No céu de Salvador

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Chegamos ao último capítulo de "O Leão e a Ovelha" e é hora de ver como estão as pessoas que nós acompanhamos desde o começo do ano...

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- O que você acham que aconteceu quando o corneteiro Lopes tocou a corneta indicando que ao invés de recuar eles iriam avançar?

- Os portugueses fugiram achando que nossas tropas tinham reforços?

- Isso mesmo, Clarice! Em tese, as forças baianas não eram páreo para as forças portuguesas, só que este errinho do corneteiro Lopes acabou fazendo que os portugueses achasse que os baianos estavam com a corda toda, aí eles acabaram fugindo.

- E aquela história que Maria Filipa meteu porrada nos portugueses com cansanção, professor? Conta essa!

- Como assim, professor?

- Calma, calma que eu vou contar a história. Mas primeiro, a gente precisa almoçar e depois vamos até uma praia aqui na ilha pra entender melhor esse B.O.

O professor de História daqueles alunos do colégio público que ficava no Bairro da Paz era o mais querido de todos. Ele sempre preparava aulas práticas em vários lugares da cidade, visitas guiadas a museus; e aquela visita guiada pela ilha de Itaparica, com tudo pago, era uma aula in loco para falar um pouco sobre a guerra de Independência do Brasil na Bahia.

Houve uma grande negociação entre pais dos alunos e o próprio professor, já que a escola não estava muito interessada em fazer esse passeio. Porém o docente não se deu por vencido e foi bastante categórico:

- Até onde eu me recordo, a parceria público-privada dessa escola com a minha empresa permite que eu faça várias coisas que me dão vontade. E eu vou levar os meninos do Médio a Itaparica. Além disso, o professor de Matemática está pedindo um novo laboratório, a professora de Biologia comentou que o microscópio está quebrado... E obviamente eu vou ajudar. Mas vocês precisam se ajudar e não atrapalharem o andamento da classe.

A diretora daquela escola não era mais a sua antiga professora, que havia se aposentado e aceitava todas as ideias que ele propunha, até as mais estranhas. Já a nova gestora era do tipo que já estava há anos no serviço público e não via mais futuro naqueles alunos, tampouco no ensino. Entre algumas discussões até acaloradas que faziam até mesmo o secretário de educação se envolver, a diretora acabava aceitando o que o professor fazia por duas razões: a primeira era por ele ser funcionário público e ter estabilidade no emprego.

O segundo motivo era porque ele era excelente em sua função: a melhoria na infraestrutura possibilitada pela parceria com a empresa do professor gerou dividendos na escola: a instituição tinha as melhores notas da cidade entre os colégios públicos, por vezes batendo de frente com colégios particulares de renome.

Mas havia uma razão interna: ninguém conseguia ir de encontro a Leon Santiago.

Ele estava ali realizando um sonho: dar aulas de história, o que ele sempre quis fazer, mas as maquinações de seu falecido pai impediram. Conseguia se dividir bem entre a rotina como professor e suas visitas esporádicas à sede do conglomerado Manfredi, porque ele precisava saber o que acontecia, participar das reuniões, e controlar os ânimos. Todas as reuniões eram sempre tensas, porque agora o grupo de diretores se incomodava em lidar com representantes cada vez mais assertivos dos trabalhadores que possuíam parte das ações da empresa.

O voto de minerva era sempre de Leon, e geralmente ele ficava do lado dos operários.

Enquanto ele lecionava – algo que lhe dava real prazer e realização – Luiz Otávio o representava. O advogado protelou sua aposentadoria, mas já preparava um sucessor: uma advogada jovem, que Leon tinha extrema confiança, e que cuidaria de toda a parte jurídica do conglomerado, além de...

O Leão e a OvelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora