Capítulo 2

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— Desde quando você tem isso? — Meu pai questiona. — Essa parada de curar ferimentos?

— Sei lá... eu nem sei como exatamente uso isso... — Coloco as mãos nos bolsos — é estranho, mas eu me sinto muito mal sempre que uso. Não que eu tenha usado muitas vezes. Essa foi a terceira. Nunca usei eu em ferimentos grandes assim. Não é à toa que não recordo de nada o que aconteceu depois. Eu desmaiei. — Eu me jogo no sofá me sentando de forma largada.

— Acho que já passou da hora de fazermos alguns testes para entender melhor sua individualidade. Você não devia nem ter elétrons negativos e agora isso? — Me olho de canto. Preocupado.

— Acho que pode ser bom... — Dou de ombros. Suspiro.

— Ei, fica para baixo não. Você não fez nada de errado. — Ele senta do meu lado e passa o braço pelo meu ombro e bagunça mais o meu cabelo. — Se você tivesse lutado com o vilão, poderia arrumar um problemão, mas nem teve essa chance. — Ele ri tentando me animar com um abraço.

— Espero, não arrumar problemas no colégio também...

— Provavelmente não. — Ele se levanta com um pulo. — Eu comprei algumas coisas para gente fazer um belo café da manhã. O Shoto está aí né? — Coloca as mãos na cintura ficando em minha frente. — A Fuy-chan disse que ele não estava em casa, quando fui levar ela lá hoje cedo. Então imaginei que estivesse aqui.

— Tá dormindo no quarto de hóspedes... ele queimou a largada e bebeu todas, para quem não queria ir, ele meteu o loco total.

— Só sobrevive nesse mundo quem é loco, passarinha. Agora, vamos cozinhar! — Me puxa do sofá para que eu me levante. Segue para cozinha. Me arrastando junto. Assim que desce os três degraus de vidro que levam a cozinha ele se vira para mim. — Não esquece de agradecer ao seu amigo que te carregou até aqui. Não deve ter sido fácil com suas asas tão grandes assim, aproposito, vamos apara-las depois. Vai atrapalhar seu voo. — Ele sorri fazendo uma tesoura com seus dedos.

— Se eu soubesse quem foi...

— A ressaca está tão forte assim? — Ele zombou. Reviro os olhos sorrindo.

— Podia ter trazido a Fuy-san. Seria bem-vinda. — Eu passo por ele abrindo as sacolas e vendo o que ele trouxe.

— Ela tinha compromisso. — Ele se senta no banquinho do balcão. — Foi visitar a mãe dela.

— A mãe dela não mora com eles? — Questiono.

"Pensando bem...

Apenas o Endeavor, Natsuo, Shoto e a Fuy estavam presentes naquela noite que fomos a casa dos Todoroki.

Será que os pais deles são divorciados?"

Meu pai se mantém em um silêncio estranho. O encaro por cima do ombro. Vejo uma de suas penas vindo para a cozinha e ele olhando para trás. Na direção da escada talvez.

— É um caso complicado... precisava ter certeza de que o Shoto-kun estava dormindo ainda. — Ele diz sério. Um tom de voz que não é nada comum na personalidade de meu pai. Nem mesmo combina com ele. Me viro para ele com a sobrancelha arqueada. — É segredo, sim? — Concordo com a cabeça. E então ele conta algo que me deixa sem palavras. A trama da família Todoroki. Enquanto preparo o café da manhã. A infância de Shoto e seus três irmãos mais velhos. Como o mais velho morreu. A origem da cicatriz de Shoto. O desconforto de Natsuo ao se digerir ao pai.

"Acho que é por isso que eu e Shoto nos damos tão bem...

Temos cicatrizes criadas por nossos familiares. E igualmente odiamos eles. No meu caso, o meu ódio é jogado totalmente aos ombros daquela puta que meus desgraçados irmãos chamam de mãe.

Isso me enoja

E sem querer, eu e o Shoto entendemos um ao outro como ninguém."

— Não conte a ninguém, passarinha. — Brinca com um anel entre os dedos.

— Claro que não. É muito mais fácil, você jogar isso aos quatro ventos. Inclusive como pro-hero não deveria fazer algo a respeito. O que Endeavor fez, afronta uma série de leis do direito humano. — Continuo misturando a massa da torta. De costas para meu pai.

— Precisaria de mais provas do um relato assim. Especialmente pela posição de Endeavor como número dois. Com a Rei-sama em uma clínica o relato dela pode ser anulado. Se for realmente avaliada com problemática. Apesar de que pode ter sido um ato culposo ou não. Ela causou a cicatriz do Shoto-kun. — "Infelizmente ele tem razão. " — Vamos mudar o assunto. — Declara. — Não será bom se o Shoto-kun acordar e estivermos falando da família dele. — Assinto com a cabeça.

Ambos ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto me concentro no que faço. Ao terminar eu confirmo o sabor do recheio da torta.

— Vai ser de chocolate mesmo? — Me refiro a torta.

— Claro. Afinal quem não gosta de chocolate. O Shoto-kun deve gostar. — Um tom infantil. Como uma criança esperando que a mãe lhe faça um doce.

"Por que tô sentindo que ele não gosta?"

Riu comigo mesma.

— Ei passarinha. — Chama com seu tom de voz de sempre.

— Hum?

— Você viu quantos seguidores conseguiu em menos de vinte quatro horas? Inclusive, suas amigas são demais. Quem diria que minha passarinha teria uma rede social.

— Não vi, por quê? E eu fui obrigada...

— Como assim você não viu? — Ele questiona surpreso e incrédulo. — Eu fiz todo mundo da agência te seguir no Instagram. — Faz seu drama.

— Tá. tá eu vejo. — Mando minha pena para buscar o aparelho. Enquanto eu termino o recheio da torta e passo para a forma já untada com manteiga.

Meu celular chega. Raspo a bacia com chocolate, antes de pegar o aparelho. Entro no aplicativo. O ícone que o Kirishima havia dito que era de mensagens estava com uma bolinha escrito "+100" em cima. O coração ao lado tinha uma bolinha menor — lembro-me do Kirishima ter dito que essa bolinha aparecia quando tinha notificação não vista.

"É no perfil que se vê o total de seguidores, se não me engano"

Na barra de ferramentas eu clico na minha foto de perfil. Espero carregar. Quando carrega me assusto com o número que marcava em baixo de "Seguidores".

— Feliz 5k! — Meu pai grita. Me viro para ele sem entender o alvoroço. O mesmo estoura um lança confete que suja toda a cozinha com os papéis brilhantes e coloridos que voam pelo ar. Ele joga o lança confete para trás e levanta dois balões. Um com formato de "5" e o outro "K". E como senão fosse o bastante, ele assopra um apito de festa.

— Mas que caralhos? — Deixo a colher que estava em minha outra mão cair.

— Parabéns S/n-chan! — Fuyumi aparece de repente ao lado de meu pai. Estava abaixada atrás do balcão. A de cabelos brancos gira um reco reco com uma mão. Segura um bolo na outra e assopra um trompete-chife. Mais balões sobrem indo parar no teto.

— Santo frango frito...

Plus Ultra - Fanfic Bnha 2° temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora