Capítulo 44

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Eu pulei da cama assustada antes do sol sequer pensar em nascer no horizonte.

Olhei ao meu redor vendo a escuridão do meu quarto em volta.

Me sentei embrulhada nas asas. Um breu estava na minha memória. Mal lembrava da noite passada. Alguns feixes apenas...

Eu perdi o jeito de lutar com a Mirko...

Me levantei sentindo o corpo um pouco dolorido ainda. Mas muito melhor do que ontem quando terminei meu treino.

Fiz meus alongamentos, já estava desperta, não conseguiria voltar a dormir.

Desci na ponta dos pés para não acordar meu pai que parecia resmungar sobre coxas de frango assadas em seu sono. Não contive o sorrisinho e encostei a porta de seu quarto, logo seguindo direto para o lado de fora.

A lua ainda residia no céu. Nenhum sinal de que iria sair dali tão cedo.

Com minha cesta no braço eu colhi algumas coisas da minha horta e voltei para dentro de casa.

Na cozinha eu fiz uma batida de frutas com leite, algumas sementes e aveia. Bebi enquanto fazia alguns exercícios de ioga ao lado da piscina de carpas. Para relaxar, estava precisando.

A essa altura, eu conseguia enxergar um pouco. Já eram quase 5 da manhã.

Quando terminei, resolvi ficar ali e respirar aquele ar fresco e gelado da manhã, enquanto meus pés repousavam dentro da água mais gelada que o próprio ar que entrava nos meus pulmões e saia esbranquiçado pelas minhas narinas.

— Odeio a ansiedade...

Suspirei. Uma névoa branca saiu como chamas de um dragão por meus lábios.

Me levantei e sai de dentro do lago espantando as carpas com o movimento brusco.

Sequei as pernas antes de entrar em casa. Com uma toalha trazidas por minha pena. Voltei ao quarto. Papai ainda dormia tranquilamente quando passei por seu quarto.

Fechei a porta da escotilha e caminhei até minha cama quando um dos quadros na parede me chamou a atenção por estar mais iluminado que os demais pelas luzinhas acesas.

— Acordada tão cedo. O sol nem nasceu.

Os resmungos de Raynor se ajeitando na cama de cachorro que ele divide com Malfoy, ou deveria...

— Ei trapo velho, vem aqui.

Mandei ao pegar o quadro. Olhei com atenção a pintura de um carvalho de iluminação contrária. Como não reconhecer meu primeiro trabalho iluminista...

— O que você quer?

— Da uma olhada nessa porcaria. Foi o primeiro que pintei usando luz e sombras

Coloquei o quadro no chão para a pelúcia analizar como eu mandei. Enquanto isso voltei para minha cama e peguei o celular.

3 chamadas perdidas. Uma do Eijiro, as outras duas, um número desconhecido.

17 mensagens não vistas. 6 do Eijiro, 11 do mesmo número desconhecido.

[Eijiro]
— Takami-chan! Tudo bem?
— Como foi seu treinamento com sua madrinha
— Deve ter sido incrível treinar com uma profissional como a Mirko!
— Eu queria poder ficar a noite conversando com vc. Igual ontem
— Você já deve ter dormido...
— Boa noite, princesa

Não pude dar um sorriso lendo o apelido que ele havia me dado, enquanto conversamos por chamada de voz na outra noite.

— Mas que merda é essa? Você pintava isso quando? Espero que você tivesse 10 anos quando fez isso. É um lixo da iluminação.

Revirei os olhos com as críticas nada construtivas que eu já esperava vindas do lobo de pano.

Apenas ignorei enquanto respondia o ruivo que provavelmente dormia agora.

— Por que eu tive essa ideia mesmo? Para que?

— Tá falando da gincana?

— Uhum

— Tá se arrependendo?

— Não. Eu só... Não sei porquê faço algumas escolhas às vezes. Não sei se consigo terminar o desafio. Eu fiquei toda ferrada com o treino da Mirko ontem. O que eles vão me passar pode realmente ser ainda pior

Suspirei largando o celular, começo a morder a ponta da unha e me encolhi entre minhas asas.

— Ah deixa para lá. Odeio tédio. Ficar refletindo, não é pra mim.

Grunhi frustrada e preocupada. Um sintoma ansioso claramente.

— O que achou da minha evolução artística?

Mudei de assunto.

— Uma melhora notável. Mas tem algo aqui que você pode usar, talvez.

— Acredito que não... já faz quanto tempo... eu vou fazer 17... Nasci com 12... sai do Brasil depois dos 13... Então a depressão... Eu tinha 13, ou talvez, já tivesse 14 quando, fiz essa porcaria...

Refleti encarando o teto. Um raio fraco de sol ofuscado pelas luzinhas douradas.

— 3 anos...

— 2 na verdade. 17 apenas ano que vem. Nem conta ainda

Dei de ombros.

— O que tem aí?

Dei um pulo da cama me abaixando ao lado do lobo e ele levantou um pouco o quadro para me mostrar a lateral. Havia uma escrita quase inexistente pelo tempo. Notei que era uma tinta guache. Mas meus olhos de águia leram bem o que tinha ali.

— "Thunderstorm"

O meu antigo nome de heroína...

— Que que tem isso?

— Não pode usar isso como assinatura de artista?

Eu tinha esquecido disso. Minha assinatura de artista. Para entregar o quadro para o Katsuki...

Me sentei no chão. Olhando aquele nome ali. Eu tinha desistido daquele nome por ter sido escolhido por minhas amigas. Mas mesmo depois de tanto tempo nenhum outro pareceu se encaixar para mim... e nesses últimos anos, nenhum outro poderia impor mais o que que sou. Uma tempestade de raios.

Me levantei rapidamente. O quadro foi de encontro ao seu lugar de antes. Puxei minha mesa de trabalho que fica escondida dentro da cama. Ou embaixo dela, como uma gaveta escondida. Um ânimo tomou conta de mim.

Peguei folhas de papéis, uma caneta, um quadro em branco um pouco empoeirado, tinta preta e um pincel fino.

— Você é um assistente muito bom quando quer, sabia?

Disse para a pelúcia. Logo ele estava sobre minha mesa.

— Não precisa dizer o óbvio, águia trouxa.

Revirei os olhos.

Respirei fundo. Inalando a inspiração para dentro de mim. Peguei a caneta e passei a encher a folha das mais diferentes formas, com meu crítico pessoal dando "dicas".

"Melhore isso."
"Mude aquilo."
"Essa tá horrível."
"Aceitável esta"
"Infantil demais"
"Nem dá para ler"
Entre diversas outras opiniões.

Alguns minutos depois eu tinha 10 folhas de possíveis assinaturas para usar. Foi quando minha mão pediu por descanso e meus ouvidos também.

— Hora de preparar o café.

Informei a Raynor e desci de volta a cozinha para fazer o café da manhã caprichado. Eu ia precisar. E papai também. Mas agora eu estava mais empolgada do que quando acordei.

Plus Ultra - Fanfic Bnha 2° temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora