pais tivessem sido amorosos também com a primogênita e se responsabilizassem por Francisca, as duas cresceriam como melhores amigas.

Mas o "se" não fazia parte da equação.

- Foi meu pai que comentou que você circula por aqui fazendo ações de caridade. – Ângela falava "meu pai" com naturalidade, enquanto Francisca não enxergava naquelas pessoas nenhum tipo de relação ou sentimento positivo. – Ele e minha mãe estavam meio temerosos em contar sobre você.

- Eles nunca falaram então que eu era sua irmã mais velha. – comprimiu os lábios sem batom ou gloss. - Eu sempre estive com você quando era bebê. Você era minha bonequinha.

- Eu sempre tive a impressão de que existia mais alguém em minha casa, alguma pessoa que estava sempre do meu lado, mas eles só falaram que era viagem da minha cabeça. Algum tempo depois, eles se separaram, minha mãe casou com tio Danilo, enfim... É... Meu pai disse que você dá aula, que você era freira e depois você virou professora.

- Sim, eu era freira. Fiz parte da congregação das freiras mercedárias, que fica aqui na Avenida Sete. Logo depois, eu deixei o claustro, abandonei o hábito e passei a trabalhar como professora.

- Por que você deixou a vida de freira? Sempre achei que esse tipo de coisa era uma decisão sem volta.

- Em tese é, mas... Coisas de ordem pessoal aconteceram na minha vida.

Ângela parecia interessada, os braços apoiados na mesa e o ar curioso; porém, Francisca era mais cautelosa. E se aquele comportamento gregário escondesse que a caçula revelaria suas histórias e seus segredos para os pais biológicos?

- Você é professora de matemática?

- Não, filosofia.

- Eu sempre tive muita dificuldade com disciplinas de humanas, sempre curti mais Matemática, deve ser por isso que tô estudando ciências contábeis. Acho que isso da contabilidade tem até a ver um pouco com meu pai, sabe, ele sempre foi focado em números, abriu esse bar...

As duas jovens estavam na parte de fora do bar de Chico Bala, nas mesas colocadas no passeio, mas quem as serviam era outra pessoa, uma garçonete. O comerciante não queria interromper a conversa ou trazer a sua presença naquele lugar, pois era uma oportunidade das duas se conhecerem e se reencontrarem, algo que ele e sua ex-esposa Sarah impediram – por negligência, ignorância ou imaturidade. As coisas seriam difíceis com duas filhas, mas poderia ter dado certo. Na verdade, eles já tinham melhores condições no período em que deixaram Francisca no orfanato.

Teriam sido uma família, mas eles não eram as melhores pessoas naquela época.

- Eu sempre preferi Filosofia, História, Geografia.

- Definitivamente, a gente é muito diferente. Minhas notas nessas disciplinas sempre foram horríveis! – riu. - Agora, por que que você prossegue com essas atividades... Assim, de madrugada... Não é perigoso? Tipo, minha mãe e meu pai realmente nunca foram as pessoas mais altruístas do universo, mas quando eles fazem esse tipo de ajuda, eles fazem de dia. Não de noite.

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora