Capítulo 1

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Maria Clara

Não é tão simples e fácil como parece, ainda ter que ouvir "Nossa! Mas você é filha do Ret, o rei!". Justamente por isso. Ser filha do "rei" coloca um peso nas minha costas que eu não escolhi carregar.

Apenas nasci no meio de tudo isso, com um alvo nas costas e uma coroa na cabeça, a coroa do tráfico. Apesar de tudo eu amo o pai que Deus me deu, apenas meu pai, que deu tudo de si e muitas vezes pagou com sangue pra me proporcionar algo de bom.

Diferentemente da mulher que me carregou por 9 meses na barriga e abandonou assim que teve oportunidade, Ágata. A dita cuja "mãe" me deixou assim que me deu à luz, desde então tem sido apenas ele por mim. Não sendo injusta, tive a minha tia Bruna, a mulher da minha vida.

Me criou como filha e eu a considero minha mãe. Minha confiança está toda depositada nela, da primeira menstruação ao primeiro beijo. Minha conselheira e confidente, devo tudo a essa mulher.

Cá estou eu, penteando os meus cabelos para ir pra escola. Terceiro ano do ensino médio é um pouco mais complicado do que parece.

Bruna: princesa? tá pronta? - Apareceu na porta do meu quarto.

Meu tão famoso vulgo, a filha do rei, obviamente uma princesa. Começou carinhosamente entre a gente, mas todo o morro me chama assim, não que eu tenha muita intimidade com as pessoas daqui, me acham metida por não frequentar os bailes, segurar armas ou usar drogas.

Eu não gosto disso, bailes funks com fuzis pra cima e pessoas cheirando pó, criando um ciclo e vicio eterno. Nunca pisei em um baile e assim pretendo continuar.

Maria: estou pronta
Bruna: então vamos, to te esperando no carro

Não estudo na escola do morro e sim numa das melhores escolas particulares do Rio de Janeiro. Como eu disse, meu pai sempre quis me dar as melhores oportunidades, que infelizmente o governo não dá, o sistema é falho.

Minha vida se resume em escola e casa, raramente na sorveteria do morro. Essa é a maior briga entre eu e o meu pai, na cabeça dele eu nego as minhas origens, nego a vida que ele leva. Quando na verdade é só o meu jeito de ser.

Caminhei até a sala, encontrando o famoso rei contando uma pilha de dinheiro.

Ret: bom dia - Passei direto.

Entrei no carro da tia Bruna e ela deu partida para a escola.

Eu e meu pai tivemos uma briga feia ontem. Sábado, amanhã, vai ter uma festa, como uma matinê, no asfalto. Ele não quer me deixar ir, o que gerou uma confusão tamanha, mas a tia Bruna está tentando convencê-lo. Alguns colegas de sala vão, principalmente o Lorenzo, meu primeiro e único amor.

Lorenzo é simplesmente perfeito e o garoto dos meus sonhos, nem sei como mereço tanto. Foi o meu primeiro beijo e quero que permaneça dessa forma, o único.

Chegamos na escola, me despedi da minha tia e entrei, dei bom dia aos funcionários da portaria e me dirigi ao pátio. Encontrando a Alessandra me aproximei.

Maria: bom dia Alê
Alessandra: bom dia gostosa

Minha amiga Alessandra que conheci aqui no colégio, porém também mora no morro. Assim se vê que eu não saio de casa. Ela é bolsista aqui na escola porque mereceu muito e lutou para isso.

Filha do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora